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quinta-feira, novembro 24, 2011

Remorso

Durante a leitura nocturna
descia, às vezes, as escadas
e procurava no escuro, dentro
de um cesto, uma forma
redonda. Na quadra iluminada
do quarto, mordia depois a maçã
vermelha escura. Era enorme o ruído
dos dentes, no silêncio dessa hora
tardia e irremediável a culpa
de ter destruído aquela polpa húmida
de onde pendia o descarnado pé
no íntimo saber de pequenas sementes
que podia perfeitamente
ter apodrecido em paz.




Inês Lourenço



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segunda-feira, novembro 21, 2011

A minha maneira de amar-te é simples:
aperto-te a mim
como se tivesse um pouco de justiça no coração
e ta pudesse dar com o corpo

Quando te revolvo os cabelos
algo de lindo nasce das minhas mãos

E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração





Antonio Gamoneda




quarta-feira, novembro 16, 2011

talvez num dia
em que de mim já nada exista
te lembres de dois braços
que te abraçavam convulsivamente
nessa altura
deixa que os lábios te sangrem
deixa que o sangue te corra pelo peito

e as mãos
essas
abandona-as...



Mário-Henrique Leiria



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segunda-feira, novembro 14, 2011

Sentar-me e
ver os outros passar é o
meu exercício favorito. Entretém.
Não esgota.
É gratuito. Neste meu jogo-do-não
são os outros que passam
(é aos outros que reservo a tarefa
de passar). Lavo daí os pés.
Escrevo de dentro da vida.
Pode até parecer que assim não
chego a lugar algum mas também quem
é que quer ir
ao sítio dos outros?




João Luís Barreto Guimarães




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sexta-feira, novembro 11, 2011

quinta-feira, novembro 10, 2011

Uma criança disse: «Um anjo é uma gaivota.»
«Um anjo é um homem como os outros: o que é, tem asas.»
E outras: «Um anjo é um pássaro cantador.»
(...)
Crianças trespassadas pela sua própria exactidão.
(...)
A solidão que trespassa uma criança imóvel é uma luz insuportavelmente branca.



Herberto Helder



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sexta-feira, novembro 04, 2011

4º número da zine mailinda do mundo
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quinta-feira, novembro 03, 2011

As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
Sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio

Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa.




José Tolentino Mendonça




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terça-feira, novembro 01, 2011