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quinta-feira, janeiro 05, 2017

CONTRA-CASA

É justamente a casa que me derruba. Não saber dela nem onde procurar. Nem ter pés, nem mãos, nem coração, nem dentes já para a encontrar.
Desistir dela.
Não me poder acamar.
O quarto.
A cama.
Os meus livros separados de mim e todas as tragédias que trago comigo.
Descansar em bolor. Tossir à noite.

A cama não tem tecto. Canto-me para embalar enquanto o vento. Enquanto o mistério.
Tudo ocupado.
Tudo fora.

Não sair pela janelíssima é regra imposta pela constituição da casa. De mim para o horror disto. Para os outros. Eu e a tentativa.
A casa derruba em qualquer que seja a instância.

            Estilhaços.
Casa é o que resta.
O que acaba por acontecer.



Patrícia Baltazar



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