Mulher à janela
Está afundada na sua janela
contemplando as brasas do anoitecer, ainda possível.
Tudo se consumou no seu destino, inalterável a partir de agora,
tal como o mar num quadro,
e no entanto o céu continua a passar com as suas angélicas procissões.
Nenhum pato selvagem interrompeu o voo para oeste;
lá longe continuarão a florescer as ameixoeiras brancas, como se nada fosse,
e alguém há-de erguer a sua casa algures
sobre a poeira e o fumo de outra casa.
Inóspito este mundo.
Áspero este lugar de nunca mais.
Por uma fissura do coração sai um pássaro negro e é noite
-ou será um deus caído agonizando sobre o mundo?-,
mas ninguém o viu, ninguém sabe,
nem aquele que acredita que dos laços desfeitos nascem asas belíssimas,
os nós instantâneos do acaso, a aventura imortal,
embora cada pegada encerre com um selo todos os paraísos prometidos.
Ela ouviu em cada passo a condenação.
Agora não é mais do que uma mulher imóvel, alheada, na sua janela,
a simples arquitectura da sombra asilada na sua pele,
como se alguma vez uma fronteira, um muro, um silêncio, um adeus,
tivessem sido o verdadeiro limite,
o abismo final entre uma mulher e um homem.
Olga Orozco
Está afundada na sua janela
contemplando as brasas do anoitecer, ainda possível.
Tudo se consumou no seu destino, inalterável a partir de agora,
tal como o mar num quadro,
e no entanto o céu continua a passar com as suas angélicas procissões.
Nenhum pato selvagem interrompeu o voo para oeste;
lá longe continuarão a florescer as ameixoeiras brancas, como se nada fosse,
e alguém há-de erguer a sua casa algures
sobre a poeira e o fumo de outra casa.
Inóspito este mundo.
Áspero este lugar de nunca mais.
Por uma fissura do coração sai um pássaro negro e é noite
-ou será um deus caído agonizando sobre o mundo?-,
mas ninguém o viu, ninguém sabe,
nem aquele que acredita que dos laços desfeitos nascem asas belíssimas,
os nós instantâneos do acaso, a aventura imortal,
embora cada pegada encerre com um selo todos os paraísos prometidos.
Ela ouviu em cada passo a condenação.
Agora não é mais do que uma mulher imóvel, alheada, na sua janela,
a simples arquitectura da sombra asilada na sua pele,
como se alguma vez uma fronteira, um muro, um silêncio, um adeus,
tivessem sido o verdadeiro limite,
o abismo final entre uma mulher e um homem.
Olga Orozco
4 Comments:
Lost in translation...
Vim aqui através do blogue Insónia que elege este espaço. O Henrique tem razão. Gostei muito. Virei mais vezes.
uma vez mais obrigado pela poesia que revelas!
é um prazer vir aqui.
obrigada:)
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