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sexta-feira, setembro 30, 2005


Grapaçaspas aopao
Mapanupuelpel (quepe mopo opofeperepeceupeu)apa lepebrepre apandapa depelipicipiapadapa compom epestepe lipivropro.

Cilada Triangular da Craig Rice


Upumapa sepenhoporapa épé apassapassipinapadapa epe trêspês cripianpançaspas quepe moporampam nupumapa capasapa vipizipinhapa depecipidempem inpinvespestipigarpar opo cripimepe.


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outono
mais uma tradução caseira da lebre


As folhas nunca sabem
qual folha será a primeira a cair.
Será que o vento sabe?


Soseki Natsume


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quarta-feira, setembro 28, 2005

Parabéns
Os meus pais fazem hoje 37 anos de casados.


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(Apetece-me escrever isto, mesmo sabendo que eles não o vão ver. É uma maneira de homenagear duas pessoas que eu adoro.)
Hoje recebi prenda linda (o “The Complete Poems ” da Anne Sexton) de um grande grande amigo
Aqui fica uma tradução “caseira” de um poema fantástico dela

Sou o único actor.
É difícil para uma mulher
interpretar uma peça inteira.
A peça é a minha vida,
o meu acto único.
O meu correr atrás das mãos
e nunca as apanhar
(as mãos não se vêem -
ou seja, estão nos bastidores)
Tudo o que faço em cena é correr,
correr para acompanhar
mas sem o conseguir.
-
De repente paro de correr.
(isto avança um bocado com o enredo)
Faço discursos, centenas,
todos orações, todos solilóquios.
Digo coisas absurdas como:
ovos não podem discutir com pedras,
ou, mantenham os vossos braços partidos dentro das mangas,
ou, estou aqui de pé mas a minha sombra está torta.
E tal e tal.
Muitos buhs. Muitos buhs.


Apesar disso eu continuo para as ultimas deixas:
Estar sem Deus é ser uma cobra
que quer engolir um elefante.
A cortina cai.
A assistência apressa-se a sair
foi uma má interpretação.
Porque sou o único actor
e há poucos humanos cujas vidas
farão uma peça interessante,
não concordam?

Anne Sexton



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terça-feira, setembro 27, 2005

As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas fluem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas


Luiza Neto Jorge


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segunda-feira, setembro 26, 2005

eles não sabem que não há nada senão
o sono no limite das palavras

a pingar como chuva no passeio constante
do medo

o facto é que não há nada senão
o sono

não tenhas medo quando caminhares
nesse fim de noite que é o “eu” do
poema

gastar palavras para quê?
as palavras são sempre as mesmas

eue



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domingo, setembro 25, 2005

Eles querem
que eu faça o que faço

Eles querem
que eu diga o que digo

Eles querem
que eu seja o que sou

Eu não quero
fazer o que faço

Eu não quero
dizer o que digo

Eu não quero
ser o que sou

Hoje estou
amanhã sou

E depois
que levem o melhor
que para mim
tanto me faz.


Henrique Risques Pereira



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sábado, setembro 24, 2005

a lebre descobriu no bau das tralhas passadas o primeiro poema/texto/baboseira (riscar o que não interessa) que escreveu


tarde chuvosa sombria com
Las Vegas como destino de sonho
ideal, de pelúcia e flamingos
ouvindo pink martinis e vendo cowboys de neon
fumando lucky strikes deleitando-se com o striptease
de showgirls manhosas Barbies à procura do seu ELVIS

por entre as nuvens de fumo
de hotéis de luxo decadente
com lustres estilhaçados onde todos
os princípios barrocos são cortados
ou terminados no tapete ou na cama

dormir ou não dormir

eis a velha e eterna questão
que termina num cabide com ou sem roupa
de perfil por cima de igrejas coloridas
com casamentos ou farsas de tule
cultos mediáticos
católicos ou talvez não
Serão eles marítimos?
embarcações drifting up no meio de um mar de cimento

marés vivas com pin ups de vermelho
e canastrões embrutecidos

por que me escreves?
Quem és?
Será que importa? Talvez!

sim ou não?
mas como a curiosidade e os gatos são eternos
amigos amantes e ou rivais
eu estou morta ou talvez não
por saber as respostas ou perguntas!
O puro prazer da escrita e leitura suplanta por vezes o seu objectivo
velha questão literária
a forma ou o conteúdo
batalha campal entre formalistas
russos
ou talvez não.


eue


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sexta-feira, setembro 23, 2005

porque há petições que valem muito a pena aqui fica a ligação para a PETIÇÃO abaixo transcrita.

