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segunda-feira, maio 30, 2005

Exclamação da lebre enquanto lê Vila-Matas

ENA, EU SOU PORTÁTIL !!!


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domingo, maio 29, 2005

Pintei os sapatos de verde
para pisar um relvado.
Pus um vestido de rosas
com seu perfume encarnado.

Colei pratas nas janelas
como estrelas amarelas.

Fiz de uma vassoura
de pernas para o ar
uma palmeira
ao vento a cantar.

Baloiçando o baloiço
do velho cortinado
voei enfim
pelo meu jardim
inventado.


Luísa Ducla Soares

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Atarda-me o olhar naquela escarpa
(Distância intranquila de sombra
Ou penas de pássaros acamadas?)
Pena de mim mesmo enquanto lembro
No pálido ar, homem obscuro,
A sua imagem, inacessível.
Desconheço o azul de mulher tão lívida.
O coração é uma pequenina pedra rosa.
As minhas lágrimas são de metal.

José Emílio-Nelson



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sexta-feira, maio 27, 2005

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thanks KT (it was very hard to answer this thing)

1. Total music volume in my computer:

muita muita muita

2. The last CD I bought:

nao comprei, foi-me oferecido por um grande amigo meu, o rejoicing in the hands do devendra banhart.

3. Song playing right now:

Andrew bird - fake palindromes
Uma cançao perfeita

4. Five songs I listen to a lot lately, or that mean a lot to me:

SÓ? CINCO É MUITO POUCO
1. Alice - Tom Waits. (esta é uma escolha óbvia. I fell through the ice.Of Alice-There's only Alice)
2. Everyone's gotta learn sometime - Beck. (fiquei viciada depois de ver o eternal sunshine of the spotless mind)
3. De Cara A La Pared - Lhasa De Sela
4. November - Azure ray
5. Fade Into You - Mazzy Star


four people to whom I'm passing the baton:
o
uandwhosearmy , os meninos do top5records (eu qualquer dia volto a escrevinhar)(sim, sim, senhor menino osdiasfelizes isto é consigo também ), o Ri.Ma e ao Pedro

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quinta-feira, maio 26, 2005

You talkin' to me? Well I'm the only one here

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As palavras dançam nos olhos das pessôas conforme o palco dos olhos de cada um.
Almada Negreiros

quarta-feira, maio 25, 2005

obrigada Manel :)

Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem
o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou
outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome
que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das
outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como
a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui


Ruy Belo


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terça-feira, maio 24, 2005

por trás dos pássaros está um quadro a estalar
e eu sozinha vestida de borboletas
sei que recorto as frases onde abundam
os tons com que escrevo “adeus”

estou aqui para marcar as palavras
da cor de noites sobre noites

e nada mais que uma sombra a atravessar
os fragmentos de um corpo a desfiar-se
na presença de ausentes

fugir num entardecer a copiar manchas
que se abrem de par em par a
palavras como “sempre”


eue


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segunda-feira, maio 23, 2005

Canto do Sonho

Lá onde acaba a montanha,
nos cimos, nem eu sei onde,
vagueei por onde a minha cabeça e o meu coração pareciam perdidos,
vagueei ao longe.

índios papagos, tradução de Herberto Helder

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sábado, maio 21, 2005

Musiquinha para animar um fim de tarde soalheiro

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sexta-feira, maio 20, 2005

AS NOVAS AVENTURAS DOS CINCO

We are the Famous Five
We're coming back to you
Whenever there's time
Coming back to you
Time after time, after time.


