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terça-feira, novembro 29, 2005

post na 1ª pessoa do singular

a lebre está de trombas.


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o senhor La Feria está a abandalhar o Alice no país das maravilhas

segunda-feira, novembro 28, 2005

domingo, novembro 27, 2005

Novembro, som absoluto,
com as suas sílabas suaves,
as vogais pairando na aragem,
e na luz lenta dourada outros
sons soltos consoantes.

Fiama Hasse Pais Brandão



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sábado, novembro 26, 2005

amor é....

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sexta-feira, novembro 25, 2005

é sempre entre a tua demora e o vento
que se toca o mais fundo de um silêncio

como fotografias de olhares que parecem tristes
nascem as primeiras frases no frio das folhas

tudo muda de cor no Outono:
os pássaros cruzam um céu que dá
sombra às palavras


eue


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quinta-feira, novembro 24, 2005

Implorando o sopro do ser divino,
o sopro que dá a vida,
o sopro de muita idade,
o sopro das águas,
o sopro das sementes,
o sopro da fecundidade,
o sopor da abundância,
o sopro do poder,
o sopro da força,
o sopro de todas as espécies de sopro
pedindo o seu sopro,
inspirando o seu sopro no calor do meu corpo,
incorporo seu sopro
para que vivas sempre luminosamente.

Poema ameríndio

(mudados para português por Herberto Helder)

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terça-feira, novembro 22, 2005

mais uma tradução caseira da lebre

Porque eu não podia nem ler nem falar e nas noites longas eu não conseguia desligar a lua ou contar as luzes dos carros a atravessar o tecto.

Anne Sexton



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segunda-feira, novembro 21, 2005

everybody knows everybody....

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Estar só
é meditar numa ausência
esguer os olhos do que, escrevendo, o constata
por uma ordem emanada já se sabe donde

ir só reinvindica
sonega a caneta
dobra os papeis escritos
e conduz docemente
a uma longa suspeição de música.

Sebastião Alba


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sexta-feira, novembro 18, 2005

Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celulóide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.


Fiama Hasse Pais Brandão



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quarta-feira, novembro 16, 2005

Tomo nota; reescrevo:

“Leio um texto e vou-o cobrindo com o meu próprio texto que esboço no alto da página mas que projecta a sua sombra escrita sobre toda a mancha do livro. Esta sobreposição pessoal tem por fonte os olhos, parece-me que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo como uma rede, uma nuvem, o já escrito. O meu texto é completamente transparente e percebo a topografia das primeiras palavras.”

Maria Gabriela Llansol



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terça-feira, novembro 15, 2005

metade de mim mora em manhãs de inventar o frio

falo de um tempo onde a chuva
marca a respiração no vidro

e o vento é lido por pássaros

e lá para o fim do dia
quando tenho nas mãos
a idade das primeiras chuvas

conto estrelas para passar o tempo



eue

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segunda-feira, novembro 14, 2005

tradução caseira da lebre de um dos poemas da vida dela


O inventário do adeus


Tenho um maço de cartas,
tenho um maço de memórias.
Eu podia cortar os olhos a ambas.
Eu podia usa-las como um avental de retalhos.
Podia mete-las na maquina de lavar, na de secar,
se calhar parte da dor desapareceria como sujidade?
Se calhar deitando-a pelo triturador eu poderia triturar a perda.
Alem disso – que pechincha – sem telefonemas caros.
sem viagens demoradas em aviões no nevoeiro.
Sem o riso maníaco ou bênção de um padre fora-do-baralho.
Esse padre provavelmente ainda está a flutuar numa almofada de nevoeiro.
Abençoando-nos, abençoando-nos.

Tenho que te abençoar, perdido,
aqui sentada com a minha alma trapalhona?
O tempo de propaganda acabou.
Sento-me aqui no espigão da verdade.
Ninguém para odiar senão o peixe esguio da memória
que desliza para dentro e para fora do meu cérebro
Ninguém para odiar senão o toque agudo da minha camisa de dormir
roçando o meu corpo como uma luz que se apagou.
Lembra-me o beijo que inventámos, línguas como poemas,
encontrando-se, regressando, convidando, provocando uma febre de necessidade.
Risos, mapas, cassetes, toque a cantar o seu caminho –
tudo para ser partido e posto num cofre estanque
Os mortos monótonos entopem-me e há apenas
preto ornado a preto que verte do cofre.
Preciso de o estripar e depois colocar o coração, as pernas,
de dois que foram um sobre um grande monte de lenha
e acendo-o, como eu já fui acesa e deixo-o rodopiar
em chamas chegando ao céu
Fazendo-o perigoso com o seu vermelho.



