Atarda-me o olhar naquela escarpa (Distância intranquila de sombra Ou penas de pássaros acamadas?) Pena de mim mesmo enquanto lembro No pálido ar, homem obscuro, A sua imagem, inacessível. Desconheço o azul de mulher tão lívida. O coração é uma pequenina pedra rosa. As minhas lágrimas são de metal.
1. Total music volume in my computer: muita muita muita 2. The last CD I bought: nao comprei, foi-me oferecido por um grande amigo meu, o rejoicing in the hands do devendra banhart.
3. Song playing right now: Andrew bird - fake palindromes Uma cançao perfeita
4. Five songs I listen to a lot lately, or that mean a lot to me: SÓ? CINCO É MUITO POUCO 1. Alice - Tom Waits. (esta é uma escolha óbvia. I fell through the ice.Of Alice-There's only Alice) 2. Everyone's gotta learn sometime - Beck. (fiquei viciada depois de ver o eternal sunshine of the spotless mind) 3. De Cara A La Pared - Lhasa De Sela 4. November - Azure ray 5. Fade Into You - Mazzy Star
obrigada Manel :) Estás aqui comigo à sombra do sol escrevo e oiço certos ruídos domésticos e a luz chega-me humildemente pela janela e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama que uso para ser também isto este bicho de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem o que sei o que faço ou então sou eu que julgo que o sabem e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou outra coisa esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço bem entendido o que faço com este braço Estás aqui comigo e à volta são as paredes e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro nome embora no mesmo nome este nome de terra de dor de paredes este nome doméstico Afinal fui isto nada mais do que isto as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou dissimular isto a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome que não merda e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das outras coisas Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa uma coisa para além disto que não isto Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos tu és em cada gesto todos os teus gestos e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas perdoa pagares tão alto preço por estar aqui perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer sou isto é certo mas sei que tu estás aqui
por trás dos pássaros está um quadro a estalar e eu sozinha vestida de borboletas sei que recorto as frases onde abundam os tons com que escrevo “adeus”
estou aqui para marcar as palavras da cor de noites sobre noites
e nada mais que uma sombra a atravessar os fragmentos de um corpo a desfiar-se na presença de ausentes
fugir num entardecer a copiar manchas que se abrem de par em par a palavras como “sempre”
tinhas realmente nome de mar minha impossível metade mas não tinha corpo nem alma para dar-te Deus fez-me o reverso do que chamam homem gosto de estátuas geladas e de antípodas mas sabe que quando oiço o mar peço para ti um verso que saiba tocar-te
São peixes abissais, cegos no mais fundo dos seus corpos, com uma apaixonada cegueira que os cobre como se fosse pele. Deslocam-se fogosos por abismos e fossas, submersos e despidos de suas próprias escamas, organismos exaustos e incolores sabendo-se matérias em via de extinção. Falo dos Desejos: dos sobreviventes dos desejos. Para quê o seu esqueleto, as suas barbatanas cortantes, a sua gelatina branca, o seu existir sinuoso e submarino e os seus carapazões simulados. São espécies distintas e inimigas e cada uma esgota o seu ardente reportório, a sua letal emergência pois não se reproduzem em nenhuma leve modalidade de cativeiro. -Quando subir nas redes gotejantes deixa-me, e que a luz me dissolva e me apague.
Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro. Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas. Tudo é veloz e extremo. Pó em torno da tua dor. Pó em torno do teu choro. O que te atinge em pleno voo. A cegueira que te atinge em pleno voo. Ergues-te para a mais secreta alegria de abandonares o teu corpo. Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro. A tua história, onde escreveste o indefinível do teu nome. Eras criança. Estendias as tuas asas. E as tuas asas faziam a imensa sombra sob a qual se abrigava o que era reconhecível e amável. Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas. Tens o talento antigo de estenderes as tuas asas. Agora quebradas, para sempre quebradas. Já sem a amplitude do início, é no ocaso que escondes a tua vergonha. Por tua vontade, desejo e mágoa exumas a palavra do passado, a inocência que o não era. Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.
Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come.
