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sábado, fevereiro 11, 2006

VIDRO

I

Quem vive
nas mansardas
tem:
a) o orvalho
mais cedo,
as mansas, árduas
gotas
de aguardente
nocturna
no cálice de vidro
[ou luz?]
que é o dia
e ergue-o
primeiro

II

que os vizinhos;
b) a madrugada
só para si
alguns instantes
antes
da luz
[ou o vidro?]
se partir
nas camadas inferiores
do prédio;
c) a chuva
mais perto
desse deserto
interior

III

de cada um;
d) o musgo, uma luva
que cinge
múltiplos dedos
argilosos,
ardilosos abismos
para insectos
na orografia
brusca
do telhado;
e) fulgores minúsculos
que acendem
a sílica incrustada
na argila, síli-

IV

cintilando
como um céu
de estrelas
diurnas
à flor das telhas:
a janela
reflecte-o [luz
de vidro para vidro]
e intensifica o dia
quando
nas camadas inferiores
do prédio
é ainda
noite.


Carlos de Oliveira



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1 Comments:

Blogger lebredoarrozal said...

eu perco-me nas palavras do carlos de oliveira:)

14/2/06 23:10  

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