Anne Sexton


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domingo, novembro 13, 2005

porque um cheiro cinzento de castanhas une as margens
fico com os cotovelos marcados pelo tampo da mesa
quando a mesa é um sombreado no frondoso painel do
[ quintal e

o olhar
parado disperso na parede
no apenas em que a parede é um móvel ao canto
e nós na praia nós o ano passado uma jarra de
[ vidrinhos coloridos
verde amarelo vermelho azul transparente
e a porta
lacada de branco entre os vasos fronteiriços à varanda

os cotovelos sobre o tampo da mesa
quando a mesa é uma toalha branca floreada de pequenino
[lilás
sobre os joelhos
junção de margens do forjado de que se fazem as varandas

os ganchos que deixei junto à bacia
a escova o peixe branco do sabonete a jarra verde
amarela vermelha azul transparente

e nós na sala
com a toalha pelos joelhos


joão do nascimento


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sábado, novembro 12, 2005

a lebre vista pelos olhos d'outrem


Quando noutro _____ [Lua]
Éramos


Escrevendo poemas
Por submarinos
Sendo das mãos folhas
Embalados no temor
Da relva húmida de tardes


Arrebanhando o vazio

De todos os apeadeiros
por fim.



fénix

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mais uma traduçao caseira da lebre

um buraco na noite
subitamente invadido por um anjo


Alejandra Pizarnik



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sexta-feira, novembro 11, 2005

NEM SEMPRE AOS POETAS APETECEM AS ESTRELAS


Apetece-me não sei porquê uma história de formigas
De formigas assexuadas negras nítidas e rápidas
Com olhos fantásticos colhendo miríades de imagens
E inúteis os olhos das formigas
Desenhadas como um oito ou como um sinal de infinito
Muitas corteses atarefadas prejudiciais
Clericais sociais subtílissimas pequenas
Formigando no chão
No chão onde florescem os cardos e as cores
No chão onde assenta a carne ansiosa das mulheres
E os joelhos dos homens
No chão onde ecoa a voz repugnante dos pregadores
E a voz das juras e dos negócios
No chão onde cai o suor dos aflitos
E o suor dos amorosos
E o suor dos operários
E o suor dos gordos
No chão onde andam os pés e estalam os escarros
No chão das guerras e das famílias correctas
E dos vasadouros e dos jardins
E do pus verde dos mendigos
E das chagas rendosas e das rendas custosas
E das doidas furiosas
E das rosas
E das airosas e das feias e dos bispos e dos triunfadores
E dos cretinos e das virgens
E dos remédios e dos males
E das vertigens e dos abismos
E das cismas
E dos sismos
E dos vermes do ventre e das sonecas
E dos ludíbrios e dos hábeis
E da força dos garantidos
E das sementes

Apetece-me não sei porquê uma história de formigas
A grande invasão das formigas multiplicando-se
Cobrindo a face da terra e a dos homens e das mulheres
Entrando-lhes pelos narizes para roerem os olhos por dentro
E fazendo bulir as coisas mortas e as vivas
Com o espantoso treme-luz irisado e magnífico
Dos seus reflexos negros e a substituírem todas as cores

Na grande montanha uma mulher enorme
Nua e infame
Tem as pernas escachadas sob as pregas do ventre
E sob as pregas do ventre seu sexo negro
É o grande formigueiro do mundo

Vive?

As formigas esvaziaram-na da enxúndia e substituíram-na
Só lhe deixaram a pele por fora para ainda haver branco visível
E como pêlos ampliados excitados e crescentes
Cobriram e desceram o vale
Enroscaram-se nas árvores
Desinquietaram a placidez das pedras
Forraram as aldeias e as cidades os animais e os homens

Que é do ciúme e das angústias?
Que é do amor e das palavras?
Que é das carícias e dos dentes?
Que é das renúncias e dos crimes?
Que é das tentações
Das promessas
Dos desejos
Dos apetites
Das fúrias?
Que é de todas as músicas?

O sol inútil cobre um mar negrejante onde os reflexos são como os olhos das moscas
E um silêncio tremendo finge de paz no mundo
Uma paz de silêncio com formigas

Formigas
Formigas
Formigas
Formigas


António Pedro



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quinta-feira, novembro 10, 2005

o que falta ao verde
para ser árvore nestes dias que começam
a noite antes da hora?

Rosa Alice Branco

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terça-feira, novembro 08, 2005

o meu


Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e suas sombras profundas;

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.


W. B. YEATS


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Qual foi o vosso primeiro poema-paixão?

