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domingo, janeiro 30, 2005

As cores de Frida Kahlo



quinta-feira, janeiro 27, 2005

este blog esteve em obras durante a noite e só se salvou
devido a um amigo que não entrou em pânico como a lebre
MUITO MUITO OBRIGADA



PASSADO

A velha sebenta
em que escrevia as minhas composições de Francês
"Mes Vacances": gostei muito das férias
je suis allée à la plage (com dois ee,
o verbo être pede concordância), j'ai beaucoup
nagé e depois terminava com o sol a pôr-se
no mar e ia ver gaivotas ao dicionário

As correcções a vermelho e a Passé Simple,
escrever cem vezes nous fûmes vaus fûtes ils fûrent
as tardes de sol
e Madame Denise que dizia Toi ma petite
com ar de sargento e a cara zangada a fazer-se
vermelha (tenho glóbulos a mais, faites attention)
e o olhar que desmentia tudo
em ternura remplit

E as regras decoradas e as terminações
verbais a i s, a i s, a i t
a hora de estudo extra e o sol de fim de tarde
a filtrar-se pelas carteiras,
a freira a vigiar distraída em salmos
eu a sonhar de livro aberto
once upon a time there was a little boy
e as equações de terceiro grau a uma
incógnita

Ah tardes claras em que era bom
ser boa, não era o santinho nem o rebuçado
era a palavra doce a afagar-me por dentro,
as batas todas brancas salpicadas de gouache
colorido e o cinto azul que eu trazia sempre largo
assim a cair de lado à espadachim

As escadas de madeira rangentes
ao compasso dos passos, sentidas ainda
à distância de vinte anos,
todas nós em submissa fila a responder à chamada,
"Presente" parecia-me então lógico e certo
como assistir à oração na capela e ler as Epístolas
(De São Paulo aos Coríntios:
Naquele tempo...),
tem uma voz bonita e lê tão bem, e depois
mandavam-me apertar o cinto para ficar
mais composta em cima do banquinho,
à direita do padre

E o fascínio das confissões,
as vozes sussurradas na fina teia de madeira
castanha a esconder uma falta,
o cheiro do chão encerado e da cera das velas
e quando deixei de acreditar em pecados
e comecei a achar que as palavras não prestam
e que era inútil
inútil a teia de madeira

Ah noites de insónia à distância de vinte anos,
once upon a time there was a little boy
and he went up on a journey
there was a little girl, une petite fille
e o passé simple, como parecia simples o passado
Au clair de la lune
mon ami Pierrot
Prête-moi ta plume
pour écrire un moI
Escrever uma palavra
uma só
ao luar
a pedir concordância como uma carícia
Elles sont parties,
les mouettes

Ana Luísa Amaral

segunda-feira, janeiro 24, 2005


SÓ PARA MIM

Queria ter o sol só para mim, tê-lo de forma a dele
poder de vez em quando ceder parte apenas a um dos
meus mais íntimos amigos

luis miguel nava



Apetecia-me rever esta série deliciosa

DON'T BE RIDICULOUS



"Listen to the wisdom that made Mypos great--there are none so blind as those who will not hear."

sexta-feira, janeiro 21, 2005


Numa tarde onde as histórias se contam
com os sorrisos a adormecer na boca
Os olhares perdem-se no meio de um encontrão do vento
entre livros, cigarros e café

(e música, não me posso esquecer da música)

Sacudimos conversas e caracóis como gestos de ternura
Desisto dos silêncios quando há vestígios de pálpebras da noite
Sacodem-se vocábulos por entre o que resta do deixado para trás
E as histórias ficam como marcas de silêncio na respiração


eue



quinta-feira, janeiro 20, 2005


Don't let that horse
eat that violin
cried Chagall's mother

But he
kept right on
painting

And became famous

And kept on painting
The Horse With Violin In Mouth
And when he finally finished it
he jumped up upon the horse
and rode away
waving the violin

And then with a low bow gave it
to the first naked nude he ran across

And there were no strings
attached

Lawrence Ferlinghetti


quarta-feira, janeiro 19, 2005



distraída pela noite

eis como desperto da imagem do que foi um acto de amor

uma montagem fotográfica vista por olhos míopes
onde os contornos são desatentos

alimentado por sílabas, em cada parágrafo uma calma
feita de erros (ortográficos ou olhares vazios)

um nevoeiro onde se estrangulam lágrimas
e com palavras ainda quentes
(as noites acabam sempre assim)
levanto-me e dobro-as como roupa usada



eue

terça-feira, janeiro 18, 2005


Nesse tempo eu já lera as Brontë mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?

ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro

por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas


Fernando Assis Pacheco


domingo, janeiro 16, 2005

O fim nocturno das coisas


As coisas são também as suas cores.
Quando vem a noite
elas misturam-se e nós
perdemo-las no escuro.

Só os sons secos e agudos
ou ainda outros
cortam o tempo
ou então o silêncio
de um até logo.


