sexta-feira, junho 29, 2007
quinta-feira, junho 28, 2007
lidos
menino Hugo aqui fica a listinha dos últimos cinco livros lidos
O segredo de joe gould - joseph mitchell
Existe um Homem que tem o costume de me dar com um guarda-chuva na cabeça -Fernando Sorrentino
Primeiro amor - Samuel Beckett
Uma história de desamor treze vezes - António Gregório (relido)
Prosa completa - Woody Allen (a ler)
quero saber as leituras do António , do Manel , do Pedro da Marta e do Miguel
menino Hugo aqui fica a listinha dos últimos cinco livros lidos
O segredo de joe gould - joseph mitchell
Existe um Homem que tem o costume de me dar com um guarda-chuva na cabeça -Fernando Sorrentino
Primeiro amor - Samuel Beckett
Uma história de desamor treze vezes - António Gregório (relido)
Prosa completa - Woody Allen (a ler)
quero saber as leituras do António , do Manel , do Pedro da Marta e do Miguel
quarta-feira, junho 27, 2007
Amei-te como na vida se ama uma só vez;
e todos os afectos que dividi depois eram
apenas cinzas que evocavam o brilho dessa
imensa chama. Troquei suspiros e beijos
com muitas outras bocas quando, na minha,
o travo da solidão era uma amarga desculpa
para repartir o pouco que não tinha; mas
em nenhuma quis morder fruto mais
suculento que o silêncio nem permiti que
pousasse sequer o meu nome verdadeiro -
que só nos teus lábios era graça e canção
e eco de loucura. Foi o meu corpo tão vão
naqueles que o cingiram que me faria velha
a tentar recordar-lhes os gestos hesitantes,
as convulsões da pressa e os veios de sal que
descreviam no litoral da pele o aviso de uma
paisagem interior abandonada. Mas de nada
me serviu amar-te assim - pois, ao dizer-te o
que não pude ser longe de ti, digo-te o que sou
e isso há-de guardar-te para sempre de voltares.
Maria do Rosário Pedreira
e todos os afectos que dividi depois eram
apenas cinzas que evocavam o brilho dessa
imensa chama. Troquei suspiros e beijos
com muitas outras bocas quando, na minha,
o travo da solidão era uma amarga desculpa
para repartir o pouco que não tinha; mas
em nenhuma quis morder fruto mais
suculento que o silêncio nem permiti que
pousasse sequer o meu nome verdadeiro -
que só nos teus lábios era graça e canção
e eco de loucura. Foi o meu corpo tão vão
naqueles que o cingiram que me faria velha
a tentar recordar-lhes os gestos hesitantes,
as convulsões da pressa e os veios de sal que
descreviam no litoral da pele o aviso de uma
paisagem interior abandonada. Mas de nada
me serviu amar-te assim - pois, ao dizer-te o
que não pude ser longe de ti, digo-te o que sou
e isso há-de guardar-te para sempre de voltares.
Maria do Rosário Pedreira
terça-feira, junho 26, 2007
sábado, junho 23, 2007
Epitaph for My Heart
"Caution: To prevent electric shock, do not remove cover. No user-serviceable parts inside. Refer servicing to qualified service personnel."
Let this be the epitaph for my heart. Cupid put too much poison in the dart. This is the epitaph for my heart because it's gone, gone, gone; and life goes on and on and on; and death goes on. World without end, and you're not my friend. Who will mourn the passing of my heart? Will its little droppings climb the pop chart? Who'll take its ashes and, singing, fling them from the top of the Brill Building? And life goes on, and dawn, and dawn; and death goes on. World without end, and you're not my friend.
The magnetic fields
post repetido, a pedido de muitas familias
"Caution: To prevent electric shock, do not remove cover. No user-serviceable parts inside. Refer servicing to qualified service personnel."
Let this be the epitaph for my heart. Cupid put too much poison in the dart. This is the epitaph for my heart because it's gone, gone, gone; and life goes on and on and on; and death goes on. World without end, and you're not my friend. Who will mourn the passing of my heart? Will its little droppings climb the pop chart? Who'll take its ashes and, singing, fling them from the top of the Brill Building? And life goes on, and dawn, and dawn; and death goes on. World without end, and you're not my friend.
The magnetic fields
post repetido, a pedido de muitas familias
sexta-feira, junho 22, 2007
Uma noite incendiei a casa que amava
Fazia um circulo perfeito a arder
Ervas daninhas e pedras.
Era tudo o que conseguia ver
Algumas criaturas do ar assustadas
pela noite vieram ver
o mundo de novo e acabaram por perecer
queimadas.
Agora navego de céu em céu
e tudo canta na escuridão
contra a barca que construí
de asas mutiladas.
Leonard Cohen
Fazia um circulo perfeito a arder
Ervas daninhas e pedras.
Era tudo o que conseguia ver
Algumas criaturas do ar assustadas
pela noite vieram ver
o mundo de novo e acabaram por perecer
queimadas.
Agora navego de céu em céu
e tudo canta na escuridão
contra a barca que construí
de asas mutiladas.
Leonard Cohen
quinta-feira, junho 21, 2007
O cheiro de rosas velhas e tabaco
Faz-me recordar.
Há quase vinte anos
Que não te vejo
E prossegue o nosso meio amor.
