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sábado, dezembro 31, 2005

BOM ANO

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sexta-feira, dezembro 30, 2005

os pedaços de noite colados ao sorriso
são sons a olhar para dentro

sensação de respirar ausências

quando as palavras te morrem nos lábios
fica um hálito frio de poemas a ruir
na distância de um percurso traçado a pó


eue


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quinta-feira, dezembro 29, 2005

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Kenneth Patchen

terça-feira, dezembro 27, 2005

Portas, nocturnas portas, quando o que desejamos é um rasgão luminoso.

Mário Rui de Oliveira

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sexta-feira, dezembro 23, 2005

(é favor ler este post em modo Coro de santo Amaro de Oeiras em rotação acelerada )

A todos um Bom Natal
A todos um Bom Natal
Que seja um Bom Natal, para todos vós
Que seja um Bom Natal, para todos vós


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PARABÉNS MENINA MARGARETE

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quinta-feira, dezembro 22, 2005

Fábula-cosmogonia

Os insectos nocturnos em torno da luz
As estrelas em torno das estrelas
Os meus pensamentos em torno de ti
Eu em torno do nada
O nada em torno de mim

Os meus pensamentos em torno de si mesmos
Tu em torno dos meus pensamentos
O nada em torno de ti
Os insectos nocturnos em torno do nada
As estrelas em torno de mim

Eu em torno dos meus pensamentos
As estrelas em torno de ti
Os insectos nocturnos em torno das estrelas
A luz em torno dos insectos nocturnos
O nada em torno da luz

As estrelas em torno de si mesmas
Os insectos nocturnos em torno de si-mesmos
Tu em torno de ti mesma
Eu em torno de mim mesmo
O entorno em torno do entorno


györgy somlyó


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quarta-feira, dezembro 21, 2005

Este ano cresceu de joelhos
a noite conservou as quatro luas
as crianças têm seus cabelos
seus gritos de paz intransmissíveis



Luíza Neto Jorge



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terça-feira, dezembro 20, 2005

mais uma tradução "caseira" da lebre

Tem cuidado com as palavras,
mesmo com as milagrosas,
Pelas milagrosas fazemos o nosso melhor,
por vezes elas enxameiam como insectos
e deixam não uma picada mas um beijo.
Podem ser tão boas como dedos.
Podem ser tão de confiança como a rocha
onde espetas o rabo.
E podem ser malmequeres ou feridas.

Mesmo assim, estou apaixonada pelas palavras.
São pombas a cair do tecto.
São seis laranjas sagradas sentadas no meu colo.
São as árvores, as pernas do verão
e o sol, a sua cara impetuosa.

Mas muitas vezes elas falham-me.
Há tanto que quero dizer,
tantas histórias, imagens, provérbios, etc
Mas as palavras não são suficientemente boas,
as erradas beijam-me.
Por vezes eu voo como uma águia
Mas com as asas duma carriça.

Mas eu tento ter cuidado
e ser cuidadosa com elas.
Palavras e ovos devem ser tratados com cuidado.
Uma vez partidos são coisas impossíveis
de reparar.



Anne Sexton


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segunda-feira, dezembro 19, 2005

vi por momentos, num plano desfocado,
a respiração condensada pelo frio
tão frágil como cada gesto que me passa em frente dos olhos

entre a pausa e o imprevisto
por vezes não passa de um cigarro esquecido no cinzeiro
nas horas em que as mãos insistem em ter frio

fotografia perfeita dos restos de um domingo
que se parte em recortes de tédio


eue


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sexta-feira, dezembro 16, 2005

A calma de uma árvore que reluz, nas suas folhas íntimas, o langor do gatos como príncipes, um livro lido ao som de uma confidência, na tarde.
Os minutos de uma espera são, por vezes, a vida.

Mário Rui de Oliveira


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quinta-feira, dezembro 15, 2005

GOSTO TANTO DO NOEL COWARD

I've Been To A Marvellous Party

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I couldn't have liked it more…
Não conseguia escrever. Aquilo acontecia de vez em quando. Mas nunca durante tanto tempo. Sentia-se perdida, com medo. Sentia falta das suas histórias, de criar coisas que não existiam antes, de escrever durante a noite e ouvir os pássaros ao amanhecer, e depois dormir um pouco e levantar-se para fazer café.
(…)
Mas agora não conseguia escrever. E os dias e as noites eram muito longos, quase intermináveis.

Ana Teresa Pereira


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terça-feira, dezembro 13, 2005

mais uma tradução "caseira" da lebre

O amor não é uma profissão
distinta ou não

o sexo não é cirurgia dentária
A obturação habilidosa de dores e cavidades

não és o meu médico
não és a minha cura

ninguém tem esse
poder, és apenas um companheiro/viajante

desiste desta preocupação médica,
abotoada, atenta

permite-te raiva
e permite-me a minha

que não precisa nem
da tua aprovação nem da tua surpresa

que não precisa de ser legalizada
que não é contra uma doença

mas contra ti,
o que não precisa de ser entendido

ou lavado ou cauterizado
que ao contrário precisa sim

de ser dito e dito.
Permite-me o tempo presente.


Margaret Atwood

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domingo, dezembro 11, 2005

One thing I know for sure. A person can't sneeze in this town without somebody offering them a handkerchief.

