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terça-feira, fevereiro 19, 2008

traduçao caseira da lebre


Veste uma camisa limpa antes de morrer, disseram alguns russos.
Por favor, nada com baba, nódoas de ovo, sangue
suor , esperma.
Queres-me limpa, Deus,
por isso vou tentar obedecer.

O chapéu com que me casei,
servirá?
Branco, largo com um pequeno bouquet de flores falsas.
É antiquado, com tanto estilo como um percevejo,
mas fica bem morrer em algo nostálgico.


E vou levar
a minha bata de pintar
lavada vezes sem conta, claro
manchada com cada cozinha amarela que pintei.
Deus, não te importas que eu leve todas as minhas cozinhas?
Elas contêm o riso da família e a sopa.


Como soutien
(precisamos de o mencionar?)
O preto acolchoado que irritava o meu amante
quando eu o despia.
Dizia “para onde foi tudo?”

E levarei
a saia de grávida do meu nono mês
uma janela para a barriga do amor
que deixou cada bebé sair como uma maçã,
as aguas a rebentar no restaurante,
fazendo uma casa barulhenta onde eu gostaria de morrer.

Como roupa interior escolherei algodão branco,
as cuecas da minha infância,
pois era uma máxima da minha mãe
que as meninas boas apenas usavam algodão branco.
Se a minha mãe tivesse vivido para o ver
teria posto um cartaz de “Procura-se” nos correios
para as pretas, vermelhas, azuis que eu usei.
No entanto, seria perfeitamente agradável para mim
morrer como uma boa menina
a cheirar a Clorox e a Duz.
Tendo dezasseis-anos-nas-cuecas
morreria cheia de perguntas.



Anne Sexton



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5 Comments:

Blogger Menina Limão said...

é tão bom, o poema. a anne sexton é matéria por descobrir obsessivamente.

19/2/08 03:03  
Blogger menina tóxica said...

muito bom, mesmo. é lindo este poema. obrigada pela tradução menina lebre :)

19/2/08 09:38  
Blogger bruno said...

brilhante.
(muito boa tradução, lebre)

19/2/08 15:54  
Blogger Cometa 2000 said...

bom dia lebre,

já tinha lido este poema aqui há dias mas só hoje com mais atenção. não conheço anne sexton. fiquei com vontade de conhecer melhor...

gosto muito da ironia nas relações casamento, amante e sua mãe.
e gosto também das imagens vastamente ternas de família e maternidade. quando chegar o tempo, levarei algum tipo de bata também.

bom fim de semana.

:)

22/2/08 11:13  
Blogger Unknown said...

Gostei. Dei com esta poeta num livro que ando a ler... matou-se, não foi?

23/2/08 11:38  

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