SOS uma política para a cultura


A Companhia de Teatro A BARRACA considera-se há anos injustamente perseguida pelo Ministério da Cultura, tendo vindo a sofrer sucessivos e injustificados cortes nos apoios que lhe são concedidos.

As companhias suas congéneres têm visto aumentar os seus subsídios, têm multiplicado as suas possibilidades de criação, de divulgação e contratação, companhias inexistentes têm vindo a ser “inventadas” pela mão amiga do Instituto das Artes, enquanto que à Barraca tem vindo a ser malevolamente cortada qualquer hipótese de desenvolvimento. Este ano, depois de lhe terem sido feitas repetidas promessas sobre a melhoria das suas condições económicas, o que levou a Companhia a ousar um sonho sucessivamente adiado, o espectáculo “Ser e Não Ser” ou estórias da História do Teatro (com gastos muito superiores à sua capacidade e que só a prometida alteração justificava e garantiria), feito o espectáculo com êxito e reconhecimento de toda a gente, a Barraca vem a sofrer um corte de 45 mil euros – 9 mil contos – no seu já paupérrimo subsídio.

A BARRACA atravessara um período negro do fim dos anos 80 a meados dos anos 90 e vira em 96 a sua estabilidade ser reposta quando lhe foi concedido um apoio de 51 mil contos e lhe foi dada a categoria de companhia convencionada. De então até agora, o Instituto das Artes e anteriormente o IPAE, já sujeitou a BARRACA a dois cortes sucessivos no referido montante correspondendo a 9 mil contos cada um. Sem qualquer justificação a BARRACA de 1997 a 2005 sofreu um corte no seu apoio anual de 85 820€, isto é 17 mil e 205 contos.

As justificações são inexistentes e neste momento chegámos ao limite. Com a verba atribuída não vamos conseguir pagar as dívidas contraídas e ao mesmo tempo garantir um exercício teatral que venha a merecer o nome e a aventura que A BARRACA tem significado.

Para que a companhia que aqui vedes continue a ousar existir é urgente que esta situação seja alterada. Queremos que no Parlamento a futura Comissão de Cultura se debruce sobre este assunto. Queremos que o futuro Ministro da Cultura, seja ele quem for, tome conhecimento de que há injustiças, nepotismos, perseguições e ilegalidades, no actual Instituto das Artes, por todas essas razões precisamos da sua assinatura, e lhe pedimos que subscreva a petição que se pretende enviar à Assembleia da República.

Os signatários acabam de tomar conhecimento de que o Grupo de Acção Teatral A Barraca corre sérios riscos de se ver impedido de continuar com a desejada normalidade a missão cultural a que há tantos anos se propõe como Companhia de Teatro de referência.

Os signatários temem que A Barraca se encontre rapidamente na contingência de dispensar o elenco, técnicos e demais colaboradores por força dos recentes e continuados cortes nos subsídios de apoio.

Deste modo, os signatários da presente petição apelam para que o problema em causa seja urgentemente analisado na Comissão de Cultura da Assembleia da República com vista à reposição da elementar justiça que o assunto reconhecidamente merece.

Lisboa, Setembro de 2005

respigado aqui


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Permanentemente


Um dia os Substantivos estavam apinhados na rua.
Passou um Adjectivo, com a sua morena beleza.
Os Substantivos ficaram impressionados, comovidos, mudados.
No dia seguinte apareceu um Verbo, e criou a Frase.

Cada Frase diz uma coisa - por exemplo: "Embora estivesse um dia escuro e
[chuvoso quando o Adjectivo passou, hei-de lembrar-me da pura e doce
[expressão do seu rosto até ao dia em que me desvaneça da verde e
[eficaz terra."
Ou: "Não te importas de fechar a janela, André?"
Ou, por exemplo: "Obrigado, o vaso cor de rosa com flores, no parapeito da janela,
[mudou recentemente de cor para um amarelo claro, devido ao calor da
[fábrica de caldeiras aqui perto."

