aos meus pais pelos 39 anos de casados
sexta-feira, setembro 28, 2007
quinta-feira, setembro 27, 2007
tradução caseira da lebre
É uma e trinta
meio corpo debruçado
sobre a vida inteira. Despercebida
uma estranha câimbra que nasce
nas pernas.Brilha o que
resta da lua. Os meus vazios
procuram ritos, as minhas solidões
estão sobre os sapatos
que descalcei
porque me cercava a sua pressão.
Estou inteira como a vida que olho
como a vida que me deixa
me deixa meio corpo debruçado
sobre ela.
Concha Garcia
É uma e trinta
meio corpo debruçado
sobre a vida inteira. Despercebida
uma estranha câimbra que nasce
nas pernas.Brilha o que
resta da lua. Os meus vazios
procuram ritos, as minhas solidões
estão sobre os sapatos
que descalcei
porque me cercava a sua pressão.
Estou inteira como a vida que olho
como a vida que me deixa
me deixa meio corpo debruçado
sobre ela.
Concha Garcia
quarta-feira, setembro 26, 2007
Quando amanhece penso:
Encontro-te no vento
virás abraçar-me como os ramos da árvore
e chegaremos ao coração da cidade
Ao meio-dia sei:
A distância do meu corpo ao teu grito
corresponde à do teu sopro ao meu ouvido -
eis a anatomia do silêncio
De tarde fico exausta:
Circulo pelas ruas e roço-me nas praças
À noite adormecemos:
Será que te lembras? será que me lembro?
Amanhã alegro-me de novo:
Imagino a floresta, parto o espelho
e recomeço a ir ao teu encontro.
Teresa Balté
Encontro-te no vento
virás abraçar-me como os ramos da árvore
e chegaremos ao coração da cidade
Ao meio-dia sei:
A distância do meu corpo ao teu grito
corresponde à do teu sopro ao meu ouvido -
eis a anatomia do silêncio
De tarde fico exausta:
Circulo pelas ruas e roço-me nas praças
À noite adormecemos:
Será que te lembras? será que me lembro?
Amanhã alegro-me de novo:
Imagino a floresta, parto o espelho
e recomeço a ir ao teu encontro.
Teresa Balté
terça-feira, setembro 25, 2007
já compraram a umbigo deste mês?
tem capa mailinda e artigo muito bons sobre Erwin Olaf,
Izima Kaoru, Tracey Moffatt, etc
e um poema meu
tem capa mailinda e artigo muito bons sobre Erwin Olaf,
Izima Kaoru, Tracey Moffatt, etc
e um poema meu
Caminhamos
E caminhamos numa solidão de areia,
Onde nada foi dito ainda das coisas que atravessamos
E das coisas que nos atravessam
Sem que o saibamos,
Onde a neve é a neve,
Onde a neve cobre toda a planura
E torna ainda mais espessas as nossas incertezas.
Caminhamos
Caminhamos desde sempre.
E não percebemos nada de nada.
Yves Namur
E caminhamos numa solidão de areia,
Onde nada foi dito ainda das coisas que atravessamos
E das coisas que nos atravessam
Sem que o saibamos,
Onde a neve é a neve,
Onde a neve cobre toda a planura
E torna ainda mais espessas as nossas incertezas.
Caminhamos
Caminhamos desde sempre.
E não percebemos nada de nada.
Yves Namur
segunda-feira, setembro 24, 2007
sexta-feira, setembro 21, 2007
quinta-feira, setembro 20, 2007
O que é certo é que gostei de ti.
O resto não: se exististe,
e se assim foi, qual a cor dos olhos, ora verdes
ora cinzentos, deles levantou-se uma vez
um bando de andorinhas. Quais. As rápidas,
as que não andam, as que se amam no ar.
Como foi. Ficaste doente
ou coisa assim, levaram-te, muito se passou,
acho que ia ter outro filho e esqueci-me de ti
até ouvir-te, esta noite, a horas impossíveis,
vem comigo, é tempo. Larga tudo e sai,
espero por ti ao pé da cancela.
Mas cheguei lá e o trinco
estava solto, batia ao vento
contra o poste, fechei-o, voltei para trás,
a pensar em ti, que estiveste lá,
sabe-o Deus, que abriste a cancela,
que gostei de ti e também
que a porta não encaixava bem.
Eva Gerlach
O resto não: se exististe,
e se assim foi, qual a cor dos olhos, ora verdes
ora cinzentos, deles levantou-se uma vez
um bando de andorinhas. Quais. As rápidas,
as que não andam, as que se amam no ar.
Como foi. Ficaste doente
ou coisa assim, levaram-te, muito se passou,
acho que ia ter outro filho e esqueci-me de ti
até ouvir-te, esta noite, a horas impossíveis,
vem comigo, é tempo. Larga tudo e sai,
espero por ti ao pé da cancela.
Mas cheguei lá e o trinco
estava solto, batia ao vento
contra o poste, fechei-o, voltei para trás,
a pensar em ti, que estiveste lá,
sabe-o Deus, que abriste a cancela,
que gostei de ti e também
que a porta não encaixava bem.
Eva Gerlach
segunda-feira, setembro 17, 2007
eu já vos disse que adoro as fotografias da Teresa Sá?
