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quinta-feira, setembro 30, 2004


mais uma tradução caseira da minha Pizarnik


explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me


Alejandra Pizarnik



segunda-feira, setembro 27, 2004

Enviaram-me esta delícia por mail

Poeta

Poeta: uma criança em face do papel.
Poema: os jogos inocentes,
invenções de menino aborrecido e só.
A pena joga com palavras ocas,
atira-as ao ar a ver se ganha o jogo;
os dados caem: são o poema. Ganhou.


ADOLFO CASAIS MONTEIRO




mecanicamente desenham-se madrugadas no interior da boca
aceleram-se sons, tiram o sentido aos lábios
são fendas a imitar a vida

por vezes dos soluços que saem do meu olhar formam-se cicatrizes
enchem-me os olhos com a humidade do sal

memorias paradas num olhar cansado

descesse o repouso ao amargo dos olhos
e num instante as estrelas afogavam-se
no interior das pálpebras


eue


sexta-feira, setembro 24, 2004


a lebre a ouvir Cocorosie

Terrible angels

If every angel's terrible
Then why do you welcome them
If every angel's terrible
Then why do you welcome them
If every angel's terrible
Then why do you welcome them
You provide the birdbath
I provide the skin
And bathing in the moonlight
I'm to tremble like a kitten
If blue eyed babes
Raised as hitler's little brides and sons
They got angelic tendencies
Like some boys tend to act like queens
Oh if every angel's terrible
Then why do you watch her sleep
You love to hear her sing
And wear purple eyes like rings
Well the flowers have no scent
And the child's been miscarried
Oh every angel's terrible
Said freud and rilke all the same
Rimbaud never paid them no mind
But jimmi morrison had his elevators
His elevators
He had his elevator angels
If every angel's terrible
Why do you hide inside her
Like a child in a skirt
The supermarket's loud and bright
And boy don't she feel warm tonight
Boy don't she feel warm tonight
Boy don't she feel warm tonight
If every angel's terrible...


Cocorosie



Algumas proposições com pássaros e árvores

QUE O POETA REMATA COM UMA REFERÊNCIA AO CORAÇÃO

Os pássaros nascem na ponta das árvores

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração

Ruy Belo







quinta-feira, setembro 23, 2004



Desfolhar uma rosa
é poesia
ou prosa?

Cruzeiro Seixas



sexta-feira, setembro 17, 2004


os olhos ganham a intensidade das rugas
todas a sombras se juntam como
linhas de uma folha

é neste tempo de sílabas murchas
que nos olhos param imagens

o outro lado dos olhos são pedacinhos
de papel que rasguei num domingo


eue


quinta-feira, setembro 16, 2004

A lebre hoje lembrou-se deste poema lindo.
Nunca se sentiram assim?

I'd give all the wealth that years have piled
The slow result of Life's decay
To be once more a little child
For one bright, summer-day

Lewis Carroll


Hoje a lebre andou em arrumações e arejamento de tralhas e ideias. Amanhã volta devidamente artilhada com novas coisas para mostrar.


quarta-feira, setembro 15, 2004

Lebre em modo suspiro.
Hoje não consigo parar de ouvir esta canção (como eu gostava quando a passava no programa de rádio)
O Ed Harcourt é fabuloso.


God Protect Your Soul

Well I hope God protects your soul
I don't know if you should leave home alone
Maybe you've been drinking from the Devil's bowl
I can't express myself 'cause I'm not fully grown

My heartache, is my mistake you see
My heartache, is my mistake you see

Well I am conscious of the way that I act
But I won't betray you, you can be sure of that
I'm not a pet who does tricks at the drop of a hat
I wish I was fiction, I wish I was fact

My heartache, is my mistake you see
My heartache, is my mistake you see

I need to build a wall around me
I need to build a wall around me
But I want to smile with everybody
Would you say that is possessive of me?
Would you say that is possessive of me?

Yes we feel bad in winter
We act a little bit strange
The dark sky threatens me daily
Makes me alter and change, change, change, change

I need to build a wall around me
I need to build a wall around me
But I want to smile with everybody
Would you say that is possessive of me?
Would you say that is possessive of me?

I need to build a wall around me
I need to build a wall around me
But I want to smile with everybody
Would you say that is possessive of me?
Would you say that is possessive of me?.

Ed Harcourt



terça-feira, setembro 14, 2004


quando leio, faço inventários de tudo o que não pertence à insónia
um dia escrever-te-ei no ar onde as papoilas se afogam
explicar-te-ei como te tenho no colo de todas as palavras impossíveis
e com a lentidão dos passos afastar-te-ás do dia em que os gestos são papoilas
é tão impossível pensar que a tua voz se tornou inaudível
e é por esse silêncio que as vozes coagulam
e se dentro das palavras talvez haja paisagens
da tua boca só sai o frio acumulado por meses de Inverno



eue


domingo, setembro 12, 2004

Apetece-me partilhar

sexta-feira, setembro 10, 2004

Canção

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.


Cecília Meirelles



quinta-feira, setembro 09, 2004


todas as cores de um sonho para a minha mana linda

SONHO



Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.



Miguel Torga



EL BURRO Y LA FLAUTA

Tirada en el campo estaba desde hacía tiempo una Flauta que ya nadie tocaba, hasta que un día un Burro que paseaba por ahí resopló fuerte sobre ella haciéndola producir el sonido más dulce de su vida, es decir, de la vida del Burro y de la Flauta.

Incapaces de comprender lo que había pasado, pues la racionalidad no era su fuerte y ambos creían en la racionalidad, se separaron presurosos, avergonzados de lo mejor que el uno y el otro habían hecho durante su triste existencia.

Augusto Monterroso




terça-feira, setembro 07, 2004



Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro

onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.

Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos

que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo Por isso, vou para casa

e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.



Maria do Rosário Pedreira





O triunfo do dia

O sol entra na casa o que
perdemos é já demasiado
para podermos distinguir da parede
o retrato Houve um futuro
no fumo que sangrava
É a forma invisível que uma onda
de luz irá salvar? Esse encontro
da casa com o dia criará uma névoa
que nega a própria luz e vai como
uma nuvem guardar todo o poder
até se transformar num relâmpago
que não pertence ao dia
porque é o que ficou do que perdeu a
existência e de novo se perde
quando a onda regressa
ao dia de onde veio
enrolada levando na sua luz o rosto

GASTÃO CRUZ



sexta-feira, setembro 03, 2004

Hoje ao ler um poema do João do Nascimento, fiquei com esta frase a martelar-me a cabeça

(…) e é naquele café onde paro todos os dias, e de onde me conhecem, onde se ao acordar não souber de mim me encontro.(…)