Na primavera as Frases e os Substantivos estavam em silêncio deitados na relva.
Uma Conjunção solitária clamaria aqui e ali: "E! Mas!"
Mas o Adjectivo não surgiu.

Tal como o adjectivo está perdido na frase,
Assim eu estou perdido nos teus olhos, ouvidos, nariz e garganta
- Enfeitiçaste-me com um só beijo
Indestrutível
Até à destruição da linguagem.


Kenneth Koch


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terça-feira, setembro 20, 2005

em tempos roubei este poema ao meu blog preferido (o canto de ossanha)


JANELA


Uma janela é suficiente
Uma janela para contemplar
Uma janela para escutar
Uma janela
parecida com o anel de um poço
a alcançar a terra na finitude do seu coração
abrindo para a vastidão desta bondade azul e repetitiva
uma janela limando as pequenas mãos da solidão
com a benevolência nocturna
do perfume de estrelas prodigiosas
janela de onde
é possível convocar o sol
para a alienação dos gerânios.

Uma janela ser-me-á suficiente.

Eu venho da terra das bonecas
de debaixo das sombras das árvores de papel
no jardim de um livro de desenhos
das estações secas das experiências incapazes na amizade e no amor
nas ruas sujas da inocência
dos anos das letras pálidas, crescendo, do alfabeto
atrás das mesas da escola tuberculosa
do minuto em que as crianças eram capazes de escrever pedra
no quadro
e os estorninhos eufóricos voavam abandonando
a velha árvore.

Eu venho do meio das raízes das plantas carnívoras
e o meu cérebro está ainda inundado
pelo guincho aterrorizado de uma borboleta
crucificada por alfinetes
num caderno.

Quando a minha confiança estava presa pelo frágil fio da justiça
e na cidade inteira
os corações das minhas lanternas eram feitos em bocados
quando os olhos infantis do meu amor
estavam a ser vendados com o lenço negro da Lei
e dos meus ansiosos templos do desejo
jorravam fontes de sangue
quando a minha vida se tornara nada
nada
senão o tique-taque de um relógio,
eu descobri
que tenho
tenho
tenho de amar,
loucamente.

Uma janela ser-me-á suficiente
uma janela para o momento da consciência
da observância
e do silêncio.
agora,
a pequena nogueira
cresceu tanto que é já capaz de explicar
o significado do muro
às suas jovens folhas.

Pergunta ao espelho
o nome do redentor.
Não estará a terra fremente debaixo dos teus pés mais só que tu?
os profetas trouxeram a missão da destruição para o nosso século
não serão estas consecutivas explosões
e nuvens venenosas
a reverberação dos versículos sagrados?
Tu,
camarada,
irmão,
confidente,
quando chegares à lua
escreve a história dos massacres das flores.

Os sonhos precipitam-se sempre da sua altura ingénua
e morrem.
Cheiro o trevo de quatro folhas
que cresceu sobre o túmulo dos significados arcaicos.

Não seria a mulher
enterrada no sudário da expectativa e da inocência
a minha juventude?

Subirei a escadaria da curiosidade
para saudar o bom Deus que se passeia no telhado?

Sinto que o tempo passou
sinto que o momento é a minha parte das páginas da história
sinto que a mesa é uma distância fingida
entre as minhas madeixas
e as mãos deste triste estranho.

Diz-me
Que mais poderá querer de ti aquele que oferece a ternura de um corpo quente
senão a encarnação da sensação de existir?

Fala comigo
eu estou no refúgio da janela
eu tenho uma relação com o Sol.



Forugh Farrokhzad


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domingo, setembro 18, 2005

palavras que não me largam

distribuis el corazon por todas las cosas. lo transportando, no lo transportas.


poeta Nahua


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sábado, setembro 17, 2005

"Maybe one day you'll escape your past. If you do, look for me."

Siboney, yo te quiero yo me muero por tu amor.
Siboney, en tu boca la miel puso su dulzor.
Ven aquí, que te quiero
y que todo tesoro eres tú para mí.

