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sexta-feira, julho 30, 2004

a lebre vai a banhos, até daqui a quinze dias


embargados sobre as falhas, os olhos
(asas que anunciam a fuga)
param nos beirais das palavras
como afluentes gotejando em volta dos gestos
 
experimento a liberdade de te não pensar
agora que os gestos são paginas esquecidas
 
o mais difícil é seguir os pássaros num céu obliquo
 
e  as feridas, desde já cosidas a ponto cerrado
diluem-se num Agosto pigmentado de dias luminosos
 
 
eue





quinta-feira, julho 29, 2004

Estou finalmente de férias, e apetecia-me ver este filme






terça-feira, julho 27, 2004

Para o João que me tem iluminado muitos dias
 
 
Os sonhos são a minha biografia

Na luz tépida, passa, bibelot abolido,
das inanes palavras o sentido
A confusão dos sonhos, só
é o destino
crepuscular desses perfis, o seu exílio

O som dos sonhos, inaudível, guia
no seu destino as palavras que fogem
A poesia aproxima-as
do coração da vida
que as destrói com a sua existência mais forte

 
Gastão Cruz


 

como se alonga o verão, quando a cor do vento varia?
deambulam frases sobre dias parados

como prenúncio de um tempo rigoroso,
as cores amarelecem sobre as ruas onde o céu
se desencontra com o vento

há quanto tempo chamo os pássaros sem resposta?
e como fumo de um cigarro mal aceso,
as nuvens contrastam com o olhar que se vê ao espelho

eue
 

sábado, julho 24, 2004

quando na parede se pendura um "adeus"
lado a lado com uma postura esquecida
o ciciar do tempo é áspero e tecido a saliva
 
entre a pele e a voz apenas os gestos dizem tudo
contorno-te no interior das palavras e em cada linha
formam-se paisagens apressadas
 
palavras à tona dos olhos quando  na hora dos pássaros
o ritmo das histórias não chega ao fim
 
e entre o estar e o não estar  há um espasmo branco
onde as palavras são ressequidas de silêncio
 
eue


sexta-feira, julho 23, 2004

hoje estou triste:(


e este?






quinta-feira, julho 22, 2004

Vens de noite no sonho 
  
Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen. 
 
Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo. 


Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti. 
 
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada. 
 
Ana Marques Gastão




quarta-feira, julho 21, 2004

Que saudades tenho da minha Escócia

A pequena rosa branca

A Rosa do mundo não é para mim.
para mim quero apenas a pequena rosa branca da Escócia
De cheiro agreste e doce - e que destroça o coração

Hugh MacDiarmid





terça-feira, julho 20, 2004

Este site é fabuloso.  

 
 

VOO

É a finitude que enternece
Enverga as asas do corvo e da pomba
derrama no rio a tua dor
afaga a penugem da penumbra

Teresa Balté


domingo, julho 18, 2004

Há dias em que só me apetece estar assim
 

Nem sempre a noite vem ao nosso encontro, para reconhecermos como uma luz acesa ao nosso lado traz consigo as mesmas recordações. Talvez acabe a solidão por ser ali menor. Estas são as imagens que connosco se confundem, quando nos aproximamos devagar uns dos outros, e reparamos na claridade que fica à nossa volta. Repetimos as palavras que tínhamos esquecido há muito. Sabemos que elas nos pertencem. Mas depois perdemo-las de novo. Para se unirem, as mãos têm que estar vazias?

Fernando Guimarães
 

sexta-feira, julho 16, 2004

Para as minhas meninas em jeito de parabéns, aqui ficam imagem de um filme poema que eu adoro
 

 

 

 

quinta-feira, julho 15, 2004

hoje só ouço este album


Rosa

Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Fecho os olhos, mesmo
assim
Eu sinto
O meu corpo estremecer
Não consigo adormecer

Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor

Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Olho à volta mesmo assim
Eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar

Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor

Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o amor

Rodrigo Leão



(imagem roubada deste blog fantástico)

quarta-feira, julho 14, 2004

perto do fim ver-se-ão ao fundo luzes a atravessar a noite.
só isso.
deixar-te-ei onde as palavras só são tuas

agora,
agora pouso o cigarro e sinto-te extenuado à procura de pretextos para falar.
parece-te natural?
tudo me parece tão pouco e escondida entre instantes com a boca a saber a noite

