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quarta-feira, março 31, 2010

O jeito em que todas as coisas foram colocadas instigou-me à vocação selvagem da desordem; estimula-me o pensamento de desmanchar tudo: os sítios nos tempos. Porque a história tem de ser feita ao contrário.






Herberto Helder




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terça-feira, março 30, 2010

tradução caseira da lebre



trabalhar para viver é ainda mais idiota do que viver. Pergunto-me quem inventou a expressão "ganhar a vida" como sinónimo de "trabalhar". onde está esse idiota.





Alejandra Pizarnik





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domingo, março 28, 2010

sexta-feira, março 26, 2010

A vida responsável

Conduzir mas sem ter um acidente,
comprar massas e desodorizantes
e cortar as unhas às minhas filhas.
Madrugar outra vez e ter cuidado
Em não dizer inconveniências,
Esmerar-me na prosa de umas folhas
E estou-me nas tintas para elas,
Retocar de vermelho cada face.
Lembrar-me da consulta ao pediatra,
Responder ao correio, estender roupa,
Declarar rendimentos, ler uns livros,
Fazer umas chamadas telefónicas.
Bem gostaria de me dar ao luxo
De ter o tempo todo que quisesse
Para fazer só coisas esquisitas,
Coisas desnecessárias, prescindíveis
E, sobretudo, inúteis e patetas.
Por exemplo, amar-te com loucura.





Amalia Bautista




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quinta-feira, março 25, 2010

Quero te dar um vestido com um desenho que ainda
não sei como será
Penso frutas, dragões, sereias
Fantasias que nem ainda sei bordar
Mas quero te dar um vestido, quem sabe de areia
Quem sabe de uma linha que não se saiba coser
Penso te dar um vestido bordado de ambos os lados
do querer
Nem te quero vestir
Nem quero que o vejas nem que o queiras talvez
quero te dar um vestido que a minha alma deseja





José Carlos Capinan





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quarta-feira, março 24, 2010

It's very difficult to keep the line between the past and the present. You know what I mean? It's awfully difficult. (little Edie)
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terça-feira, março 23, 2010

Quando estamos
No mesmo lugar,
Perto um do outro,

Quando entre nós o espaço

Está cheio de ti, de nós,
Merecerá ainda o nome de espaço?




Eugène Guillevic





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segunda-feira, março 22, 2010

Quase não ouso escrever
já disse tudo

articulo a voz pelo caminho:
inspiro a manhã
cintilo ao vento
solto-me ao passar pelo mundo.





Teresa Balté




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sábado, março 13, 2010

vou ali e já venho
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quinta-feira, março 11, 2010

Serei o cartografo sem linguagem e escala?

Este mapa que a minha experiência de ti desenha
não contém as invisíveis coordenadas do teu nome.

Este mapa teme as descrições por inteiro e ama-te




Luís Quintais





terça-feira, março 09, 2010

Estou a ver a casa e estou a ver-me nela:
confusamente embora as portas ao fechar-se
fazem cair-me as pálpebras, suas noites de Inverno
são só meus pés frios, é carne desta carne
ou eu sou pedra dela e ela é como casca
diminuta em meu bolso e eu como uma caixa
já vazia de chá em seu ventre de barco.

Mas é a minha casa, ou a casa que eu tive,
Onde escolher maçãs para adoçar-me a boca
E andar pelos armários com a boneca partida
Até ao armário partido com portas catedrais
Que guardavam o estrume para outras sementeiras.






María Victoria Atencia





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sexta-feira, março 05, 2010

quando nos põem numa vida não sabemos ter outra





Dulce Maria Cardoso




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quinta-feira, março 04, 2010

Um raio de luz lançou toda a doçura num sono. Quem o dormiu antes do tempo?






Ingeborg Bachmann





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terça-feira, março 02, 2010

porque hoje a noite me parece uma invenção em aberto
sobre a cama abandono palavras

tenho o tempo nas pálpebras

assim, quando alguém me perguntar pelo sentido da insónia

eu, parada no meio do quarto,
direi que não sabia que na solidão se grita alto
para sobreviver ao medo





maria sousa




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