Siboney, al arrullo de las palmas pienso en ti.
Siboney de mi sueño
si no oyes la queja de mi voz,

Siboney si no vienes me moriré de amor.
Siboney de mis sueños te espero
sin ansia en mi caney,

Siboney si no vienes yo moriré de amor.
Oye el eco de mi canto de cristal,
que no se pierda por entre el ruido manigual.


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sexta-feira, setembro 16, 2005

como se o vento trouxesse
recados
que pudesse abandonar
ao serviço do mensageiro

como se o vento te pudesse levar
e as palavras transformar
no milagre da cerejeira

não descuides o vento
que quem uiva
é lobo faminto

rodeia-te antes do essencial
faz-te cozinheira, semeia o teu quintal

o que por natureza rola
há-de rolar
e tu sozinha
o que podes contra o vento?


Ana Paula Inácio



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quinta-feira, setembro 15, 2005

Com as primeiras nuvens recolher ao Café. Tomar a mesa de canto, preenchendo o olhar.
Ao lado, uma mesa vazia. Cadeiras desencontradas. Uma garrafa despida. Um prato, branco de migalhas, guardanapos consumidos.
Tentar adivinhar quem poderia ali ter estado. O tempo que terá deixado, o gosto ou não por tabaco, definir esse rosto pelo rótulo do que bebeu, atribuir-lhe uma idade, um sexo, um perfil, explorar cada detrito na resenha de vestígios.
Perceber quanto existe, nesse jogo, de infrutífero. Tanta gente poderia ter-se sentado aí.

João Luís Barreto Guimarães


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quarta-feira, setembro 14, 2005

Há um ar de espanto
no teu rosto em silêncio pequenas pausas
entre nós e as palavras
que desfiamos
Quando o silêncio (pausa mais longa
que nos contrai o peito)
cai bruscamente
duas mãos agitam-se meigamente as nossas
e os mendigos, todos os mendigos
espreitam ao postigo do teu pequeno apartamento
coroados de rosas e crisântemos

É o momento
em que afirmamos a realidade das coisas
não a que vemos na rua
e que sabemos fictícia

mas a outra

aurora cintilante
que põe estrelas no teu sorriso
quando acordas de manhã
com um sol de angústia na garganta

acredita
nada nos distingue
entre a multidão anónima a que pertencemos
embora
o fotógrafo teime sempre
em nos oferecer uma esperança
- fluido imaterial que nem mil anos
poderão condensar -

O nosso rasto
mal se apercebe na areia
condenados ao fracasso
pequena glória dos pequenos heróis deste tempo
ainda aspiramos
no entanto
a ser o índice deste século
único sinal humano, florescente e salubre
de contrário
seremos apenas
um halo de vento
arco-íris de luto
ou estrada para sedentários
É ocioso
preparar a objectiva
que nos vai condenar a um número
nesta cidade onde cada homem
é escravo de uma arma
Ocioso
avivar as flores do cenário
encher de luar o jardim do nosso afecto
Só um acaso
nos poderá revelar
por isso
fechemos o rosto
meu amor

Pedro Oom



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terça-feira, setembro 13, 2005

palavras que não me largam

[sou uma paisagem arrancada de velha à parede]

José Emílio-Nelson

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segunda-feira, setembro 12, 2005

quando a noite toca os teus pulsos
rebentam em ternura as açucenas
e o mais das flores se inclina
para o peito, o ventre, o calor
desta vida que brilha ao sul.

dá-me a tua mão, dizes,
quero ter contigo o relâmpago
que incendeia na terra os cereais
e no coração desperta as romãs.

procuro árvores, pé ante pé.
na sombra da tua palavra
busco o derradeiro acordar das estrelas
e demoro-me em silêncio
na interrogação dos planetas.

e quando a noite toca os teus pulsos
dá-se em mim uma vida maior
e das janelas apago os olhares
para ficar a sós contigo
no suspiro da terra que nos inventa.

