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sexta-feira, abril 29, 2005

Singela homenagem à grande Natália de Andrade


O nosso amor é

veeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerdeeeeeeeeeeeeeeee
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Mas não digas a ninguém

quinta-feira, abril 28, 2005

Pensamentos da lebre enquanto se passeia por Coimbra (round 2)


Não não é isso
nada que eu tenho feito
nada
que eu tenho feito

é feito de
nada
e o ditongo

eu

seguido da
primeira pessoa
do singular
do indicativo

do verbo
auxiliar
ter

tudo
que eu tenho feito
dá no mesmo

se fazer
é capaz
de uma
infinidade de
combinações
envolvendo os
códigos

morais
físicos
e religiosos

pois tudo
e nada
são sinônimos
quando

a energia in vacuo
tem o poder
de confusão

que só
nada ter feito
pode fazer
perfeito

William Carlos Williams


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quarta-feira, abril 27, 2005

post na 1ª pessoa do singular

a lebre está de trombas.


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terça-feira, abril 26, 2005

o papel e a tinta

Vendo-se o papel todo manchado pela escura negridão da tinta, fica irritado; e esta mostra-lhe que são as palavras por ela escritas a razão da conservaçao dele.

Leonardo da Vinci

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segunda-feira, abril 25, 2005

Lewis Carroll era um matemático que não tinha os algarismos todos. Do zero ao dez faltavam-lhe talvez quatro. Para preencher o espaço dos algarismos ausentes Lewis usava histórias (como os canalizadores usam uma substância gelatinosa para preencher buracos nos canos ou nas paredes).
Claro que uma história pode ou não ter pescoço. Se não o tiver, entre a cabeça e os pés é um segundo. Daí que existam história rápidas e histórias lentas. O que não há é números rápidos e números lentos.
Na matemática, portanto, a velocidade é constante, o que facilita os cálculos e a monotonia.

Gonçalo M. Tavares

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Café no Tropical

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vejam o cúmulo da margarete
25 de Abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner


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sábado, abril 23, 2005

compromisso de hoje: um casamento debaixo de chuva

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sexta-feira, abril 22, 2005

Só me faltava mais esta:P
Obrigada
changuito

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
o Alice no País da Maravilhas, claro.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Claro, por imensos, para além da Alice, as duas “apanhações” que mais me marcaram foi a pelo Carlos da Maia e a pelo Sal Paradise .

Qual foi o último livro que compraste?
El Libro de la Almohada, uma traduçao espanhola (já que não há nenhuma portuguesa) do Livro de cabeceira da Sei Shonagon

Qual o último livro que leste?
O libro de la Almohada da Sei Shonagon.

Que livros estás a ler?
O Good bones da Margaret Atwood (um livro cheios de textos deliciosos ), o Washington Dc do Gore Vidal, uma pequena antologia da poesia do Carlos de Oliveira e volta e meia e lá regresso eu ao Húmus do Raul Brandão.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Histórias de cronópios e famas do Julio Cortázar, o Ulisses do James Joyce para ver se finalmente o consigo começar a ler, o Alice :), o Húmus do Raul Brandão e as obras completas da Alejandra Pizarnik para me entreter a traduzir, que isto de estar numa ilha deserta não é só estar de papo para o ar. E como a minha ilha deserta vai ter uma ponte para a ilha do Manuel depois trocaríamos de livros.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
ao Manuel porque iria para a ilha do lado (a da ponte)
à
margarete e a Tzinha

Porque me apetece.
e porque sou um bocadinho alarve e não me contento com três pessoas passo também ao
rm
Ó Margarete olha a cançoneta que o menino da lágrima cantou ao ser postado na parede deste blog

As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Num modesto primeiro andar
A contar vindo do céu

As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Num modesto primeiro andar
A contar vindo do céu



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quinta-feira, abril 21, 2005

En las cajas de lápices guardan sus sueños los niños.

