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quinta-feira, janeiro 31, 2008

No desespero te confirmam
os que sabem (saberão?)
do estrume dos conceitos
e das épocas que morrem,
iguais ao vazio.
Mas não é bem isso:

querias apenas um lugar
de sombra, cercado de ausência,
um lugar comum combustível
e sem Deus. Aí, perdoando o corpo,
falarias do Inverno e dos
cigarros que se enrolam
ao lado de uma cerveja fria.

Curtas sentenças prosaicas
que em silêncio te confirmam
nos sítios de fora, errados,
onde a outra voz era esta.



Manuel de Freitas


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quarta-feira, janeiro 30, 2008

Preciso de

arrumar a casa, rever o sistema, brunir
os móveis e o tacto.
Preciso de opor o tempo ao tempo.
O espaço ao espaço.




Albano Martins



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segunda-feira, janeiro 28, 2008

PSSSSTT! Já vos disse que o blog da minha limonina é muito bom? e que faz hoje um ano?
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sábado, janeiro 26, 2008

Hoje é um bom dia para ouvir (e dançar) isto
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sexta-feira, janeiro 25, 2008

Envio-te
mensagens telepáticas que repito sete vezes seguidas.
Há palavras gastas que não escrevo nem digo há tanto tempo,
como: Amo-te muito. Meu amor, que saudades, vem depressa.
E outras ainda mais gastas que digo todos os dias,
como : Foda-se esta merda (somos do norte e não somos
castos nem cautos na linguagem)


Inês Lourenço


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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Sabes o que notei em mim? Que a minha pele já não é como antes, que mudou sem que tenha descoberto uma ruga a mais. São sempre as mesmas rugas, as que tive aos vinte anos, só que cavadas, acentuadas. É um sinal, e de quê? De uma maneira geral, sabe-se onde isto nos leva: ao final. Mas além disso? Com que rostos vamos desaparecer, tu e eu? Não é envelhecer que me assombra, mas a desconhecida que sucede a uma desconhecida.



Ingeborg Bachmann



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terça-feira, janeiro 22, 2008

a cama como refúgio
num colchão vestido de inverno
os lençóis a oferecer regaço ao corpo

a cor do quarto é feita de palavras
engasgadas na garganta
a tua respiração ainda se sente nas roupas
que te esperam nas cadeiras

e apesar do sono talvez gostar de ausências
porque não abres a porta?
é tudo o que me falta para as palavras deixarem de ser pele



Maria Sousa



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sábado, janeiro 19, 2008

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sexta-feira, janeiro 18, 2008

brigada limonina

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

chegaste donde o medo tecia os meus cabelos
donde os pássaros ardiam a voz
donde só o silêncio se desconhecia

era tão larga a morte
que não se podia ver dos meus olhos

chegaste quando o fim sangrava dos meus braços
a casa soterrou-me dos teus passos
terra de mim todo
chegaste pelo coração de água da noite
quando o mistério escorre em grito pelos telhados
e Deus se desabita

chegaste tão de dentro de mim mesmo
que agora que a morte me nasce na garganta
a noite e o meu rosto são alguém
que eu próprio desconheço



Pedro Sena-Lino



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quarta-feira, janeiro 16, 2008

A nossa vida como nos filmes
imagens a passar muito depressa - folhas -
os pés a subir direitos rumo ao sol
as olheiras escondidas atrás de lentes escuras:
a nossa vida - filmes - uma voz que te chama,
é de noite e ainda não encontraste
o teu lado certo na cama, agora que a cama
é toda tua, e o roupeiro, e a janela, e o chuveiro.
Abres a porta do frigorífico e faltam os iogurtes
dele, uma cerveja, a nossa vida:
filmes - a rever pela noite fora - filmes,
lembras-te de quando eram felizes
e namoravam a olhar o rio ou o mar -
água corrente é qualquer coisa de romântico -
lembras-te de quando eram mistério
e os dez dedos das mãos serviam para descobrir,
lembras-te de quando as palavras
ainda só serviam para amar ou seduzir:
a nossa vida, hoje, como nos filmes,
como uma fita a andar às voltas
em frente de uma luz, perigo de fogo,
as unhas roídas porque é fim-de-semana
e os passeios com ele não se repetem,
porque é fim-de-semana, dolorosamente,
e à hora que ele sai do trabalho continuas sozinha,
a nossa vida, a nossa vida, a nossa vida.