Vasco Gato


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domingo, setembro 11, 2005

(Ó paizinho que eu não consigo)

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Ai chega, chega, chega a minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta o meu dedal
Brejeira não sejas trafulha
Ò linda vem cozer o avental


(Ó paizinho que eu não consigo)

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Ai chega, chega, chega a minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta o meu dedal
Brejeira não sejas trafulha, ai não
És a mais bela fresca agulha em Portugal


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sexta-feira, setembro 09, 2005

I

vejo-te na soleira da porta
hesitas. em cena apenas estou eu
penso em mudar-me mas entre erros
e desculpas falta-me espaço

se contares histórias serão daquelas que
ninguém quer ouvir
relatos de passeios de domingo onde há sempre ruínas
sim, restaram apenas ruínas escavadas no interior dos olhos

II

entras, não tens medo
rodeado de olhares com sono que ainda não sabem
que as palavras são sempre as mesmas
(uma espécie de cerimónia onde te repetes para evitar a morte)

mentimos os dois sobre uma história feita de fragmentos

dizes que nem sempre o guião é o mesmo
mas repetes-me o teu monólogo ao ouvido

“deixa-me sair” vou abandonar a personagem
que balança no vazio

ultima tentativa: observo-te e tu já não me vês
conheces-me tão pouco, não, isto…
isto não é um dueto, é um duelo

friamente o silêncio cai sobre nós
não há vozes nem adereços
(a cena está vazia)

há apenas uma cortina de vento onde as palavras
nunca se moldaram


eue


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quarta-feira, setembro 07, 2005

Inútil dizer-te
da cidade
que vou perdendo.

Cada uma destas pedras
me diz
da distância entre nós dois.

Permaneço
(todo silêncio
e portas).

Muito nítida,
a nostalgia fere
à transparência de um arbusto.

eduardo pitta



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terça-feira, setembro 06, 2005

traduçao caseira da lebre


Olha, uma borboleta. Pediste um desejo?
Não se pedem desejos a borboletas.
Claro que pedem. Pediste um?
Sim.
Não conta.


Louise Gluck


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sábado, setembro 03, 2005

sabemos criar o sossego
espesso, perante o qual
até o tempo pensa que os
peixes nadam devagar


valter hugo mãe



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Um fama anda numa floresta e, embora não necessite de lenha olha com cobiça as arvores. Estas têm um medo terrível porque conhecem os costumes dos famas e temem o pior. O fama, ao ver um eucalipto muito lindo, dá um grito de alegria e dança trégua e dança catalã à volta do perturbado eucalipto, dizendo:
- Folhas anti-sépticas, Inverno com saúde, grande higiene.
Saca do machado e fere o eucalipto no estômago, sem pena nenhuma. O eucalipto chora, ferido de morte, e as outras árvores ouvem-no dizer entre suspiros:
- Pensar que este cretino não tinha mais que ir comprar umas pastilhas Valda.


Júlio Cortázar



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sexta-feira, setembro 02, 2005

mais uma traduçao caseira da lebre (sim, sim ando em tons de tango)


De interpretação do tango

O tango é uma tábua para os náufragos e um abismo para as mulheres.

Tocam-se outras músicas para que se fechem as feridas, mas os tango toca e canta para que se abram, para que continuem abertas para recorda-las, para meter o dedo nelas e abri-las na diagonal

O tango acredita no motivo que invoca, chora a dor e depois vêm uns passitos burlões, um contrapasso grotesco, um jogo na dor, um fazer chacota cantarolada com o seu próprio sentimentalismo.

Tem sons a carteiras vazia, a carteira da não fortuna, do fracasso económico, de tudo o que não puderam reunir. Soa então a pobreza em plena juventude.

O tango é o resmungo de Buenos Aires e dos seus desterrados, a sua tribulação musical, o seu estertor sentimental, o seu tremor neurótico, o seu ronco sensual, o seu arco-íris privativo.

Ramón Gómez de la Serna



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quinta-feira, setembro 01, 2005

a lebre anda maravilhada e em modo tango

Corría el año 28 cuando Hilario Ufa también llamado Juan Castro alias 'el
torcaz' arribó a la gran urbe procedente de un pequeño pueblito en la zona sur
de nuestro país. Se largó a los arrabales y tuvo algún entrevero, se topó con
travas, bufas y malevos. Cantaba en los bodegones, su público era un borracho
que se dormía, en la otra mesa había una pareja que discutía, pero él no lo
sabía. Un día del año 35 en plaza Constitución cruzándose en la estación,
decidió pegarse el piro. Y ésta es la verídica historia de Hilario Ufa alias 'el
torcaz'.

Daniel Melingo "Ufa!" (raio de disquinho viciante)


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