sexta-feira, dezembro 31, 2010
terça-feira, dezembro 28, 2010
segunda-feira, dezembro 27, 2010
sexta-feira, dezembro 24, 2010
quinta-feira, dezembro 23, 2010
porque hoje faz todo o sentido ser para ti
(parabéns, minha gaija linda)
Roteiro para um paraíso privado
Deitar-se alguma vez nos sulcos
do sono da noite anterior,
reconhecendo como um felino doméstico
o cheiro das nossas mantas. Não
lavar os dentes e sobretudo esquecer
de baixar as persianas. Coleccionar
pontas sucessivas de cigarros, jornais
de muitos ontens e rimas
de livros lidos só três paginas. Não
endireitar a curva daquele candeeiro,
deixar as gavetas abertas
com colírios, comprimidos e roupas
à vista. Amontoar em cima da cómoda
brincos ímpares, perfumes sem tampa, pequenos espelhos
quebrados, alfinetes, cartas, rascunhos
e chávenas de chá servido há dias, deixar
calar-se o CD com os lieder de Schumann
afastando os sapatos de muitos caminhos
e a roupa de todas as horas
Inês Lourenço
(parabéns, minha gaija linda)
Roteiro para um paraíso privado
Deitar-se alguma vez nos sulcos
do sono da noite anterior,
reconhecendo como um felino doméstico
o cheiro das nossas mantas. Não
lavar os dentes e sobretudo esquecer
de baixar as persianas. Coleccionar
pontas sucessivas de cigarros, jornais
de muitos ontens e rimas
de livros lidos só três paginas. Não
endireitar a curva daquele candeeiro,
deixar as gavetas abertas
com colírios, comprimidos e roupas
à vista. Amontoar em cima da cómoda
brincos ímpares, perfumes sem tampa, pequenos espelhos
quebrados, alfinetes, cartas, rascunhos
e chávenas de chá servido há dias, deixar
calar-se o CD com os lieder de Schumann
afastando os sapatos de muitos caminhos
e a roupa de todas as horas
Inês Lourenço
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
(O soneto que só errado ficou certo)
Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.
Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guia
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.
Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.
Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva
José Gomes Ferreira
(O soneto que só errado ficou certo)
Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.
Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guia
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.
Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.
Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva
José Gomes Ferreira
sábado, dezembro 18, 2010
sexta-feira, dezembro 17, 2010
quando retiramos palavras da rua
dentro da janela fica a cidade
onde não fizemos senão esconder restos de vida
o ponto de fuga a esta paisagem
não passa de um cigarro aceso ao longe
a noite é assim o palco reservado
a um ensaio de coisas por nomear
maria sousa
dentro da janela fica a cidade
onde não fizemos senão esconder restos de vida
o ponto de fuga a esta paisagem
não passa de um cigarro aceso ao longe
a noite é assim o palco reservado
a um ensaio de coisas por nomear
maria sousa
Etiquetas: velharias
quarta-feira, dezembro 15, 2010
sábado, dezembro 11, 2010
sexta-feira, dezembro 10, 2010
para não te perderes pensas
em deixar marcas pelo caminho
guiar-te pelo barulho dos carros
todos os dias fazes a mala
e improvisas mapas com o lápis
viagens para o muito longe
mas continuas sentada na sala
e os únicos caminhos são
rastos de migalhas e lágrimas
é à sua sombra que vais continuar
a usar o lápis vermelho
e as árvores lá fora são apenas
pontos sem nome marcados
a verde no mapa
maria sousa
em deixar marcas pelo caminho
guiar-te pelo barulho dos carros
todos os dias fazes a mala
e improvisas mapas com o lápis
viagens para o muito longe
mas continuas sentada na sala
e os únicos caminhos são
rastos de migalhas e lágrimas
é à sua sombra que vais continuar
a usar o lápis vermelho
e as árvores lá fora são apenas
pontos sem nome marcados
a verde no mapa
maria sousa
quarta-feira, dezembro 08, 2010
chegas de novo a casa
e guardas do tempo a fuga
marcas outra vez dias
para abrir feridas
como se viesse dos pássaros a acusação
de não saberes medir esquecimentos
respiras até à dor para não sentir mais nada
maria sousa
e guardas do tempo a fuga
marcas outra vez dias
para abrir feridas
como se viesse dos pássaros a acusação
de não saberes medir esquecimentos
respiras até à dor para não sentir mais nada
maria sousa
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segunda-feira, dezembro 06, 2010
por agora as palavras são
marcas que os dedos deixam na pele
quando já não há restos de voz na fala
no momento em que devagar escrevo
silêncio no corpo
como movimento imperfeito da respiração
aceito lágrimas
maria sousa
marcas que os dedos deixam na pele
quando já não há restos de voz na fala
no momento em que devagar escrevo
silêncio no corpo
como movimento imperfeito da respiração
aceito lágrimas
maria sousa
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sexta-feira, dezembro 03, 2010
amanhã vou afundar-me no outono
passar para além do reflexo do espelho
a palavra que se dissolve na respiração
onde está o coração? é como metáfora do
silêncio que ocupa o teu lugar
e eu estou no meio de um mapa de medos
a cruzar imagens para definir a estrutura da memória
maria sousa
passar para além do reflexo do espelho
a palavra que se dissolve na respiração
onde está o coração? é como metáfora do
silêncio que ocupa o teu lugar
e eu estou no meio de um mapa de medos
a cruzar imagens para definir a estrutura da memória
maria sousa
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quarta-feira, dezembro 01, 2010
como sou incapaz de contar histórias fotografo corpos
muitas vezes como maneira de agarrar o vento
faço construções de quem conhece por dentro a monotonia
e para aumentar o grão
anoto o vermelho que trespassa o olhar vazio
maria sousa
muitas vezes como maneira de agarrar o vento
faço construções de quem conhece por dentro a monotonia
e para aumentar o grão
anoto o vermelho que trespassa o olhar vazio
maria sousa
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