Maria Alexandra Dáskalos


sexta-feira, janeiro 14, 2005


entre gestos e baloiços entram-me
pelas palavras dentro as horas onde a infância
dorme na sombra do horizonte

algures, perdida entre uma sílaba
antecipada pelo som do riso
perco-me dos dias

a verdade? A verdade é um livro com imagens feitas de restos
e o tamanho das palavras, letra a letra
é o tamanho de quando o silencio era feito de gargalhadas

mas as letras não têm sabor
e com frio nos dedos, folheio as paginas
onde palavra a palavra a infância se perde
quando me devolvo ao dia, as gargalhadas apagam-se
ficando os baloiços cobertos pela transparência das lágrimas


eue


quinta-feira, janeiro 13, 2005

Os Girassóis


Às vezes ouves-me chorar
não é fácil deixar a tua mão
De quarto em quarto
quem espera
o terror de não haver ninguém
As paisagens alteram-se sem resolução
narrativas imortais desaparecem
e os girassóis assim
vulneráveis a desconhecidas ordens

Tu estás tão perto
mas sofro tanto
porque não vejo
como possa falar de ti
entre dois ou três séculos

José Tolentino Mendonça



quarta-feira, janeiro 12, 2005


apetecia-me ver este filme







Encomenda


Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.


Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.


Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.


Cecília Meireles



terça-feira, janeiro 11, 2005


UMA ARTE

A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava viajar.
Nenhuma destas coisas trará uma calamidade

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.

Elizabeth Bishop





segunda-feira, janeiro 10, 2005

incendiar, sim, é um processo
mais simples. Cubro a cabeça de cinza
(não de estrelas!), como se fora um aviso.
Eis-nos chegados ao fim
do mundo! É uma parede considerável, um monumento
ao saber mais antigo,

percorre-nos interiormente! E entretanto
entornamo-nos em todos os sentidos, e sei que no meio me esqueço
o essencial, esse frasco de perfume
ao descer o dia? ou seria a noite? quando
as mãos ainda nos aproximavam,

o fogo era uma palavra entre todas a mais fácil,
e só, em nós, a luz vivia.

António Franco Alexandre



sábado, janeiro 08, 2005

perto do fim ver-se-ão ao fundo luzes a atravessar a noite.
só isso
deixar-te-ei onde as palavras só são tuas

agora,
agora pouso o cigarro e sinto-te extenuado à procura de pretextos para falar.
parece-te natural?
tudo me parece tão pouco e escondida entre instantes com a boca a saber a noite

(há restos de ti nas palavras que me povoam)

demoro os dedos na chávena de café, bebido como todos os dias
no meio dos cheiros que são sombras no fim da tarde
e escolho a cor das primeiras palavras a sorrir timidamente


eue


sexta-feira, janeiro 07, 2005

Querem saber porque é que
a TVI oferece prémio à vitima nº 200.000 do maremoto
José Castelo Branco usa prémio da Quinta das Celebridades para reanimar cérebro de Betty Grafstein parado há 35 anos
Depois do PPM e do MPT, PSD coliga-se com sindicato de tanoeiros e grupo de turistas japoneses
José Sócrates tão certo da vitória que promete comer António Vitorino se não vencer
João Pedro Pais traumatizado por fogo de artifício de ano novo. Câmara de Lisboa nega responsabilidades

É facil, basta irem à Inépcia
O meu e-zine satiríco (GENIALISSIMO)preferido que faz hoje 4 anos,
PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS,PARABÉNS


PARABÉNS, PARABÉNS,PARABÉNS PARABÉNS, PARABÉNS,PARABÉNS,PARABÉNS

A casa do mundo

Aquilo que às vezes parece

um sinal no rosto
é a casa do mundo
é um armário poderoso
com tecidos sanguíneos guardados
e a sua tribo de portas sensíveis.

Cheira a teias eróticas. Arca delirante
arca sobre o cheiro a mar de amar.

Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.
O corredor lembra uma corda suspensa entre
os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.
Janelas que cheiram ao ar de fora
à núpcia do ar com a casa ardente.

Luzindo cheguei à porta.
interrompo os objetos de família, atiro-lhes
a porta
Acendo os interruptores, acendo a interrupção,
as novas paisagens têm cabeça, a luz
é uma pintura clara, mais claramente me lembro:
uma porta, um armário, aquela casa.

Um espelho verde de face oval
é que parece uma lata de conservas dilatada
com um tubarão a revirar-se no estômago
no fígado, nos rins, nos tecidos sangúíneos.
É a casa do mundo:
desaparece em seguida

Luiza Neto Jorge



quarta-feira, janeiro 05, 2005


Vou ali ao Avenida ver o 2046 outra vez e já volto

" Love is a matter of timing. It’s no good meeting the right person too
early or too late"







I made a house of houselessness,
A garden of your going:
And seven trees of seven wounds
You gave me, all unknowing:
I made a feast of golden grief
That you so lordly left me,
I made a bed of all the smiles
Whereof your lip bereft me:
I made a sun of your delay,
Your daily loss, his setting:
I made a wall of all your words
And a lock of your forgetting.

Rose O'Neill


terça-feira, janeiro 04, 2005

Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços.
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...


Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me, dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.

Sebastião da Gama