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quarta-feira, junho 29, 2011

Envio-te
mensagens telepáticas que repito sete vezes seguidas.
Há palavras gastas que não escrevo nem digo há tanto tempo,
como: Amo-te muito. Meu amor, que saudades, vem depressa.
E outras ainda mais gastas que digo todos os dias,
como : Foda-se esta merda (somos do norte e não somos
castos nem cautos na linguagem)


Inês Lourenço


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terça-feira, junho 28, 2011

neste quarto descreve-se o frio com gestos
todas as noites alimento o vazio
com tília que se enraiza na voz

aqui já não há espaço para ti
tu és tudo o que se esconde no cansaço dos insectos



maria sousa



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sexta-feira, junho 24, 2011

tradução caseira da lebre





o vento é um pedaço de oxigénio disfarçado de fantasma, que vagueia a assobiar uma canção que nunca passa de moda.





Alejandra Pizarnik






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terça-feira, junho 21, 2011

À minha vida já só lhe resta o calão.




Vasco Gato



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quinta-feira, junho 16, 2011

Hoje vou para o mercado velho expor o meu corpo em pedaços
cada um bem identificado por uma etiqueta com nome e valor
tenho esperança de realizar uma boa transacção há tanta coisa lá
para trocar pelos pedaços ainda em bom estado deste meu corpo
inteiro não tem muita utilidade mas assim a retalho é precioso
em particular a mão direita o crânio o sexo o coração
oxalá ninguém queira comprar por atacado todos os pedaços
é que não sei onde guardei as instruções de montagem.




Carlos Alberto Machado




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terça-feira, junho 14, 2011

A noite não é o avesso do dia, sequer o seu contrário – de noite os motores do dia trabalham ainda, desengatados, um pouco como bate o coração de quem dorme. Roldanas lentas movem-se fora dos eixos do sentido, trazem para dentro dos quartos a oscilação das sombras, o vento nas árvores, ruídos ao longe. O ar enegrece contra os muros, destila uma liga muito ténue, reúne as peças soltas. Até de olhos fechados se pressente o brilho das coisas quietas, as idas e vindas, os êmbolos, a inquieta vibração de estarem vivas.






Rosa Maria Martelo




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terça-feira, junho 07, 2011

no grande horto das crianças celestes giroflé giroflá
trocávamos rosas e risinhos que soavam a pianinhos
giroflé flé flá defrontávamo-nos com os primeiros sintomas
da existência enfática do amor e da amizade
doenças incuráveis, mortes de lume brando:

uma mão ajudava-nos a subir no escorrega,
outra a subir ao baloiço, outra ainda
a empoleirar-nos para chegarmos à torneira
do chafariz que jorrava a vida em estado líquido
fresco reanimador , um pé desbaratava o penalty decisivo,
soubemos cedo apreciar o sabor da derrota
outro pé pisava a casa de um caracol alegórico,
soubemos ainda mais cedo acarinhar a pancada
de um verso surdo e seco,
corríamos afogueados esquivos da bola
o mata era o nosso jogo predilecto
gozávamos com pedras e cuspo os amoladores,
os engraxadores e os cauteleiros mancos
precoces suspeitámos de quem nos limpava, vendia,
e consertava
a sorte, como se não soubéssemos por nós fazê-lo

vieram as lições do infantário,
as cores primárias, a luz e a sombra,
as mais variadas perspectivas do abismo de estar vivo
o bê-a-bá da bicharada , as letras, as sílabas,
as palavras abrasivas de adultos eram cruéis,
faziam dói-dói que pensávamos passar com tintura de iodo.
as contas de somar nomes feios, pimenta na língua e
castigos de orelhas de jerico e um mês sem banda desenhada,
a subtracção das quedas de dentes partidos, divisão dos sorrisos
e lágrimas a comunhão mui católica nas alegrias nas misérias
multiplicação das dores ósseas do crescimento e da melancolia
de não termos tamanho para nos ocultarmos nos esconderijos mais insuspeitos
à espera que passasse a trovoada, o papão
ou o pesadelo de um filme visto à revelia do papá e da mamã

o ensinamento essencial para a vida, o único que importa reter,
e que ainda hoje tem serventia, mesmo prévio de teres entrado
para a primeira classe e contraído um surto de piolhos,
extraíste da voz quente da tua mãe
- não aceites nada de estranhos.

foi quando aprendeste o medo.



Bruno Sousa Villar
(mais um poema da revista maravilha)



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sexta-feira, junho 03, 2011

os dias são feitos de noites intermináveis
de canções que se enroscam ruidosamente ao corpo
e eu trago o inverno a respirar-me junto à face
trago as mãos rasgadas
sem bolsos onde se encolherem de frio
é mais do que certo:
se te visse regressar manhã dentro
não sobraria apenas a geometria das árvores em redor do coração




Ana C



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quinta-feira, junho 02, 2011

post patetolas do ano


a lebre faz hoje anos
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quarta-feira, junho 01, 2011

às quatro da manhã raramente
está aqui alguém, só de passagem.
eu, pelo contrário, gosto de sentar-me
porque o meio da madrugada vai bem
com estas pedras e estes sentimentos

mesmo que me recordes o resto
da noite, aqui perto, por ali,
entre os corpos organizados e
disponíveis, a língua e a conversa
decorada, essa memória
não chega. Nem tu

a meu lado sobrevives à
solidão deste lugar.



Pedro Santo Tirso
(n'a sul de nenhum norte)





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