(há restos de ti nas palavras que me povoam)

demoro os dedos na chávena de café, bebido como todos os dias
no meio dos cheiros que são sombras no fim da tarde
e escolho a cor das primeiras palavras a sorrir timidamente


eue


Hoje estou sem palavras, só me apetecia estar a fazer isto com a companhia perfeita


terça-feira, julho 13, 2004

Um rio de luzes

Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

Ana Hatherly



sábado, julho 10, 2004

Para um piano aniversariante e apreciador da pior comida do mundo- favas (como é que é possivel gostar dessa coisa esverdeada e com tão mau sabor??), aqui vai uma música do tio Tom


Time

Well the smart money's on Harlow and the moon is in the street
And the shadow boys are breaking all the laws
And you're east of East Saint Louis and the wind is making speeches
And the rain sounds like a round of applause
And Napoleon is weeping in a carnival saloon
His invisible fiancee's in the mirror
And the band is going home, it's raining hammers, it's raining nails
And it's true there's nothing left for him down here

And it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time

And they all pretend they're orphans and their memory's like a train
You can see it getting smaller as it pulls away
And the things you can't remember tell the things you can't forget
That history puts a saint in every dream

Well she said she'd stick around until the bandages came off
But these mama's boys just don't know when to quit
And Mathilda asks the sailors "Are those dreams or are those prayers?"
So close your eyes, son, and this won't hurt a bit

Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time

Well things are pretty lousy for a calendar girl
The boys just dive right off the cars and splash into the street
And when they're on a roll she pulls a razor from her boot
And a thousand pigeons fall around her feet

So put a candle in the window and a kiss upon his lips
As the dish outside the window fills with rain
Just like a stranger with the weeds in your heart
And pay the fiddler off 'til I come back again

Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
And it's time time time, and it's time time time

And it's time time time that you love
And it's time time time


Tom Waits


sexta-feira, julho 09, 2004

O concerto da Lhasa foi mágico , arrepiante. Um concerto turbilhão que varias vezes me deixou com os olhos cheios de lágrimas.
Com aquele ar de menina envergonhada Lhasa conseguiu deslumbrar o sempre chato e difícil público de Coimbra
Eu quero mais:(


“Tu tens a sombra e a luz e eu penso que a música é a combinação das duas. Apenas luz não tem sentido para mim. Mas se for apenas sombra é demasiado escuro, não consegues ver nada. Precisas de luz e sombra, precisas do contraste de tristeza e esperança, amor e raiva. É isso que faz com que a minha música seja dramática, bonita. Esse conflito está sempre presente na minha vida. Por muito que queira caminhar para a luz, tenho de passar pela escuridão para chegar à luz.”

Lhasa de Sela, Fevereiro de 1998




Floricanto

Mi corazón sufre, y se llena de enojo.
Sólo una vez se nace, una vez se es un hombre.
Una vez se ama, pues de una vez por siempre.
Eso es mi destino, vivir según su antojo.

Si aún por breve tiempo estuvieras a mi lado,
Envuelto en mi rebozo, suspenso en mi beso,
Dejando tu cuidado entre flores olvidado.
Si aún por un momento estuvieras a mi lado.

Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.

Mi corazón sufre porque él también se acaba.
Suspira por la vida y marcha hacia la nada.
Su dominio es dudoso, su deber peligroso,
Sus nervios y su voz y su órbita prestados.

¡Ay ! así se hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.


Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no…
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.


Lhasa



quinta-feira, julho 08, 2004

GESTOS


Não há pressa

Os degraus, de novo, acertam passos;
volto a saber como contá-los, do sonho:
as sombras já não saltam as varandas,
as garças regressam,
volta o silêncio dos gestos repetidos.

