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domingo, agosto 30, 2009

sexta-feira, agosto 28, 2009

Sempre amei por palavras muito mais
do que devia

são um perigo
as palavras

quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada

e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos

um perigo
as palavras

mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero





Alice Vieira




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quarta-feira, agosto 26, 2009

A primeira vez que entrei num poema não fechei a porta.
O poema apanhou tudo. Nunca mais pude sair





Vasco Gato




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segunda-feira, agosto 24, 2009

quando retiramos palavras da rua
dentro da janela fica a cidade

onde não fizemos senão esconder restos de vida

o ponto de fuga a esta paisagem
não passa de um cigarro aceso ao longe

a noite é assim o palco reservado
a um ensaio de coisas por nomear





maria sousa





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sexta-feira, agosto 21, 2009

quinta-feira, agosto 20, 2009

ficar deitado até ao momento em que sentiria aproximar essa coisa que não é nem voz, nem gosto, nem odor, somente uma lembrança muito vaga, vinda de lá dos limites da memória.





Agota Kristof




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terça-feira, agosto 18, 2009

Devo dizer, para ser franca, que já várias vezes tinha acedido a sair com ele. Não para ir ao baile. Ele dizia que não gostava de dançar. Na realidade, não sabia. Mas não me impedia que o fizesse. Eu também não gostava por aí além de dançar(...) Preferia ir até ao campo com ele. Ora me levava a Saint-Germain, ora a Fontainebleau, ora à beira do Sena ou do Marne. Alugávamos um barco. Ele remava. Eu ficava sentada à sua frente sem dizer nada. Ele também não dizia palavra. Olhava para mim enquanto remava e de vez em quando sorria-me. Eu então também sorria para ele. À volta, tomávamos um “panaché”, com umas batatas fritas, numa tasquinha lá do sítio e voltávamos de comboio, ou numa camioneta à pinha, com os braços atafulhados de flores do campo. Flores que cheiravam bem. De regresso a Paris, quase me sentia asfixiar. Gostaria de ter lá ficado, em Athis-Mons ou em Gagny, uma semana inteira deitada na relva ao pé dele, a olhar para o céu.




Raymond Guérin




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segunda-feira, agosto 17, 2009

Logo não mais me restava em que pensar, restavam somente coisas em que não queria pensar. Bem que eu gostaria de chorar um pouco, mas não podia, porque não havia motivo algum para isso.


(...) então paro na calçada, virando as costas a uma loja grande, olho as pessoas entraram e saírem e penso que as que saem deveriam ficar lá dentro e que as que entram deveriam ficar de fora, isso economizaria um bocado de cansaço e movimentos.





Agota Kristof




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domingo, agosto 16, 2009

...É assim o mar. Vou aprendendo com as ondas
a desfazer-me em espuma. Há sempre uma gaivota
que grita quando estou perto, sempre uma asa
entre o céu e o chão da casa. Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja uma pequena diferença entre fusos
horários (...) que só existe
no fundo da pele. Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes.






Rosa Alice Branco




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sábado, agosto 01, 2009

we're all going on a summer holiday
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