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(os dois que faltam estão num safari a fotografar girafas)

quarta-feira, maio 18, 2005

Hoje

If you don't want me

Clueless we soldiered on
Stillborn to worlds unknown
People who've never been
They cry no tears at all

If you don't want me
Let me know
If you don't need me
Then let me go
If you don't love me anymore
Then you don't love me any less

Clear skies were never mine
Dark clouds are all I've known
That people who've never seen
True love could only know

If you don't want me
Let me know
If you don't need me
Then tell me so
If you don't love me anymore
Then you don't love me any less

If you don't want me
Let me know
If you don't need me
Then let me go
If you don't love me anymore
Then you don't love me any less

You don't love me any less


Perry Blake


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xxxvi

tinhas realmente nome de mar
minha impossível metade mas
não tinha corpo nem alma para dar-te
Deus fez-me o reverso do que chamam homem
gosto de estátuas geladas e de antípodas
mas sabe que quando oiço o mar
peço para ti um verso que saiba tocar-te

pedro sena-lino



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terça-feira, maio 17, 2005

São peixes abissais,
cegos no mais fundo dos seus corpos,
com uma apaixonada cegueira que os cobre
como se fosse pele.
Deslocam-se fogosos por abismos e fossas,
submersos e despidos
de suas próprias escamas,
organismos exaustos e incolores
sabendo-se matérias em via de extinção.
Falo dos Desejos: dos sobreviventes
dos desejos.
Para quê o seu esqueleto, as suas barbatanas cortantes,
a sua gelatina branca, o seu existir
sinuoso e submarino
e os seus carapazões simulados.
São espécies distintas e inimigas
e cada uma esgota
o seu ardente reportório, a sua letal emergência
pois não se reproduzem em nenhuma
leve modalidade de cativeiro.
-Quando subir nas redes gotejantes
deixa-me, e que a luz
me dissolva e me apague.

Aurora Luque


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segunda-feira, maio 16, 2005

Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.
Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas.
Tudo é veloz e extremo. Pó em torno da tua dor. Pó em torno do teu choro.
O que te atinge em pleno voo. A cegueira que te atinge em pleno voo.
Ergues-te para a mais secreta alegria de abandonares o teu corpo.
Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.
A tua história, onde escreveste o indefinível do teu nome. Eras criança.
Estendias as tuas asas. E as tuas asas
faziam a imensa sombra sob a qual se abrigava
o que era reconhecível e amável.
Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas.
Tens o talento antigo de estenderes as tuas asas. Agora quebradas,
para sempre quebradas. Já sem a amplitude do início,
é no ocaso que escondes a tua vergonha.
Por tua vontade, desejo e mágoa
exumas a palavra do passado, a inocência que o não era.
Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.


Luís Quintais


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sábado, maio 14, 2005

tempo de papagaios de papel

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quinta-feira, maio 12, 2005

Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia
encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da
outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não
ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o
próximo ou então ter muito cuidado com o que se come.

Ana Hatherly



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quarta-feira, maio 11, 2005

encontrei (obrigada rui:))

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(não se lembram?)

segunda-feira, maio 09, 2005

A lebre armada em pudica

Meu coração posto a nu?
Jamais

De pijama talvez;
Mas jamais posto a nu.
Jamais...


Juca Sardan

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domingo, maio 08, 2005

Alto e pára o baile

A lebre precisa de ajuda

Lembram-se de uns desenhos animados (70s) onde aparecia sempre um mocho (marioneta, acho eu) de óculos, dentro de uma árvore a falar com um mochinho?
Alguém se lembra de que desenhos animados eram?


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sábado, maio 07, 2005

a lebre em modo méxico lindo (pequena homenagem à minha chavela)

LUZ DE LUNA

Yo quiero luz de luna
Para mi noche triste
Para soñar divina
La ilusión que me trajiste
Para sentirte mía, mía tú
Como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Si ya no vuelves nunca
Provincianita mía
A mi senda querida
Que está triste y está fría
En vez de en mi almohada
Lloraré sobre mi tumba
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Yo siento tus amarras
Como garfios, como garras
Que me ahogan en la playa
De la farra y el dolor
Y siento tus cadenas a rastras
En mi noche callada
Que sea plenilunada
Y azul como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido
luz de luna.