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domingo, novembro 06, 2005


Horizonte

havia uma menina sentada
junto a uma janela

ela vestia uma velha camisa de dormir
larga
e tinha cabelos castanhos lisos
longos

tinha uma caixa de plástico vermelha
no colo
e olhava o horizonte cinzento
ao longe

talvez vivesse numa ilha
e talvez brincasse junto ao mar
nas tardes de verão

ela estava sentada
não sei bem se num banquinho de madeira
ou se num rochedo do tamanho do mundo

às vezes
os seus olhos pousavam suavemente
na caixa vermelha
e os seus pequenos dedos
imprimiam na superfície do plástico
antigas histórias
de gente que não mais voltara do mar

a casa era do tamanho
de uma janela que dá para o mundo

e a madeira cheirava a madeira
e alguma coisa nela me dizia
que outrora fora barcos

nenhum entardecer
se assemelhava ao que habitava
aquela janela

e a menina sabia-o
não sei bem como

os seus olhos cinzentos
olhavam o horizonte
com a paciência
de quem olha os horizontes

e por vezes
esticava o pescoço
para ver mais longe

ela descobrira sozinha
o significado da palavra longe

o tempo era
verdadeiramente
algo indistinto

e os cabelos
acariciados pela tempestade
gritavam
aos olhos mais atentos
a palavra eternidade

sempre que abria as mãos
caíam ao chão
punhados de terra
ainda misturada com raízes

e no seu colo pousava
aquela caixa vermelha de plástico liso
como uma mancha de sangue
no branco sujo
da camisa de dormir

de vez em quando
cantava
melodias tristes
que ela ouvira
certamente
da boca dos mortos
que escolheram aquele lugar
para olhar o horizonte

um dia
alguém vindo do mar
dissera-lhe ao ouvido
a palavra infinito
e ela rira

ria sempre
que alguém dizia
infinito

desde então
passava noites inteiras
na sua janela

nenhuma palavra
se lhe ouvia
mas ria-se às vezes
como se riem as crianças

há quem diga
que lhe morrera o mundo
e que perdera o tempo
numa noite de tempestade

outros dizem que aprendeu a falar com os mortos
e que passeia no fundo dos mares

que chama pelo respectivo nome cada estrela
e que tem uma música para cada pôr-do-sol

que guarda na pequena caixa de plástico
todos os sonhos dos homens

eu sei que ela tem uma janela nos olhos

imagino que corra na praia
e que caminhe sem dificuldades
na estrada do horizonte

julgo que é sozinha desde sempre
e que não gosta de andar com guarda-chuva

provavelmente
conhece mesmo o fundo dos mares

e nem sequer me custa acreditar que
se pudesse ver o que esconde
aquela caixa de plástico
ela me pareceria vazia


José Rui Teixeira


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sábado, novembro 05, 2005

O teu olhar fixou-se
numa nuvem,
um ponto que aumentou imensamente
e te retém ao começo da noite
como se fosse a ameaça
de que talvez conheças a origem num passado
ácido de faces, posso
recomeçar quase tudo levantando
a pedra
final que nos esmaga;
há coisas
que não têm recomeço

Gastão Cruz



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foto roubada a um dos meus fotógrafos preferidos

sexta-feira, novembro 04, 2005

Morada

Nós vivemos na cidade quase sempre perdidos
nas nossas pequenas razões. Estas ruas
ainda prometem mais do que podem cumprir?
A breve epifania do amor ou simplesmente
um cúmplice que nos diga, à mesa de um café,
que não faz mal, que pouco importam
as perdas e danos que sofremos.

De qualquer modo o mundo continua.

Entre o medo e a esperança
procuramos a nossa incerta morada
e enquanto isso envelhecemos mais um dia,
colhidos pelo tempo em plena queda. Nas praças,
nos quintais, a noite aparece depois do jantar
cheia de boas promessas, mas já vem condenada
ao tropel dos crentes, ao cego movimento da manhã.

Rui Pires Cabral


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mais uma tradução caseira da lebre

Os lençóis foram lavados
da nossa essência conjunta – um composto,
não uma mistura; mas aqui ainda estão

esquecidos, o teu cachimbo e tabaco,
os teus livros abertos na minha mesa,
a tua voz a falar nos meus poemas.

Fleur Adcock


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terça-feira, novembro 01, 2005

Mais uma tradução caseira da lebre


Bonecas,
aos milhares,
estão a cair do céu
e eu olho para cima com medo
e pergunto-me quem as irá apanhar?
As folhas, segurando-as como pratos verdes?
Os charcos, abertos como copos de vinho
para as beber?
Os topos dos edifícios para se esmagarem nas suas barrigas
e deixa-las ali para ganhar fuligem?
As auto-estradas com as suas peles duras
para que sejam atropeladas como almiscareiros?
Os mares, à procura de algo que choque os peixes?
As cercas eléctricas para lhes queimar os cabelos?
Os campos de milho onde podem estar sem ser colhidas?
Os parques nacionais onde séculos mais tarde
Serão encontradas petrificadas como bebés de pedra?

Eu abro os braços
e apanho
uma,
duas,
três…dez ao todo
a correr para a frente e para trás como um jogador de badmington,
apanhando as bonecas, os bebés onde eu pratico,
mas outras estilhaçam-se no telhado
e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair.
que precisam de berços e cobertores e pijamas,
com pés verdadeiros
Porque é que não há uma mãe?
Porque é que estas bonecas todas estão a cair do céu?
Houve um pai?
Ou os planetas cortaram buracos nas suas redes
e deixaram a nossa infância sair,
ou somos nós as próprias bonecas,
nascidas mas nunca alimentadas.


Anne Sexton



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