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sábado, dezembro 10, 2005

Microscópica quase,
uma migalha entre as folhas de um livro
que ando a ler.

Emprestaram-me o livro,
mas a migalha não.
No mistério mais essencial,

ela surgiu-me recatadamente,
a meio de dois parágrafos solenes.
Embaraçou-me o pensamento,

quebrou-me o fio (já ténue) da leitura.
Sedutora, intrigante.

Fez-me pensar nos níveis que há de ler:
o assunto livro
e a migalha-assunto do leitor.

(era pão a matéria consumida no meio
de dois parágrafos e os olhos
consumidos: virar a folha, duas linhas lidas
a intriga do tempo quando foi
e levantou-se a preparar o pão
voltando a outras linhas)

Fiquei com a migalha,
desconhecida oferta do leitor,
mas por jogo ou consumo
deixei-lhe uma migalha minha,
não marca de água, mas de pão também:
um tema posterior a decifrar mais tarde
em posterior leitura
alheia.

Ana Luísa Amaral



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sexta-feira, dezembro 09, 2005

assaltei o blog do bar maravilha (devidamente autorizada pela gerência)

SILÊNCIO

Conheço uma cidade
que cada dia se enche de sol
e tudo desaparece num momento

Cheguei lá quase à noite

No coração durava o ruído
das cigarras

Do navio
envernizado de branco
eu vi
a minha cidade perder-se
deixando
um pouco
um abraço de lumes no ar indeciso
suspensos

Giuseppe Ungaretti



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quarta-feira, dezembro 07, 2005

a jukebox da lebre (canção perfeita versão 1.1)

Total Recall

Another time, another time
Oh there must be a hole in your memory
But I can see
I can see a distant victory
A time when you will be with me...

It's all such a blur when time goes so quickly
Trying to hang on to
The way that you'd like things to stay

You trace back the seconds
Recall the details
From someone will, to someone does
To someone did, you know I did

Oh there must be a hole in your memory
But I can see
I can see a distant victory
A time when you will be with me

You cut me off just as I was starting to speak
The language you keep hidden away
It's just like the question on everyone's lips

But it's not on mine
Where all you'll find is a twisted smile
From another time

Another time, another time
Oh there must be a hole in your memory
But I can see
I can see a distant victory
A time when you will be with me...

Another time, another time
Oh there must be a hole in your memory
But I can see
I can see a distant victory
A time when you will be with me

There'd be another time, another time
Oh there must be a hole in your memory
But I can see
I can see a distant victory
A time when you will be with me

I can see but there's got to be another time
It's got to be...

The Sound


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segunda-feira, dezembro 05, 2005

há sempre um nevoeiro confuso quando eu me invento
esvazio-me em imagens que anoto num caderno

palavras sem ninguém na resposta

hoje por exemplo
não é dia de contar histórias
há um rasgão na página
pego nas palavras com a ponta dos dedos
mas elas desaparecem na fenda

a que distância ficam as palavras quando se escrevem?


eue

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Não dormi com a beleza toda a vida
fazendo inconfidências a mim próprio
dos seus encantos planturosos

Não, não dormi com a beleza toda a vida
mas com ela menti
fazendo confidências a mim próprio
de como ela nunca morre
mas jaz à parte
no meio dos aborígenes
da arte
e paira por cima dos campos de batalha
do amor

Está acima de tudo isso
muito acima
Está sentada no mais selecto dos assentos
da Igreja
lá em cima onde os administradores da arte marcam encontros
para escolherem o que há-de ficar para a eternidade
Eles, sim, dormiram com a beleza
durante toda a vida
Eles, sim, alimentaram-se da ambrósia
e beberam o vinho do Paraíso
e por isso sabem exactamente como é que
uma coisa bela é uma alegria
para sempre e para sempre
e como é que ela nunca nunca
pode inteiramente desvanecer-se
num nada que leve à bancarrota

Oh não, nunca dormi
em Regaços de Beleza como esses
receando levantar-me de noite
com medo de perder nesses segundos
qualquer belo movimento que ela esboçasse
E contudo dormi com a beleza
à minha estranha maneira
e fiz uma ou duas cenas terríveis
com a beleza na minha cama
de onde transbordou um poema ou dois
de onde transbordou um poema ou dois
para este mundo tão parecido com o de Bosch


Lawrence Ferlinghetti


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domingo, dezembro 04, 2005

E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas «água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.


Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito,
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.


Manuel António Pina



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sexta-feira, dezembro 02, 2005

quando chove lembro-me sempre deste texto

Cair de gotas

Não sei, olha, terrível como chove. Chove que se farta, densa e tristemente, gotas enormes e duras contra a varanda, que fazem “plaf” e se esborracham como bofetadas uma após outra que chatice. Aparece agora uma gotinha no alto da janela, periclitante contra o céu que a destrói em mil brilhos apagados, cresce e oscila, parece que cai mas não cai, não há meio de cair. Agarra-se com unhas e dentes, não quer cair, e a barriga vai-a aumentando, é agora uma gota que incha majestosa e de repente “zup” ela aí vem, “plaf”, desfeita, nada, uma viscosidade no cimento.
Mas há as que se atiram e suicidam imediatamente, aparecem na goteira e daí se mandam, creio ver a vibração do salto, as pernitas que se soltam e o grito que as embriaga nesse nada de cair e aniquilar-se. Tristes, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus


Julio Cortázar


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