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terça-feira, maio 31, 2011

sexta-feira, maio 27, 2011

É preciso fechar todas as portas, as gavetas, as janelas, as torneiras, desligar o fogão, acertar a dobra do lençol, prender o cabelo, tapar todas as canetas, desmarcar todos os livros, lavar as mãos, torcer o papel de todos os rebuçados. Depois, voltar a verificar tudo. Algum tempo depois deixei de dormir para o fazer. É preciso evitar atormentar, sem razão, o coração.




Margo Pinto




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quinta-feira, maio 26, 2011

Escrevo coisas incríveis. Só que não as escrevo.
É como se as escrevesse, andam assim por dentro.




Manuel Hermínio Monteiro




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terça-feira, maio 24, 2011

Esta casa

Gosto dela assim: ainda vibrante dos passos
que a deixaram a sós comigo
desobrigada
de abrigar seus moradores
Comigo é
diferente:
não me limito a usá-la
a habitá-la:
namoro com ela
Comigo
abandona-se a seus mais íntimos rumores
e cheiros
e aliviada do dever de ser útil
em silêncio
canta



Teresa Rita Lopes



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quinta-feira, maio 19, 2011

Dou-te o que não tenho – a história
de um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,
poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-me
o que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.




Ana Marques Gastão



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terça-feira, maio 17, 2011

A NOSSA VEZ


É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.




Rui Pires Cabral




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quinta-feira, maio 12, 2011

Roubo-te à linguagem, só assim serás real.




Ana Marques Gastão




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terça-feira, maio 10, 2011

Parabéns menino mau

sábado, maio 07, 2011

A propósito de grandes épocas, vem-me à lembrança uma frase, que aliás o senhor conhece:

a história dá lições, mas não tem alunos.

Ingeborg Bachmann

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sexta-feira, maio 06, 2011

Gostava dessa espécie de beleza
que podemos surpreender a cada passo,
desvelada pelo acaso numa esquina
de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta
que foi toda a infância de alguém,
com visitas ao domingo e tardes no quintal
depois da escola; a beleza crepuscular
de alguns rostos num retrato de família
a preto e branco, ou a de certos hotéis
que conheceram há muito os seus dias de fulgor
e foram perdendo as estrelas; a beleza condenada
que nos toma de repente, como um verso
ou o desejo, como um copo que se parte
e dispersa no soalho a frágil luz de um instante.
Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós
consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada
onde a vida encontra o espelho mais fiel.




Rui Pires Cabral




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quinta-feira, maio 05, 2011

Acordei também com os pássaros
E estudei a posição em que os bordava
Nos seus vestidos
E disse: para que lhes espetas a agulhas no coração
Ela respondeu: para que aprendam a direcção do voo.




Daniel Faria




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domingo, maio 01, 2011

Comprei um vestido novo, um vestido de interior, próprio de casa, longo, para uma hora de uma certa tarde, para algumas noites no meu apartamento, sei para quem, agrada-me porque é comprido e leve, e alem disso explica que vou ficar muito tempo em casa, a partir de hoje. Para o provar, não queria que Ivan estivesse aqui, Malina muito menos; por ele não estar, posso olhar-me à vontade no espelho, dou voltas e mais voltas diante do enorme espelho do corredor, a mil léguas, a uma distância abissal, astronómica dos homens. Por uma hora, posso viver fora do tempo e do espaço, verdadeiramente contente, transportada a uma lenda onde o perfume de um sabonete, o ardor duma água-de-colónia, o frufru de roupa interior, o gesto da mão mergulhando borlas na caixa do pó, ou retocando meditativamente uma sobrancelha, são a única realidade. É uma obra que se vai realizando, uma mulher que se cria para um vestido. No mais profundo segredo se esboça de novo o que é uma mulher, pensa-se no começo do mundo, num halo que não dá luz para ninguém. É preciso escovar vinte vezes os cabelos, untarem-se os pés de unhas envernizadas, é preciso depilar pernas e axilas, abrir e fechar o chuveiro, uma nuvem de pó inunda a casa de banho, olha-se no espelho, ainda é domingo, consulta-se o espelho, na parede, talvez já seja domingo.




Ingeborg Bachmann



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