Luís Filipe Cristóvão



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segunda-feira, janeiro 14, 2008

...se lhes gritasse:
"o amor entranha-se na mais pequena porção do espaço"
saberiam que falo do meu corpo?...



Rosa Alice Branco


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sábado, janeiro 12, 2008

When a star crashes, the angels are electrified.
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Love is like crying is like writing is like dying.
You've got to do it alone.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Break my arms around the one I love

And be forgiven by the time my lover comes

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quarta-feira, janeiro 09, 2008

Não pegues na colher com a mão esquerda.
Não ponhas os cotovelos na mesa.
Dobra bem o guardanapo.
Isso, para começar.

Extraia a raíz quadrada de três mil trezentos e treze.
Onde fica o Tanganica? Em que ano nasceu Cervantes?
Dou-lhe um zero em comportamento se falar com o seu colega.
Isso, para continuar.

Parece-lhe decente que um engenheiro faça verso?
A cultura é um enfeite e o negócio é o negócio.
Se continuas com essa moça fechamos-te a porta.
Isso, para viver.

Não sejas tão louco. Sê educado. Sê correcto.
Não bebas. Não fumes. Não tussas. Não respires.
Aí, sim, não respirar! Dar o não a todos os nãos.
E descansar: morrer.



Gabriel Celaya



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terça-feira, janeiro 08, 2008

tradução caseira da lebre


O resto já te disse.
Uns quantos anos de fluência, e depois
o longo silêncio, como o silêncio do vale
antes das montanhas devolverem
a própria voz mudada para voz da natureza.
Este silêncio é agora a minha companhia.
Pergunto. De que é que a minha alma morreu?
E o silêncio responde

Se a tua alma morreu, de quem é a vida
que estás a viver?
E quando é que te transformaste nessa pessoa?


Louise Glück



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sábado, janeiro 05, 2008

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sexta-feira, janeiro 04, 2008

Não, as palavras não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão,comerei?



Alejandra Pizarnik



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quarta-feira, janeiro 02, 2008

procuro o maço de cigarros na carteira, fumar mata, em letras enormes, de um lado, do outro, fumar causa o envelhecimento da pele, se por um acaso não morrer, se me der para ser eterna, tenho direito a uma indemnização já que me asseguraram que fumar mata, desde quando é que todas as coisas desataram a falar, a estrada, conduza com prudência, respeite a margem de segurança, se conduzir não beba, imagino qualquer dia o hall de um prédio, se tiver uma vizinha boazona por favor não a apalpe, ou, apalpar vizinhas depende da autorização prévia do condomínio que reserva o direito de, outro aviso, quando pisar merda de cão na rua não limpe os sapatos no capacho do vizinho, procure antes os capachos de outros prédios, acendo o cigarro, hoje à tarde o banco, subscreva um plano poupança habitação, um plano poupança reforma, qualquer dia o banco, subscreva um plano infalível de assalto à mão armada, pode ainda subscrever os complementos especial perversidade, ou fuga para país tropical, a farmácia onde ontem fui comprar pingos para o nariz, já não se usa morrer de amor, use preservativo, vigie o seu colesterol, meça a sua tensão, beba um litro e meio de água por dia, evite as gorduras, faça exercício, a farmácia e o rol de conselhos, não acho bem que as estradas, os bancos, as farmácias, as roupas, tenham desatado a falar, os disparates dos falantes tradicionais chegavam


Dulce Maria Cardoso



terça-feira, janeiro 01, 2008

Aqui Fuma-se!
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