1988, CHET BAKER
Prometeu que tocaria My
Funny Valentine como nunca
o fizera. E foi, também na voz,
verdade (a verdade é sempre
uma coisa muito triste;
faltavam-lhe duas semanas para morrer).
Comprei o disco quase vinte anos
depois, e só por difícil acaso
o fiz naquela cidade, com a
mesma ou nenhuma vontade de morrer,
agora que volta a dizer "Stay
little valentine" e a chuva torna
as bicicletas uma metáfora evitável,
contrária à ferrugem do que sinto.
Sim, é isso: ninguém nos espera
- e nem todos sabemos voar, sofrer,
cantar assim o desconforto.
Nada deveria ser tão triste,
até porque nada deveria ser.
Mas não me roubem, por favor, esta canção.
Manuel de Freitas
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