Isabel de Sá
quinta-feira, março 31, 2011
Quando em noites de insónia acontece pensar naquilo que éramos e nos vem à memória uma ou outra imagem feliz, subitamente ficamos conscientes da vertigem do tempo. Nessas noites entro em mim própria e procuro saber qual a razão que me fez tomar certa atitude, o que me leva a escrever e ficar dependente das palavras. Penso no poema onde a sobrevivência pela escrita é possível. Escrever é como estar vivo; existe o apelo abísmico e a luz do sol.
Isabel de Sá
Isabel de Sá
terça-feira, março 29, 2011
quinta-feira, março 24, 2011
a zine mailinda do mundo
para fazer o download
e tem o blog aqui
para ler online
Etiquetas: Interrompemos a programação habitual para compromissos culturais, Interrompemos a programação habitual para compromissos emocionais
quarta-feira, março 23, 2011
De cara a la pared
foi talvez a nossa última canção.
oiço ainda os corpos a vincar a noite,
um campo minado de corações tristes
explodindo o rosto na parede.
muitas músicas depois
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela: ficara-me sempre, afinal,
um terrível verso solitário
e a culpa de a ter levado
a um coração onde as canções
morreriam de frio.
Renata Correia Botelho
foi talvez a nossa última canção.
oiço ainda os corpos a vincar a noite,
um campo minado de corações tristes
explodindo o rosto na parede.
muitas músicas depois
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela: ficara-me sempre, afinal,
um terrível verso solitário
e a culpa de a ter levado
a um coração onde as canções
morreriam de frio.
Renata Correia Botelho
segunda-feira, março 21, 2011
domingo, março 20, 2011
sexta-feira, março 18, 2011
quarta-feira, março 16, 2011
o meu primeiro poema/baboseira (whatever)
tarde chuvosa sombria com
Las Vegas como destino de sonho
ideal, de pelúcia e flamingos
ouvindo pink martinis e vendo cowboys de neon
fumando lucky strikes deleitando-se com o striptease
de showgirls manhosas Barbies à procura do seu ELVIS
por entre as nuvens de fumo
de hotéis de luxo decadente
com lustres estilhaçados onde todos
os princípios barrocos são cortados
ou terminados no tapete ou na cama
dormir ou não dormir
eis a velha e eterna questão
que termina num cabide com ou sem roupa
de perfil por cima de igrejas coloridas
com casamentos ou farsas de tule
cultos mediáticos
católicos ou talvez não
Serão eles marítimos?
embarcações drifting up no meio de um mar de cimento
marés vivas com pin ups de vermelho
e canastrões embrutecidos
por que me escreves?
Quem és?
Será que importa? Talvez!
sim ou não?
mas como a curiosidade e os gatos são eternos
amigos amantes e ou rivais
eu estou morta ou talvez não
por saber as respostas ou perguntas!
O puro prazer da escrita e leitura suplanta por vezes o seu objectivo
velha questão literária
a forma ou o conteúdo
batalha campal entre formalistas
russos
ou talvez não.
maria sousa
tarde chuvosa sombria com
Las Vegas como destino de sonho
ideal, de pelúcia e flamingos
ouvindo pink martinis e vendo cowboys de neon
fumando lucky strikes deleitando-se com o striptease
de showgirls manhosas Barbies à procura do seu ELVIS
por entre as nuvens de fumo
de hotéis de luxo decadente
com lustres estilhaçados onde todos
os princípios barrocos são cortados
ou terminados no tapete ou na cama
dormir ou não dormir
eis a velha e eterna questão
que termina num cabide com ou sem roupa
de perfil por cima de igrejas coloridas
com casamentos ou farsas de tule
cultos mediáticos
católicos ou talvez não
Serão eles marítimos?
embarcações drifting up no meio de um mar de cimento
marés vivas com pin ups de vermelho
e canastrões embrutecidos
por que me escreves?
Quem és?
Será que importa? Talvez!
sim ou não?
mas como a curiosidade e os gatos são eternos
amigos amantes e ou rivais
eu estou morta ou talvez não
por saber as respostas ou perguntas!
O puro prazer da escrita e leitura suplanta por vezes o seu objectivo
velha questão literária
a forma ou o conteúdo
batalha campal entre formalistas
russos
ou talvez não.
maria sousa
Etiquetas: velharias
terça-feira, março 15, 2011
Quando duas almas, e digo bem,
se enamoram uma da outra,
estamos perante um caso fragrante
de romantismo inglês. A princesa,
o dragão e o senhor chapéu de coco:
tanto basta para um drama
em que o remorso é o artista
principal. São assim os infelizes,
não conseguem partir um prato
sem ficar tolhidos pelo sentimento
de culpa. E por isso, sentem eles,
o melhor é estar quieto na berma
do sofá, e ter medo de tudo,
de tudo menos da infelicidade.