Marie in the living room on a rainy afternoon
e que se eu fosse do Porto ia ver a exposição de fotografia dela na maria vai com as outras
Marie in the living room on a rainy afternoon
e que se eu fosse do Porto ia ver a exposição de fotografia dela na maria vai com as outras
Etiquetas: Interrompemos a programação habitual para compromissos culturais
sábado, setembro 15, 2007
sexta-feira, setembro 14, 2007
Interrompemos a programação habitual para compromissos culturais
*patente na associação cultural Mercado Negro, em Aveiro, até 7 de Outubro.
3ª a Sábado: 13h - 00h
Domingo: 15h - 00h
R. João Mendonça, 17
3800-200 Aveiro
*Selecção dos poemas
Mercado Negro
*Design e ilustrações
Menina Limão
*patente na associação cultural Mercado Negro, em Aveiro, até 7 de Outubro.
3ª a Sábado: 13h - 00h
Domingo: 15h - 00h
R. João Mendonça, 17
3800-200 Aveiro
*Selecção dos poemas
Mercado Negro
*Design e ilustrações
Menina Limão
*Nota: as ilustrações não pretendem ser representativas ou interpretativas dos poemas. Nasceram de ideias relacionadas com a poesia, com a sua natureza e com algumas das suas temáticas.
Etiquetas: Interrompemos a programação habitual para compromissos culturais
quarta-feira, setembro 12, 2007
tradução caseira da lebre
Andar não era suficientemente rápido, por isso corremos, correr não era suficientemente rápido, por isso galopámos. Galopar não era suficientemente rápido, por isso velejámos, velejar não era suficientemente rápido por isso rolámos felizes por longos carris de metal. Os longos carris de metal não eram suficientemente rápidos, por isso conduzimos. Conduzir não era suficientemente rápido, por isso voámos. Voar não é suficientemente rápido, não para nós. Queremos lá chegar depressa. Chegar onde? A qualquer sitio onde não estejamos. Costumam dizer que uma alma humana só pode ir tão rápido quanto um homem pode andar. Nesse caso, onde estão as almas todas? Deixadas para trás. Vagueiam aqui e ali, lentamente, luzes sombrias, tremeluzentes, de noite nos pântanos, à nossa procura, mas não são suficientemente rápidas, não para nós, estamos muito à frente delas, nunca nos apanharão. É por isso que nós podemos ir tão depressa? As nossas almas não nos pesam.
Margaret Atwood
Andar não era suficientemente rápido, por isso corremos, correr não era suficientemente rápido, por isso galopámos. Galopar não era suficientemente rápido, por isso velejámos, velejar não era suficientemente rápido por isso rolámos felizes por longos carris de metal. Os longos carris de metal não eram suficientemente rápidos, por isso conduzimos. Conduzir não era suficientemente rápido, por isso voámos. Voar não é suficientemente rápido, não para nós. Queremos lá chegar depressa. Chegar onde? A qualquer sitio onde não estejamos. Costumam dizer que uma alma humana só pode ir tão rápido quanto um homem pode andar. Nesse caso, onde estão as almas todas? Deixadas para trás. Vagueiam aqui e ali, lentamente, luzes sombrias, tremeluzentes, de noite nos pântanos, à nossa procura, mas não são suficientemente rápidas, não para nós, estamos muito à frente delas, nunca nos apanharão. É por isso que nós podemos ir tão depressa? As nossas almas não nos pesam.
Margaret Atwood
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segunda-feira, setembro 10, 2007
sexta-feira, setembro 07, 2007
Tu fazes o silêncio dos lilases que esvoaçam
na minha tragédia do vento no coração.
Tu fizeste da minha vida um conto para crianças
onde naufrágios e mortes
são pretextos de cerimónias adoráveis.
Alejandra Pizarnik
na minha tragédia do vento no coração.
Tu fizeste da minha vida um conto para crianças
onde naufrágios e mortes
são pretextos de cerimónias adoráveis.
Alejandra Pizarnik
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quinta-feira, setembro 06, 2007
Nesta vida – é um facto – estamos sempre
a desaprender coisas novas. O mundo
vai guardando a luz nas suas bainhas negras
e temos a melindrosa companhia dos fantasmas
que nos procuraram: eles governam rudemente
os nossos pequenos reinos e há um ceptro novo
para cada coroação. De repente, com a volta
das estações, damos por nós muito mais velhos
nas fotografias. As razões que nos assistiam
empalidecem em paisagens cruelmente coagidas
pela luz. Fomos expulsos dos grandes palácios
da alegria? Onde estão os mapas que nos guiavam
lá dentro, exactos como o instinto? Não sabemos
responder: o caminho turva-se: são as incertezas
da maturidade. As palavras não nos iluminam
e o amor está condenado aos defeitos naturais
do coração, que ainda assim há-de voltar a arder
sem defesa nem socorro uma vez mais.
Rui Pires Cabral
a desaprender coisas novas. O mundo
vai guardando a luz nas suas bainhas negras
e temos a melindrosa companhia dos fantasmas
que nos procuraram: eles governam rudemente
os nossos pequenos reinos e há um ceptro novo
para cada coroação. De repente, com a volta
das estações, damos por nós muito mais velhos
nas fotografias. As razões que nos assistiam
empalidecem em paisagens cruelmente coagidas
pela luz. Fomos expulsos dos grandes palácios
da alegria? Onde estão os mapas que nos guiavam
lá dentro, exactos como o instinto? Não sabemos
responder: o caminho turva-se: são as incertezas
da maturidade. As palavras não nos iluminam
e o amor está condenado aos defeitos naturais
do coração, que ainda assim há-de voltar a arder
sem defesa nem socorro uma vez mais.
Rui Pires Cabral