David Fernandes



quarta-feira, julho 07, 2004

Na Galilea, zurzido (e também bucólico) cata-vento da ilha de Maiorca, o espectador conheceu uma menina de três anos com cara de viúva. A criaturinha chama-se Gildarda, tal qual uma infanta goda, e tem os olhinhos próximos e pequeninos, o cabelo tristemente frouxo, as pernas curtas, o traseiro cheiinho e circunspecto, a voz de grilo, o gesto solene, a saíta plissada e a camisola cor verde alface. Gildarda, vendo bem, é um nojo de miúda. Gildarda nasceu viúva, tem já três anos de viuvez; se não recebe nem um chavo pela viuvez não é por culpa dela: os seguros sociais estão ainda na etapa do direito administrativo. Gildarda e o espectador, às vezes, brincam às cozinhas com feijões e grãos-de-bico. Gildarda é muito trabalhadeira, anda sempre bem disposta e puxa o lustro aos feijões com a ponta da combinação; então, o espectador (que não há maneira de assentar a cabeça) aproveita para lhe dar um pontapé ou para lhe deitar água nas costas. Gildarda chora, e o espectador, arrebanhando as suas últimas energias, consegue que a consciência lhe remorda um bocadinho, quase nada. Gildarda e o espectador, com as suas brincadeiras, divertem-se bastante.
Há quem nasça velho e quem morra, pasmado pelos anos, galharda ou ternamente jovem, conforme o temperamento e o ofício.No Livro dos Provérbios lê-se que a alegria da juventude é a sua força; há quem nasça tendo já abdicado sem o saber (da mesma forma que os príncipes nascem príncipes) e há quem morra com netos e como sem ter dado importância à briga. Para Cristina da Suécia, tudo o que é fraco é velho e tudo o que é forte, novo. Se calhar um dia descobre-se que o calendário não serve para medir a idade. Gildarda é uma velhinha respeitável (embalsamável) que acaba de nascer. Quando Gildarda chegar, aos seus vinte e cinco anos, à senilidade, o espectador - se Deus se dignar a tal - terá de ser procurado nos campos onde se joga à moeda, às caricas e à bola.
- Chuta, Camilo, que estamos empatados a dezoito!
Gildarda, então, gritando como uma possessa "que horror!", "que horror!", correrá para se refugiar na delicada sombra onde vivem, se reproduzem e morrem os misteriosos e cautelosos cogumelos do mais atroz esquecimento. Pior para ela!

Camilo José Cela




terça-feira, julho 06, 2004

Este Verão

Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço

Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada

Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto

Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão

Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade

Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água

Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem

Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua

Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz

Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar

este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus

Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha.

Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos.

Ulla Hahn


segunda-feira, julho 05, 2004

sobre uma paisagem de sílabas a memória é um banco de rostos
rompem-se caminhos sem mapas onde as palavras desenham fronteiras

verbos líricos recortando conclusões em gestos esboçados no ar
floreados da fala onde a pele perde o rasto das sombras

lado a lado, contornados pelo tacto
corpos ficam no fundo da linguagem
fazem de conta que são isto e aquilo

enquanto eu escrevo o vazio

eue


domingo, julho 04, 2004

Ao ler um post neste blog sobre o “Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera”, apercebi-me que provavelmente é o filme que me apetecia ir ver e que nunca irei ver (como eu odeio o provincianismo dos cinemas de Coimbra)
Aqui ficam umas fotos para acompanhar a leitura deste post

podem ver o trailer aqui (é viciante)








A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen


quinta-feira, julho 01, 2004

E deste? lembram-se?







OFELIA


Ella vive con una mano en la garganta
Y un dolor desnudo acurrucado
En la parte más amable de su nuca
Parecieran fetos de escorpiones
Anidando en el cálido hueco
Mientras
Ofelia flota en el río
Y mueve los ojos
Pero está muerta
Y sonríe y canta en su locura
Pero está muerta
Y su vestido blanco flota con ella, rojo
Y se marcha río abajo con sonidos de agua
Ofelia flota
Y descansa en un campo de lilas
En un jardín de ruinas
Ofelia se aleja cantando
Le acompaña una dama muda
Con antiguos escorpiones en su nuca
La una moría con una mano en la garganta
La otra, dentro del río acariciando las aguas rojas


Nuria Ruiz de Viñaspre


para um zuluzinho

CLARIDADE DADA PELO TEMPO

III

Viver com a crueldade
da criança que
tira os olhos ao pássaro

um desconhecido
movendo-se constantemente
no deserto
em que cada pegada deixa
bem marcada na areia
a imagem
dessa outra existência
em que a morte e a memória
ainda nada significam

mais alto

muto mais alto talvez
que a claridade
do voo das aves que
partem para o desconhecido

o próprio corpo nada mais é
do que a sombra bem simples por sinal
em que,
por erro nosso ou dos outros,
já não existe
a persistência do que
foi perdido

e as mãos
as mãos que sentimos
bem presas seguras aptas
essas
todos sabemos
que podem ainda cada vez mais
esmagar com cuidado
com extremo cuidado
dilacerar suavemente

nos olhos
está o amor

Mário-Henrique Leiria