Tennessee Williams
quinta-feira, abril 30, 2009
A lei do silêncio é inútil. Quando algo nos persegue na nossa memória ou na nossa imaginação, as leis do silêncio são inúteis, é como fechar uma porta à chave numa casa em chamas na esperança de nos esquecermos que ela está a arder. Mas fugir do incêndio não o apaga. O silêncio em relação a uma coisa só lhe aumenta o tamanho. Cresce e apodrece em silêncio, torna-se maligno.
Tennessee Williams
Tennessee Williams
quarta-feira, abril 29, 2009
Às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros saudáveis, travem um conhecimento mais estreito, também, com a literatura dita doentia, que vos transmitirá decerto, uma cultura edificante. As pessoas saudáveis deviam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com mil raios, para que serve ser saudável?
Robert Walser
Robert Walser
segunda-feira, abril 27, 2009
sábado, abril 25, 2009
25 de Abril, Sempre!
Cada dia tenho menos uma letra,
uma boca e a mão para a dizer.
Fui colhendo a noite, palavras surdas,
o silêncio que a morte continua
sob a pele da madrugada.
Cada dia tenho menos um coração,
menos uma noite. Resta-me a memória
de abril dentro um copo de esquecimento,
o fundo da liberdade
que alguém bebeu de nós:
a canção morena da alegria,
o cravo ao rubro de fundir a paz.
Menos uma boca, uma criança
alada. Menos uma cidade onde a esperança
se cola ao rosto. Os meus passos presos
ao chão são menos o olhar que a manhã
oferece. Mas era uma vez e aconteceu
um dia, em todos os outros desse dia,
por muito tempo e ainda agora:
acordar, pôr o café na chávena
e barrar o pão com a liberdade.
Rosa Alice Branco
Cada dia tenho menos uma letra,
uma boca e a mão para a dizer.
Fui colhendo a noite, palavras surdas,
o silêncio que a morte continua
sob a pele da madrugada.
Cada dia tenho menos um coração,
menos uma noite. Resta-me a memória
de abril dentro um copo de esquecimento,
o fundo da liberdade
que alguém bebeu de nós:
a canção morena da alegria,
o cravo ao rubro de fundir a paz.
Menos uma boca, uma criança
alada. Menos uma cidade onde a esperança
se cola ao rosto. Os meus passos presos
ao chão são menos o olhar que a manhã
oferece. Mas era uma vez e aconteceu
um dia, em todos os outros desse dia,
por muito tempo e ainda agora:
acordar, pôr o café na chávena
e barrar o pão com a liberdade.
Rosa Alice Branco
sexta-feira, abril 24, 2009
quinta-feira, abril 23, 2009
quarta-feira, abril 22, 2009
estremeço desde o princípio do meu rosto
desde o momento em que sorri e me sorriram
e é nesse lugar ínfimo que suspendo todas as palavras
que fecho os olhos e sinto a frescura de todas as águas
o oceano que cessa e atende o esvoaçar da primavera
é a primeira primavera de todos os outonos
é aqui que em silêncio se bordam os calendários
dias entre dias e sobre dias e as memórias que escapam
e não mais se alcançam se não nos tornamos menores
– no futuro não há esquecimento nem segredos
cada coração guarda apenas o que for mais comum
Vasco Gato
desde o momento em que sorri e me sorriram
e é nesse lugar ínfimo que suspendo todas as palavras
que fecho os olhos e sinto a frescura de todas as águas
o oceano que cessa e atende o esvoaçar da primavera
é a primeira primavera de todos os outonos
é aqui que em silêncio se bordam os calendários
dias entre dias e sobre dias e as memórias que escapam
e não mais se alcançam se não nos tornamos menores
– no futuro não há esquecimento nem segredos
cada coração guarda apenas o que for mais comum
Vasco Gato
sábado, abril 18, 2009
Etiquetas: Os vídeos do planeta lebre
sexta-feira, abril 17, 2009
Este é o tempo todo que me falta
e nem é muito nem pouco.
De mim direi o que deixarem
as falas que flutuam entre mim.
Palavras não se repetem
nem o verso sai do sítio em si
Repousa muito aí, até esquecer.
A morada é nesta confluência
do que digo e aquilo que farei
depois e antes de não saber
falar
Luísa Neto Jorge
e nem é muito nem pouco.
De mim direi o que deixarem
as falas que flutuam entre mim.
Palavras não se repetem
nem o verso sai do sítio em si
Repousa muito aí, até esquecer.
A morada é nesta confluência
do que digo e aquilo que farei
depois e antes de não saber
falar
Luísa Neto Jorge
quarta-feira, abril 15, 2009
terça-feira, abril 14, 2009
segunda-feira, abril 13, 2009
sábado, abril 11, 2009
Etiquetas: Os vídeos do planeta lebre
sexta-feira, abril 10, 2009
Nesta brisa quase suave
de plantas já anoitecidas
quase te toco entre as regas,
e entristeço.
A tua ausência é tão real
como os vastos campos de girassóis
secos, envelhecidos, quase mortos.
Alugo a voz e a expressão
a par de todos os espaços
deste lugar que se inicia.