Deixaste-me isto:
Esta mão, entreaberta, imóvel
Sobre uma colcha verde.
Coisa bastante para erguer
Alguns poemas de melancolia.
Tivesse eu então tocado em ti
Talvez um de nós sobrevivesse.
Ian Hamilton
Faz-me recordar.
Há quase vinte anos
Que não te vejo
E prossegue o nosso meio amor.
Deixaste-me isto:
Esta mão, entreaberta, imóvel
Sobre uma colcha verde.
Coisa bastante para erguer
Alguns poemas de melancolia.
Tivesse eu então tocado em ti
Talvez um de nós sobrevivesse.
Ian Hamilton
quarta-feira, junho 20, 2007
terça-feira, junho 19, 2007
sábado, junho 16, 2007
sexta-feira, junho 15, 2007
quinta-feira, junho 14, 2007
quarta-feira, junho 13, 2007
terça-feira, junho 12, 2007
segunda-feira, junho 11, 2007
sexta-feira, junho 08, 2007
tradução caseira da lebre
Ele disse, não quero uma dessas coisas cá em casa. Dá uma falsa noção de beleza a uma menina, já para não falar de anatomia.
Se uma mulher fosse feita assim cairia de borco.
Ela disse, se não a deixarmos ter uma como todas as meninas, ela vai-se sentir isolada. Vai-se tornar num problema. Vai ansiar por uma e vai querer ser uma. A repressão gera sublimação, sabes bem isso.
Ele disse, não são só as mamas de plástico pontiagudas, são as roupas. As roupas e aquele estúpido boneco masculino, como é que ele se chama, aquele com a roupa interior colada.
Ela disse, é melhor despachar isto enquanto ela é pequena.
Ele disse, está bem, mas não me deixes ver.
Veio a sibilar pelas escadas abaixo, atirada como uma seta. Completamente nua. O cabelo tinha sido cortado, a cabeça virada de trás para a frente, faltavam-lhe alguns dedos dos pés, e estava toda tatuada com arabescos de tinta roxa. Atingiu o vaso das azáleas, tremeu por um momento, como um anjo remendado e caiu.
Ele disse, acho que estamos safos, o perigo já passou.
Margaret Atwood
Ele disse, não quero uma dessas coisas cá em casa. Dá uma falsa noção de beleza a uma menina, já para não falar de anatomia.
Se uma mulher fosse feita assim cairia de borco.
Ela disse, se não a deixarmos ter uma como todas as meninas, ela vai-se sentir isolada. Vai-se tornar num problema. Vai ansiar por uma e vai querer ser uma. A repressão gera sublimação, sabes bem isso.
Ele disse, não são só as mamas de plástico pontiagudas, são as roupas. As roupas e aquele estúpido boneco masculino, como é que ele se chama, aquele com a roupa interior colada.
Ela disse, é melhor despachar isto enquanto ela é pequena.
Ele disse, está bem, mas não me deixes ver.
Veio a sibilar pelas escadas abaixo, atirada como uma seta. Completamente nua. O cabelo tinha sido cortado, a cabeça virada de trás para a frente, faltavam-lhe alguns dedos dos pés, e estava toda tatuada com arabescos de tinta roxa. Atingiu o vaso das azáleas, tremeu por um momento, como um anjo remendado e caiu.
Ele disse, acho que estamos safos, o perigo já passou.
Margaret Atwood
quarta-feira, junho 06, 2007
terça-feira, junho 05, 2007
Pouco resta daquele quarto de hotel, da neve colada às vidraças,
de ti e de mim nos gestos do amor, da sombra do teu corpo na cama,
do ruído de Nova York, daqueles dias que a memória inventa.
No entanto, este livro, um paperback, agora em ruínas,
teima em recordar-nos, símbolo de outra época.
É curioso pensar que esta capa suja,
este papel manchado, estes poemas,
foram mais poderosos que nós,
mais resistentes que a tua pele e a minha.
Contudo, nesta noite de verão, tantos anos depois,
as suas páginas não me levam a Spoon River e às suas gentes
– desolação, estupidez, fracasso
sonhos e mentiras, um rasto de ternura –
a nós, mas somente a nós conduzem, numa noite de fevereiro,
nus e ridentes com o livro nas mãos
sem saber que também ali – desolação, estupidez, fracasso –
estava escrito o nosso inexorável destino.
Juan Luis Panero
de ti e de mim nos gestos do amor, da sombra do teu corpo na cama,
do ruído de Nova York, daqueles dias que a memória inventa.
No entanto, este livro, um paperback, agora em ruínas,
teima em recordar-nos, símbolo de outra época.
É curioso pensar que esta capa suja,
este papel manchado, estes poemas,
foram mais poderosos que nós,
mais resistentes que a tua pele e a minha.
Contudo, nesta noite de verão, tantos anos depois,
as suas páginas não me levam a Spoon River e às suas gentes
– desolação, estupidez, fracasso
sonhos e mentiras, um rasto de ternura –
a nós, mas somente a nós conduzem, numa noite de fevereiro,
nus e ridentes com o livro nas mãos
sem saber que também ali – desolação, estupidez, fracasso –
estava escrito o nosso inexorável destino.
Juan Luis Panero