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quarta-feira, agosto 31, 2005

Minha querida Birdie:

Encontrei-a agora mesmo do lado de fora do Tom Gate, andando com um ar muito rígido, e eu acho que ela estava a tentar dar com o caminho para os meus aposentos.
Por isso perguntei-lhe "Porque é que veio sem a Birdie?" E ela respondeu: "A Birdie foi-se embora! e a Emily também! e a Mabel não gosta de mim!" e duas lágrimas de cera correram pelas suas faces.
Ora esta, que parvoíce minha! Ainda não lhe disse de quem é que tenho estado a falar durante este tempo todo! Era a sua boneca nova. Fiquei muito satisfeito por a ver, e levei-a para a sala, e dei-lhe uns fósforos para comer, e uma boa chávena de cera derretida para beber, pois a pobrezinha estava cheia de fome e de sede após tão longa caminhada. Por isso disse-lhe: "Venha sentar-se à lareira enquanto conversamos os dois." "Oh, não, não!" Exclamou. "Prefiro não o fazer! Sabe que eu derreto facilmente!" E obrigou-me a leva-la para o outro canto da sala onde estava mais fresco: e então sentou-se no meu joelho e começou a abanar-se com um limpa-canetas porque, segundo me disse, receava que a ponta do nariz começasse a derreter.
"Não faz ideia do cuidado que nós, bonecas, temos que ter", confidenciou-me. "Olhe uma irmã minha" imagine só "aproximou-se muito destra da lareira para aquecer as mãos, e uma delas caiu de imediato! Está a ver?"
"Claro que caiu logo" disse eu "porque era a mão direita." "E como é que sabe que era a mão direita, Senhor Carroll?" perguntou a boneca.
E eu respondi: "Penso que tenha sido a mão direita porque ela era muito destra."
A boneca retorquiu "Não me rio. Acho que não tem graça nenhuma. Até uma vulgar boneca de madeira era capaz de arranjar uma piada melhor do que essa. E, alem disso, fizeram a minha boca tão rígida que eu, por muito que tente, não consigo rir!"
"Não fique zangada com isso", exclamei, "mas diga-me o seguinte: vou dar a Birdie e às outras crianças uma fotografia para cada uma delas escolher. Qual é que pensa que a Birdie preferiria?" "Não sei", afirmou a boneca: ¿Será melhor perguntar-lhe."
E assim lá a levei a casa de táxi. Qual é que a menina prefere? Arthur de Cupido? Ou Arthur e Wilfrid juntos? Ou a menina e Ethel de pedintes? Ou Ethel sentada numa caixa? Ou uma sua?

Afectuosamente, este seu amigo,
C.L. Dogson

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terça-feira, agosto 30, 2005

A mulher
organiza as sombras para evitar o escuro
na pele sente o medo

é prudente na batalha com as perguntas
que pousam no dia

sorriso

quando o som do telefone invade a sombra
nenhuma palavra lhe sai da voz
deverá falar como se fossem outras coisas a
respirar em vez do grito?

à janela, o vento e o sol, limpam-lhe as vozes
sobrepostas a dizer aquilo que a voz não diz.
mas não hoje

disse que não seria capaz de mudar
perdida no quarto, pequenino, onde utiliza os hábitos
como movimentos grosseiros

nenhuma palavra ali tem asas

fica apenas o silêncio onde a mulher fecha
as persianas e depois as cortinas
sem explicar o sentido do grito.


eue

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sexta-feira, agosto 26, 2005

Todos estão sós no coração da terra,
Atravessados por um raio de sol:
E de repente é noite

Salvatore Quasimodo

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quarta-feira, agosto 24, 2005

tradução caseira da lebre

Deste-me a intempérie,
a leve sombra da tua mão
a passar pela minha cara.
Deste-me o frio, a distancia,
o café amargo da meia-noite
entre mesas vazias.


Julio Cortázar



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terça-feira, agosto 23, 2005

Não é difícil um homem apaixonar-se.
Ferir a sua paisagem,
cinzas de um passado caído, fluente.
Ao fim de vidas partilhadas pode ser que
diga " estremeci
durante anos sem te abraçar". Agora é tarde.
Agora é tarde sobre a terra cercada.
Por planícies ficou o desespero,
a dor lilás dos homens soçobrados
na paciência nocturna.
Só depois do terror os cães ladram fielmente
aos portais da manhã, só
após o gume das vidas partilhadas.
"Passei a vida a fugir para a tua boca",
e confundo já o teu rosto
com um qualquer.


Rui Coias

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segunda-feira, agosto 22, 2005

acho que não preciso de palavras para dizer o que sinto.

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xxxvi

tinhas realmente nome de mar
minha impossível metade mas
não tinha corpo nem alma para dar-te
Deus fez-me o reverso do que chamam homem
gosto de estátuas geladas e de antípodas
mas sabe que quando oiço o mar
peço para ti um verso que saiba tocar-te


pedro sena-lino



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domingo, agosto 21, 2005

(a vírgula)

,


Quando estou mal disposta
(e estou-o muitas vezes...)
mudo o sentido às frases,
complico tudo...


Alexandre O'Neill



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sexta-feira, agosto 19, 2005

o que ali estava invisível (sim, sim o chapeleiro conhece-me muito bem)

Traços que me agradam especialmente…

Os traços que me agradam especialmente na cara de alguém, continuam a deliciar-me por mais vezes que veja essa pessoa. Com os quadros acontece o contrário. Se os vejo muito, já não me atraem.
Nem sequer olho para as pinturas do biombo que está ao lado do meu banco habitual.
Há algo fascinante nas caras bonitas. Ainda que um vaso ou um leque sejam feios, há sempre neles uma parte que podemos admirar com prazer. Seria de esperar que isto se aplicasse às caras, mas, não, nada pode salvar uma cara feia.


Sei Shonagon
(mais uma traduçao caseira da lebre)

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nos dias em que se espera silêncio
soletro-te onde tudo o que não é palavra é pele

eue

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quinta-feira, agosto 18, 2005

O dia acordou.
Levantou-se na ponta dos pés
e viu o mundo
ainda deitado com os sonhos
e encantações da noite.

Subiu aos montes,
deslizou pelas colinas
e escorreu para a cidade
apressado.

Apagou os candeeiros das ruas
esganou
sombras escondidas nos pátios e nas esquinas,
e depois de repartir pelos humanos
angústias e problemas
encarregou-os de o levar até ao fim.

Depois deu pela minha ausência
(estava ainda no meio do sonho
a negociar uma felicidade),
abriu a minha janela fechada
e com todo o seu peso caiu sobre mim
interrompendo as negociações.

Kiki Dimoulá

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quarta-feira, agosto 17, 2005

Ela é a desconhecida, a que passa, a que guarda os teus segredos, no espelho do seu olhar, que tu encontras e não se desvia.Renascido!Salvo!Mas é tarde de mais, ela desaparece no rumor das ruas, não saberás nunca o que souberam os dois.

Lasse Soderberg


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domingo, agosto 14, 2005

voltei

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quinta-feira, agosto 11, 2005

as férias da lebre

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segunda-feira, agosto 01, 2005

o Carvalhal espera-me

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.

Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso, solitário e antigo,
Parece bater palmas.

Sophia de Mello Breyner Andresen


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