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sexta-feira, maio 06, 2005

O rosto


Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
é a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora é adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca o fim de ...um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo apaga
a marca dos teus passos por sobre o meu nome.
Constante.
O mar é isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo por sobre o teu nome.
O mar é tu morreste.
O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu partiste e no meu leite crescem folhas sangue.
A velocidade do sangue é tu partiste.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um prisma, um girassol em panóplia.
Agora a lua chega devagar e o mar é leito de tu teres partido, uma infrutescência de eu procurar a marca dos teus passos por sobre o meu rosto.
A noite é eu procurar a marca dos teus passos.
Esta noite a lua terá um halo de concêntricas florações de gotas do teu sangue
e a irisada sombra do meu leito é o teu rosto iminente.
A lua é uma seta.
Tu partiste é o silêncio em forma de lança.
Esta noite vou erguer-me do meu leito e quando a lua vier tocar-me o rosto
vou uivar como um lobo.
Vou clamar pelo teu sangue extinto.
Vou desejar a tua carne viva, os teus membros esparsos, a tua língua solta.
O teu ventre, lua.
Vou gritar e enterrar as unhas nos teus olhos até que o mar se abra e a lua
possa vir tocar-me o rosto.
Esta noite vou arrancar um cabelo e com a tua ausência faço um pêndulo para
interrogar a lua por tu teres partido e a marca dos teus passos ser a razão mágica de a lua poder surgir de noite e urtigas crescerem no meu leito.
E se encontrar a marca dos teus passos vou crivar-lhe o coração de alfinetes
para que tu partiste seja a razão mágica de tu poderes morrer-te.
Quando a lua vier em forma de lança vai trespassar um pássaro para lhe ler nas
entranhas a direcção tu partiste e a marca dos teus passos consiste nos olhos
abertos de um pássaro esventrado.
Ah, mas o luar é uma pluma do meu leito e a lua é o colo de tu morreste para
poderes enfim tocar-me o rosto.


Ana Hatherly

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quinta-feira, maio 05, 2005

Turns out that lonely people are all the same

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(thanks KT)

quarta-feira, maio 04, 2005

Branca-de-neve despede-se dos sete anões

Prometo escrever-vos, lenços que se perdem no horizonte, risos que empalidecem, rostos que caem sem peso sobre a erva húmida, onde as aranhas tecem agora as suas teias azuis. Na casa do bosque estalam, de noite, as velhas madeiras, o vento agita coçados cortinados, entra apenas a lua através das gretas. Os espelhos silenciosos, agora, que grotescos!, envenenados pentes, maçãs, malefícios, que cheiro a lugar fechado!, agora, que grotescos!. Terei saudades vossas, nunca vos esquecerei. Lenços que se perdem no horizonte. Ao longe ouvem-se pancadas secas, uma após outra as árvores sucumbem. Está à venda o jardim das cerejeiras.

Leopoldo María Panero


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terça-feira, maio 03, 2005

A botânica do país da lebre (1)

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Armchairia Comfortabilis

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Shoebootia Utilis

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Tickia Orologica

(herbário compilado graças ao fantástico Edward Lear)

domingo, maio 01, 2005

Zapping


Uma mulher que espera.
Um homem que contempla a sua mortalidade.
As estagnadas vendas no imobiliário.
A nuvem atómica sobre recifes de corais.
O imprevidente regresso à casa da tortura.
Amazonas insaciáveis raptam guerreiros feitos escravos.
O metal como delírio erótico.
A aniquiliaçao do mundo num enorme desastre automóvel.
6 de Junho a partir das 19 Jazzanova e outros que tais.
O índice Dow Jones como fetiche.
O sangue insurrecto ou inocente mancha o asfalto.
O vibrafone mais cool do século.
A estranha vida do senhor Musaranho.
O cântico das baleias em águas tropicais.
A torre de aço e vidro que arde por dentro e desaba.
O negro-vinil do corvo.
Sete palmos de terra.

A TV radical não será vista por ninguém de bom nome.


Luís Quintais



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