Ramón Gómez de la Serna


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quarta-feira, abril 20, 2005

Onde antes as horas eram casas que se abriam ao sol da tarde
reclamam-se agora cumplicidades embrulhadas
em cheiros onde a voz foi cortada
enviuvando o sorriso

poucos notarão que a respiração simula rugas no suor do tempo
afastam-se os ruídos como pedaços poéticos a secar nas varandas
restos de ferrugem a esvaziar a ternura que escorre das mãos

e dentro da porta fechada abrem-se vozes em mãos cheias de palavras


eue


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segunda-feira, abril 18, 2005


A roupa estendida a desfeitear raparigas
as mãos delas prendidas nas outras
os olhos em tanques de água,

os dedos frios alongados no pátio,

saem para a praça vestidas no céu
que vela os mortos, os cabelos
entrelaçados nos beirais da chuva

a roupa seca balançada os olhos.

Alexandre Nave


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sexta-feira, abril 15, 2005

lebre em modo muito criançola cantarola


Chapi Chapo
Patapo
Chapo chapi
Patapi
Biribibi
Rabada dada


dada !!

Pacha pacho
Pitipo
Pacho pacha
Pitipa
Biribibirabadadida


La, lala lala lalaa lala
La, lala lala lalaa
La lalalala lala


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Chapi Chapo
Patapo
Chapo chapi
Patapi
Biribibi
Rabada dada


Pacha pacho
Pitipo
Pacho pacha
Pitipa
Biribibirabadadida


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(e o prémio obrigada por me lembrares disto vai para ---> o supercalifragilistichespiralidoso , conseguir dizer isto duma lufada só é complicado)

quinta-feira, abril 14, 2005

Post que finalmente vê a luz da noite.

ESTOU COMPLETAMENTE SIDERADA POR ESTE ALBUM DO ANDRÉ PÁSSARO

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and we were tired of being mired,we were so tired of being mired,and we were (we were so) tired...
Flor em livro dormida

Fechado, espalmado num missal é que eu me vejo,
como peça de herbário dum comércio amoroso
que há um século se travou entre Dom Brotoejo
e Dona Amélia Joana Cisneiros Monterroso.

Antepassados meus? Qual quê! Antepassados nossos,
que ao santo sacrifício levavam floretas,
trocavam os missais (Deus meu!,hoje são ossos...)
olhos nos olhos(...ossos nos ossos das comuns valetas?)

Mais que a letra ,é o espírito que no livro procuro,
mesmo que seja só o levante da carne
duns pobres queridos que transformavam tudo
-missa, missal, flor-em mensagem e secreto alarde!

Consumidores de livros, se quiserdes salvar
vossas almas-lombadas de bárbaros prosaicos,
tereis que, furtivos, procurar, folhear
uns quantos alfarrábios e, neles, encontrar
o herbário-mensagem dos amantes heróicos!

Alexandre O'Neill



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quarta-feira, abril 13, 2005

On Mona's Smile

I know what brought
that expression to her face.
During one of her sittings
Leo said to her, "You know, Mona
you're very intelligent
for a woman."


Winona Baker



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(Como toda a casa portuguesa que se orgulha de o ser, este blog também tem reprodução do maior hype pictórico do mundo, a seu tempo virá a bela imagem do menino da lágrima )

terça-feira, abril 12, 2005

Post politicamente incorrecto que vai incomodar/irritar/chatear/aborrecer (é favor riscar o que não interessa) bastante gente

Se não se diz internete porque raio se diz blogue?


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mais uma tradução caseira da lebre

Portas trancadas


Para os anjos que habitam esta cidade,
Ainda que a sua forma mude constantemente,
todas as noites deixamos algumas batatas frias
e uma tigela de leite no parapeito.
Geralmente eles habitam o céu onde,
a propósito, não são permitidas lágrimas.
Eles empurram a lua à volta como
Um inhame cozido
A via láctea é a sua galinha
com os seus muitos filhos.
Quando é noite as vacas deitam-se
mas a lua, esse grande touro,
fica em pé.

