#b-navbar { display: none; }

quinta-feira, outubro 28, 2010

Até de olhos fechados se pressente o brilho das coisas quietas, as idas e vindas, os êmbolos, a inquieta vibração de estarem vivas.





Rosa Maria Martelo



Photobucket

sábado, outubro 23, 2010

sexta-feira, outubro 22, 2010

As trevas
Começam-nos as trevas a romper
a carne, comparáveis
a neve que do céu
caísse ensanguentada

ou pedra que, ao tombar
num lago, o abrisse
em sucessivos círculos, alguns
dos quais já fora de água, em plena vida,

alguém
no meio da paisagem
empunha um calorífico

enquanto eu, que de roupa
não trago mais que um lenço,
com ele cubro a cabeça para não morrer,

aqui ninguém ignora
que os lagos gelam a partir das margens
e o homem a partir do coração,

que a luz
ascende do vazio
e tudo o que nos resta mais não é
que um sol sem crédito
num céu desafectado,

envolvem-nos as trevas
os ossos, dir-se-ia
que a própria morte
nos serve aqui de pele, como a um morcego.



Luís Miguel Nava



Photobucket

quarta-feira, outubro 20, 2010

É amargo o coração do poema.
A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela,
em baixo a outra mão
mexe num charco branco. Feridas que abrem,
reabrem, cose-as a noite, recose-as
com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára
de mão a mão salgada, entre os olhos,
nos alvéolos da boca.
O sangue que se move nas vozes magnificando
o escuro atrás das coisas,
os halos nas imagens de limalhas, os espaços ásperos
que escreves
entre os meteoros. Cose-te: brilhas
nas cicatrizes. Só essa mão que mexes
ao alto e a outra mão que brancamente
trabalha
nas superfícies centrífugas. Amargo, amargo. Em sangue e exercício
de elegância bárbara. Até que sentado ao meio
negro da obra morras
de luz compacta.
Numa radiação de hélio rebentes pela sombria
violência
dos núcleos loucos da alma.




Herberto Helder



segunda-feira, outubro 18, 2010

tradução caseira da lebre

Para o ano dos loucos
uma oração


Ó Maria, frágil mãe,
ouve-me, ouve-me agora
embora eu desconheça as tuas palavras.
O rosário negro com o seu Cristo de prata
permanece por benzer na minha mão
porque eu sou a descrente.
Cada conta redonda e dura entre
os meus dedos,
um pequeno anjo preto.
Ó Maria concede-me esta graça,
esta passagem,
embora eu seja feia,
submersa no meu próprio passado
e na minha própria loucura.
Embora haja cadeiras
eu estendo-me no chão.
Apenas as minhas mãos estão vivas,
a tocar contas,
palavra a palavra, eu tropeço.
Uma iniciada, sinto a tua boca tocar a minha.

Conto contas como ondas,
a baterem sobre mim,
estou doente com o seus números,
doente, doente, no calor do verão
e a janela por cima de mim
é a minha única ouvinte, o meu ser estranho
ela é uma larga recebedora, uma mitigadora.

A dadora de respiração
ela murmura,
exalando o seu largo pulmão como um peixe enorme.

Cada vez mais perto
vem a hora da minha morte,
enquanto eu rearranjo a minha cara, volta a crescer,
cresce por desenvolver e com o cabelo liso.
Tudo isto é morte.
Na memória há um beco estreito chamado morte
E eu movo-me nele
como se fosse água .
O meu corpo não tem utilidade.
Jaz, enrolado como um cão na carpete.
Desistiu.
Não há palavras aqui senão as meio aprendidas,
o Avé Maria e o cheia de graça.
Agora entrei no ano sem palavras.
Anoto a entrada estranha e a voltagem certa.
Sem palavras elas existem.
sem palavras podemos tocar no pão
e ser-nos-á entregue pão
sem som.


Ó Maria, terna médica
vem com pós e ervas
Porque eu estou no centro.
É muito pequeno e o ar é cinzento
como numa casa de maquinas.
Dão-me vinho como dão leite a uma criança.
É apresentado num copo delicado com um bojo redondo e uma borda fina.
O vinho tem cor de breu, bafiento e secreto.
O copo ergue-se sozinho em direcção à minha boca
E eu reparo nisto e percebo isto
Apenas porque aconteceu.
Tenho este medo de tossir
mas não falo,
um medo de chuva, do cavaleiro
que cavalga para a minha boca.
O copo inclina-se sozinho
E eu estou em chamas.
Vejo dois finos fios a
queimarem-me o queixo.
Fui cortada em dois.

Ó Maria, abre as tuas pálpebras.
Estou no domínio do silêncio,
o reino dos loucos e dos adormecidos.
Há sangue aqui
E eu comi-o
Ó mãe do ventre
vim apenas pelo sangue?
Ó pequena mãe,
estou na minha própria mente.
Estou trancada na casa errada.




Anne Sexton




Photobucket

Etiquetas:

sexta-feira, outubro 15, 2010

o Alice faz 8 anos.



Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

era uma vez um blog

Etiquetas:

quinta-feira, outubro 14, 2010

Photobucket

terça-feira, outubro 12, 2010

Se alguém descrevesse
o meu rosto, pálpebra
a pálpebra, aleta a aleta

no nariz, a curva
de lábio a lábio,
a fronte agora, a face depois

eu poderia desdenhar
da solitária alheada
imagem num espelho.




Fiama Hasse Pais Brandão




Photobucket

sábado, outubro 02, 2010