O Luna Parque
Recordo-me perfeitamente. Era esplêndido, ir aos sábados ao Luna-Parque com a família.
Logo à entrada havia uma série de barracas de tiro ao alvo, com meninas simpáticas a chamar pela gente. Foi aí que o primo Rodrigo, ao disparar com o canhão de 12, se enganou e ficou sem a cabeça.
Havia também carrinhos com amendoins, sorvetes e aquele algodão de adoçar que nos deixava todos lambuzados. Sopeiras e magalas aos pares, de mão dada, a olhar para tudo. Vejam lá há quanto tempo isto foi!
E a Montanha Russa! Ah, a Montanha Russa, como eu gostava de andar nela! Um sábado íamos todos na Montanha Russa. No meio do entusiasmo, o tio Leocádio deu um empurrão à avó Amália, lá mesmo no alto da maior subida. Sem querer. Esborrachou-se toda cá em baixo, pobre avózinha. Tivemos pena.
Era realmente divertido. Nessas tardes fartava-me de comer tremoços e até bebia o meu pirolito.
Havia também a Grande Roda. Lá de cima via-se o Parque todo, ouvia-se a musiquinha que nos chegava como um som de distância. Era bonito. Certa vez, quando estávamos já na segunda volta, a tia Clarinda inclinou-se para ver melhor e ficou entalada nas engrenagens. Deu um certo trabalho a tirar dali os restos, coitados dos empregados.
No Comboio Fantasma foi-se o tio Geraldo. À saída, quando as portas se abriram e nos libertámos daquela escuridão medonha onde toda a gente dava gritinhos, demos por falta dele. O meu pai disse-me discretamente que devia ter sido um esqueleto que o apanhou. A verdade é que nunca mais o vimos.
E o papagaio que tirava a sina, lembram-se? Metiam-se dez tostões numa caixinha e o papagaio lá ia com o bico, zás, buscar a nossa sina. Como era engraçado!
Mas divertido, divertido mesmo, era o Grande Chicote. Levava-se cada safanão! Os carros batiam uns contra os outros e fartávamo-nos de rir. O Zézito, o filho da tia Josefa, levou um safanão tal que partiu a espinha. Era bom. Que saudade!
Depois comiam-se também umas farturas e eu até tinha direito a um copinho de abafado.
Quando chegava Outubro, com a melancolia das primeiras chuvas e as folhas douradas começando a cair das árvores, o Luna-Parque fechava e eu ficava já a pensar no ano seguinte.
Então o meu pai fazia as contas. Além de nós ali em casa, ainda sobrava o tio Inácio do Ministério, o primo Jerónimo que estava no Brasil, a prima Josefina que depois casou com o Clarimundo da Fonseca, devem estar lembrados, e mais alguns. A famíla, por esses tempos, era grande, graças a Deus.
Há quantos anos! Como o tempo passa!
Mário-Henrique Leiria
Recordo-me perfeitamente. Era esplêndido, ir aos sábados ao Luna-Parque com a família.
Logo à entrada havia uma série de barracas de tiro ao alvo, com meninas simpáticas a chamar pela gente. Foi aí que o primo Rodrigo, ao disparar com o canhão de 12, se enganou e ficou sem a cabeça.
Havia também carrinhos com amendoins, sorvetes e aquele algodão de adoçar que nos deixava todos lambuzados. Sopeiras e magalas aos pares, de mão dada, a olhar para tudo. Vejam lá há quanto tempo isto foi!
E a Montanha Russa! Ah, a Montanha Russa, como eu gostava de andar nela! Um sábado íamos todos na Montanha Russa. No meio do entusiasmo, o tio Leocádio deu um empurrão à avó Amália, lá mesmo no alto da maior subida. Sem querer. Esborrachou-se toda cá em baixo, pobre avózinha. Tivemos pena.
Era realmente divertido. Nessas tardes fartava-me de comer tremoços e até bebia o meu pirolito.
Havia também a Grande Roda. Lá de cima via-se o Parque todo, ouvia-se a musiquinha que nos chegava como um som de distância. Era bonito. Certa vez, quando estávamos já na segunda volta, a tia Clarinda inclinou-se para ver melhor e ficou entalada nas engrenagens. Deu um certo trabalho a tirar dali os restos, coitados dos empregados.
No Comboio Fantasma foi-se o tio Geraldo. À saída, quando as portas se abriram e nos libertámos daquela escuridão medonha onde toda a gente dava gritinhos, demos por falta dele. O meu pai disse-me discretamente que devia ter sido um esqueleto que o apanhou. A verdade é que nunca mais o vimos.
E o papagaio que tirava a sina, lembram-se? Metiam-se dez tostões numa caixinha e o papagaio lá ia com o bico, zás, buscar a nossa sina. Como era engraçado!
Mas divertido, divertido mesmo, era o Grande Chicote. Levava-se cada safanão! Os carros batiam uns contra os outros e fartávamo-nos de rir. O Zézito, o filho da tia Josefa, levou um safanão tal que partiu a espinha. Era bom. Que saudade!
Depois comiam-se também umas farturas e eu até tinha direito a um copinho de abafado.
Quando chegava Outubro, com a melancolia das primeiras chuvas e as folhas douradas começando a cair das árvores, o Luna-Parque fechava e eu ficava já a pensar no ano seguinte.
Então o meu pai fazia as contas. Além de nós ali em casa, ainda sobrava o tio Inácio do Ministério, o primo Jerónimo que estava no Brasil, a prima Josefina que depois casou com o Clarimundo da Fonseca, devem estar lembrados, e mais alguns. A famíla, por esses tempos, era grande, graças a Deus.
Há quantos anos! Como o tempo passa!
Mário-Henrique Leiria
4 Comments:
humor sádico!! gosto!!! :)
Gosto imenso de consumar estas imagens em conjunto com estes textos, ou poesias. ;)
brigada:)
lol, eu adoro isto. contos do gin-tónico e novos contos do gin. deliciosamente sádicos.
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