Lembram-se de uns desenhos animados (70s) onde aparecia sempre um mocho (marioneta, acho eu) de óculos, dentro de uma árvore a falar com um mochinho? Alguém se lembra de que desenhos animados eram?
a lebre em modo méxico lindo (pequena homenagem à minha chavela)
LUZ DE LUNA
Yo quiero luz de luna Para mi noche triste Para soñar divina La ilusión que me trajiste Para sentirte mía, mía tú Como ninguna Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna Si ya no vuelves nunca Provincianita mía A mi senda querida Que está triste y está fría En vez de en mi almohada Lloraré sobre mi tumba Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna Yo siento tus amarras Como garfios, como garras Que me ahogan en la playa De la farra y el dolor Y siento tus cadenas a rastras En mi noche callada Que sea plenilunada Y azul como ninguna Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna Pues desde que te fuiste No he tenido luz de luna.
Esta noite morrerás. Quando a lua vier tocar-me o rosto terás partido do meu leito e aquele que procurar a marca dos teus passos encontra urtigas crescendo por sobre o teu nome. Esta noite morrerás. Quando a lua vier tocar-me o rosto terás partido do meu leito e uma gota de sangue ressequido é a marca dos teus passos. No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio e na casa do tempo a hora é adorno. Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca o fim de ...um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo apaga a marca dos teus passos por sobre o meu nome. Constante. O mar é isso. A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo por sobre o teu nome. O mar é tu morreste. O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu partiste e no meu leite crescem folhas sangue. A velocidade do sangue é tu partiste. A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua e a opacidade do mar. No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um prisma, um girassol em panóplia. Agora a lua chega devagar e o mar é leito de tu teres partido, uma infrutescência de eu procurar a marca dos teus passos por sobre o meu rosto. A noite é eu procurar a marca dos teus passos. Esta noite a lua terá um halo de concêntricas florações de gotas do teu sangue e a irisada sombra do meu leito é o teu rosto iminente. A lua é uma seta. Tu partiste é o silêncio em forma de lança. Esta noite vou erguer-me do meu leito e quando a lua vier tocar-me o rosto vou uivar como um lobo. Vou clamar pelo teu sangue extinto. Vou desejar a tua carne viva, os teus membros esparsos, a tua língua solta. O teu ventre, lua. Vou gritar e enterrar as unhas nos teus olhos até que o mar se abra e a lua possa vir tocar-me o rosto. Esta noite vou arrancar um cabelo e com a tua ausência faço um pêndulo para interrogar a lua por tu teres partido e a marca dos teus passos ser a razão mágica de a lua poder surgir de noite e urtigas crescerem no meu leito. E se encontrar a marca dos teus passos vou crivar-lhe o coração de alfinetes para que tu partiste seja a razão mágica de tu poderes morrer-te. Quando a lua vier em forma de lança vai trespassar um pássaro para lhe ler nas entranhas a direcção tu partiste e a marca dos teus passos consiste nos olhos abertos de um pássaro esventrado. Ah, mas o luar é uma pluma do meu leito e a lua é o colo de tu morreste para poderes enfim tocar-me o rosto.
Prometo escrever-vos, lenços que se perdem no horizonte, risos que empalidecem, rostos que caem sem peso sobre a erva húmida, onde as aranhas tecem agora as suas teias azuis. Na casa do bosque estalam, de noite, as velhas madeiras, o vento agita coçados cortinados, entra apenas a lua através das gretas. Os espelhos silenciosos, agora, que grotescos!, envenenados pentes, maçãs, malefícios, que cheiro a lugar fechado!, agora, que grotescos!. Terei saudades vossas, nunca vos esquecerei. Lenços que se perdem no horizonte. Ao longe ouvem-se pancadas secas, uma após outra as árvores sucumbem. Está à venda o jardim das cerejeiras.
Uma mulher que espera. Um homem que contempla a sua mortalidade. As estagnadas vendas no imobiliário. A nuvem atómica sobre recifes de corais. O imprevidente regresso à casa da tortura. Amazonas insaciáveis raptam guerreiros feitos escravos. O metal como delírio erótico. A aniquiliaçao do mundo num enorme desastre automóvel. 6 de Junho a partir das 19 Jazzanova e outros que tais. O índice Dow Jones como fetiche. O sangue insurrecto ou inocente mancha o asfalto. O vibrafone mais cool do século. A estranha vida do senhor Musaranho. O cântico das baleias em águas tropicais. A torre de aço e vidro que arde por dentro e desaba. O negro-vinil do corvo. Sete palmos de terra.
A TV radical não será vista por ninguém de bom nome.