Tudo isto é simples:
tenho o coração desarrumado.
Vem.
Filipa Leal
de plantas já anoitecidas
quase te toco entre as regas,
e entristeço.
A tua ausência é tão real
como os vastos campos de girassóis
secos, envelhecidos, quase mortos.
Alugo a voz e a expressão
a par de todos os espaços
deste lugar que se inicia.
Tudo isto é simples:
tenho o coração desarrumado.
Vem.
Filipa Leal
quinta-feira, abril 09, 2009
quarta-feira, abril 08, 2009
terça-feira, abril 07, 2009
Eu disse: quem pôs aqui este rio?
Alguém tinha desenhado na paisagem
um cenário para a nossa história.
Manchas inteiras de urze, papoilas,
giestas. Até se disse em Terena
que Abril não vinha assim tão verde
há muito tempo. Sim, tinha chovido muito
nesse ano, mas nada esteve por acaso,
nem o céu de manhã cedo nos castelos
com a erva a crescer dentro e fora das muralhas,
nem sequer a nossa primeira noite, aquela
em que esperaram por mim noutro lugar.
Sozinho, sem outra defesa que não fosse
a minha própria solidão, eu estive onde tu
me pudesses encontrar. E depois subimos juntos
a rua molhada. E já chovia por Abril sem o sabermos.
Rui Pires Cabral
Alguém tinha desenhado na paisagem
um cenário para a nossa história.
Manchas inteiras de urze, papoilas,
giestas. Até se disse em Terena
que Abril não vinha assim tão verde
há muito tempo. Sim, tinha chovido muito
nesse ano, mas nada esteve por acaso,
nem o céu de manhã cedo nos castelos
com a erva a crescer dentro e fora das muralhas,
nem sequer a nossa primeira noite, aquela
em que esperaram por mim noutro lugar.
Sozinho, sem outra defesa que não fosse
a minha própria solidão, eu estive onde tu
me pudesses encontrar. E depois subimos juntos
a rua molhada. E já chovia por Abril sem o sabermos.
Rui Pires Cabral
segunda-feira, abril 06, 2009
as árvores estão noivas
A senhora Rosa e o seu filho Luís tiveram de deixar, para sempre, a sua casinha de aldeia. Foi num dia destes de Primavera em que, no dizer da senhora Rosa, o tempo estava "macio como seda". Aliás, ela nunca dizia: "Está bom tempo" ou está "mau tempo", mas sim: "O tempo está a ser brandinho" quando, pela manhã,o Sol espreitava, tímido, entre as nuvens, ou: "O tempo desabafa", quando chovia a potes. E sempre que dizia "O tempo está macio como seda",isso significava que não havia calor a mais, a claridade da luz não feria os olhos e a aragem soprava leve como o fru-fru das sedas. E quando as árvores de fruto se cobriam abundantemente de flores brancas e rosas, ela avisava: "Estão noivas!" E depois, quando se vergavam sob o peso dos frutos ainda verdes, interrogava:
"Como é que estas pobres árvores vão aguentar com tanta filharada?"
Era assim a senhora Rosa, mãe de Luís.
Ilse Losa
A senhora Rosa e o seu filho Luís tiveram de deixar, para sempre, a sua casinha de aldeia. Foi num dia destes de Primavera em que, no dizer da senhora Rosa, o tempo estava "macio como seda". Aliás, ela nunca dizia: "Está bom tempo" ou está "mau tempo", mas sim: "O tempo está a ser brandinho" quando, pela manhã,o Sol espreitava, tímido, entre as nuvens, ou: "O tempo desabafa", quando chovia a potes. E sempre que dizia "O tempo está macio como seda",isso significava que não havia calor a mais, a claridade da luz não feria os olhos e a aragem soprava leve como o fru-fru das sedas. E quando as árvores de fruto se cobriam abundantemente de flores brancas e rosas, ela avisava: "Estão noivas!" E depois, quando se vergavam sob o peso dos frutos ainda verdes, interrogava:
"Como é que estas pobres árvores vão aguentar com tanta filharada?"
Era assim a senhora Rosa, mãe de Luís.
Ilse Losa
sábado, abril 04, 2009
sexta-feira, abril 03, 2009
Dizer-te, meu amigo,
que, à uma da manhã
e desta noite,
está lindo o nevoeiro
que um manto de sossego
assim inteiro
eu desejava dar-te
- e ter comigo.
Enviava-te um frasco,
se pudesse,
fechado em carta azul,
ou por fax de sol
(não fora o medo que o sol
o desfizesse)
Assim, mando daqui
esta espessura
de cheiro muito branco
e muito belo:
um manto de ternura
dobado num novelo,
que chegue
até aí.
Ana Luísa Amaral
que, à uma da manhã
e desta noite,
está lindo o nevoeiro
que um manto de sossego
assim inteiro
eu desejava dar-te
- e ter comigo.
Enviava-te um frasco,
se pudesse,
fechado em carta azul,
ou por fax de sol
(não fora o medo que o sol
o desfizesse)
Assim, mando daqui
esta espessura
de cheiro muito branco
e muito belo:
um manto de ternura
dobado num novelo,
que chegue
até aí.
Ana Luísa Amaral