José Miguel Silva
se enamoram uma da outra,
estamos perante um caso fragrante
de romantismo inglês. A princesa,
o dragão e o senhor chapéu de coco:
tanto basta para um drama
em que o remorso é o artista
principal. São assim os infelizes,
não conseguem partir um prato
sem ficar tolhidos pelo sentimento
de culpa. E por isso, sentem eles,
o melhor é estar quieto na berma
do sofá, e ter medo de tudo,
de tudo menos da infelicidade.
José Miguel Silva
sexta-feira, março 11, 2011
Fumam à janela, o vento frio
desfaz o fumo, os dedos tremem.
Não sabem uns dos outros,
espalhados pela cidade, mas
procuram as luzes ainda acesas
noutras casas. Noite dentro,
o silêncio dos que dormem
é uma afronta, desleixo pueril
de quem consegue ignorar
as facadas do tempo, a areia
entre os dedos, o sobressalto.
José Mário Silva
desfaz o fumo, os dedos tremem.
Não sabem uns dos outros,
espalhados pela cidade, mas
procuram as luzes ainda acesas
noutras casas. Noite dentro,
o silêncio dos que dormem
é uma afronta, desleixo pueril
de quem consegue ignorar
as facadas do tempo, a areia
entre os dedos, o sobressalto.
José Mário Silva
quinta-feira, março 10, 2011
segunda-feira, março 07, 2011
domingo, março 06, 2011
quinta-feira, março 03, 2011
a minha vida
Eu aos quatro anos na Feira Popular, às cavalitas do meu pai, a comer uma nuvem de algodão-doce lá nas alturas e a olhar para a minha mãe, tão pequenina, cá em baixo, a sorrir. Eu aos seis anos, com uma boneca partida, a perguntar à minha mãe se ela morreu e se vai para o céu como os meninos bons. Eu aos nove anos com um vestido novo, vermelho com riscas brancas muito finas, é o meu aniversário, estou feliz e as velas do bolo não se apagam, por muito que eu sopre. Eu aos treze anos dentro da cama, numa manhã de Inverno, a sentir um fio de sangue quente e a voz da minha mãe a dizer-me que é mesmo assim, filha, agora já és uma mulherzinha. Eu aos quinze anos encostada a uma árvore, os lábios do rapaz mais bonito da escola a aproximarem-se da minha boca e eu sem saber o que fazer. Eu aos vinte e dois anos, recém-formada, a entrar pela primeira vez num escritório e a perceber que o emprego pode ser uma prisão. Eu aos vinte e quatro anos à porta da igreja, com o Jorge a meu lado e a família nas escadas e os amigos a lançarem arroz e os pés inchados e a chuva súbita e a Catarina a crescer dentro de mim sem ninguém saber. Eu aos vinte e cinco anos na maternidade, respirando desordenadamente e fazendo força às cegas, o corpo em alvoroço, a luz mortiça nas paredes brancas, a dor maior que o mundo, o grito preso na garganta e depois aquele milagre, a minha filha pousada junto aos meus seios, a respirar comigo. Eu aos trinta anos num automóvel verde, a caminho do Algarve, com a Catarina lá atrás, a brincar com as tranças e a pedir um irmãozinho. Vejo a minha vida num relance, tal e qual como dizem que acontece a quem morre de repente. Não sei nadar, estou fora de pé e na praia continuam todos distraídos.
José Mário Silva
Eu aos quatro anos na Feira Popular, às cavalitas do meu pai, a comer uma nuvem de algodão-doce lá nas alturas e a olhar para a minha mãe, tão pequenina, cá em baixo, a sorrir. Eu aos seis anos, com uma boneca partida, a perguntar à minha mãe se ela morreu e se vai para o céu como os meninos bons. Eu aos nove anos com um vestido novo, vermelho com riscas brancas muito finas, é o meu aniversário, estou feliz e as velas do bolo não se apagam, por muito que eu sopre. Eu aos treze anos dentro da cama, numa manhã de Inverno, a sentir um fio de sangue quente e a voz da minha mãe a dizer-me que é mesmo assim, filha, agora já és uma mulherzinha. Eu aos quinze anos encostada a uma árvore, os lábios do rapaz mais bonito da escola a aproximarem-se da minha boca e eu sem saber o que fazer. Eu aos vinte e dois anos, recém-formada, a entrar pela primeira vez num escritório e a perceber que o emprego pode ser uma prisão. Eu aos vinte e quatro anos à porta da igreja, com o Jorge a meu lado e a família nas escadas e os amigos a lançarem arroz e os pés inchados e a chuva súbita e a Catarina a crescer dentro de mim sem ninguém saber. Eu aos vinte e cinco anos na maternidade, respirando desordenadamente e fazendo força às cegas, o corpo em alvoroço, a luz mortiça nas paredes brancas, a dor maior que o mundo, o grito preso na garganta e depois aquele milagre, a minha filha pousada junto aos meus seios, a respirar comigo. Eu aos trinta anos num automóvel verde, a caminho do Algarve, com a Catarina lá atrás, a brincar com as tranças e a pedir um irmãozinho. Vejo a minha vida num relance, tal e qual como dizem que acontece a quem morre de repente. Não sei nadar, estou fora de pé e na praia continuam todos distraídos.
José Mário Silva