No entanto, há lá um quarto trancado
com uma porta de ferro que não pode ser aberta.
Tem lá dentro todos os teus sonhos maus.
É o inferno.
Há quem diga que o diabo fecha a porta
por dentro.
Há quem diga que os anjos a trancam por fora.
As pessoas lá dentro não têm água
E não lhes é permitido tocar
Racham-se como macadame.
São mudas.
Não gritam socorro
excepto dentro
onde os seus corações estão cobertos de larvas

Eu gostaria de destrancar essa porta,
rodar a chave ferrugenta
e segurar cada caído nos meus braços
mas não posso, não posso.
Eu apenas me posso sentar aqui na terra
no meu lugar à mesa.


Anne Sexton


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domingo, abril 10, 2005

Parabéns a uma das pessoas mais bonitas da minha vida


"José é um nome que a gente conhece em muitas línguas:
José, Joseph, Giuseppe, Josep .
José pintou, um dia, em alguma parte do mundo, o retrato
de uma borboleta.
O papel tinha o tamanho de sua intenção.
As cores, as de seu desejo.
Pintou ainda, sobre o papel, flores para a borboleta se esconder
e galhos para descansar.
É mesmo fácil imaginar sua pintura ou faze-la, mas a
consequência não foi tão simples.
É melhor saber toda a história.
Joseph acordou com o coração cheio de domingo.
Domingo é dia em que a gente não quer nada e por isso
acontece quase tudo.
Não era domingo, mas ele se sentia em paz com o mundo.
Nesse dia ele viu o voo de uma borboleta (voo de borboleta
pode transformar qualquer dia em domingo)."


Bartolomeu Campos Queiroz

(texto ligeiramente alterado)

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MATÉRIA DE POESIA

Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesia

O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno 10x20, sujo de mato – os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstémios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral

O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjectivos –
têm muita importância para os pulmões
da poesia

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

Os loucos de água e estandarte
servem demais
O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso

Tudo o que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta

Pessoas desimportantes
dão pra poesia
qualquer pessoa ou escada

Tudo o que explique
a lagartixa da esteira
e a laminação dos sabiás
é muito importante para a poesia

O que é bom para o lixo é bom para a poesia

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços

as coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora

Aliás é também objeto de poesia
saber qual o período médio
que um homem jogado fora
pode permanecer na terra
sem nascerem em sua boca as raízes da escória

As coisas sem importância são bens de poesia

Pois é assim que um chevrolé gosmento chega ao poema,
e as andorinhas de junho.

Manoel de Barros



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quinta-feira, abril 07, 2005

Tradução caseira da lebre

Coisas que despertam uma memória querida do passado

Malva seca. Objectos usados na Festa das Bonecas. Descobrir um pedaço de tecido violeta escuro ou cor de uva no meio das páginas de um caderno.
Chove e estamos aborrecidos. Para passar o tempo revemos papéis velhos e descobrimos as cartas de um homem por quem já estivemos apaixonadas.
O leque de papel do ano passado. Uma noite de luar.


Sei Shonagon


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voltei e em modo muito
makura no soshi

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Use my body like the pages of a book. Of your book.

sexta-feira, abril 01, 2005

O computador da lebre precisa de obras urgentemente, anda perdido entre sinfonias de apitos e zumbidos e só arranca quando lhe dá na real gana.
Por isso este blog fica parado durante os próximos dias.
(espero voltar para a próxima semana)

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"Cai hoje uma destas chuvas oblíquas que enfeitam os vidros com as suas diagonais irregulares, e ponteadas, e longe, à distância, ora a direito ora de través, dão corpo ao ar.
Cai uma chuva bonita, e sente-se o vento. Estes fenómenos que podem ser tristes e dar mau estar, como se está dentro de casa apresentam-se graciosos e animam a paisagem; impõem-nos a sua familiaridade."


Irene Lisboa

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é tempo de borboletas

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E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente

Cecília Meireles