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terça-feira, abril 26, 2011

Lacrima corpus dissolvens

às vezes apresenta-se
um animal

coberto de penugem e pó
quer morar comigo
deixa o ar
frio
enche o ar
de um leve fumo cinzento
enquanto passa
leva uma mala com obscenos objectos do passado e exibe-os sem vergonha, cruel
eu desmancho palavras sobre ele como se cantasse uma canção antiga

mas esse animal
(que não é mesmo animal mas criatura estranha,
corpo feito de escuridão e lágrimas)

torna-se milhares de gotas microscópicas que eu respiro
como se fosse vírus
e enche meu peito de um espaço vazio e amargo
eu tento deitá-lo pela boca fora, cuspi-lo,
mas só sai pelos olhos quando já é salgado

acontece assim,
às vezes.




Celeste Wladyka




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1 Comments:

Blogger dowhile said...

Às vezes? Melhor do que sempre. Melhor do que nunca. Se não dói, não foi (ou é). Deixar doer. Até passar. E voltar a doer.

27/4/11 12:03  

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