Não há rainhas, não.
Quando se fala em mitos, é sempre Artur
ou D. Sebastião, um cheio de pormenores,
o outro embrenhado demais por infiéis
e ido em brumas
Nâo há rainhas não
Até Henrique VIII com muito mais élan do
que Isabel: mandou cortar cabeças como couves
e expandiu albiónico quintal.
A filha pouco fez, que já tinha o país
quase estrumado, pupila em oceano
e abolidas bulas - a prima: um pormenor
tão en passant como o Tomás
(depois canonizado)
Que Maria da Escócia
não tem graça nenhuma, se comparada
ao nosso D. Diniz: como a das rosas,
não plantou pinhais,
não tinha olho ferrado no futuro
nem domou as areias solitárias
ao som de Ai Deus e u é
(Não fora a inconstante Guinevere,
Artur: homem feliz
E a D. Sebastião serviu-lhe ser solteiro
sem rainha chorosa (ou exultante) com Alcácer-Quibir
- além disso razão de se extinguir
dinastia de Aviz)
Não há rainhas, não.Até Vitória, na forma de mandar,
foi mais que homem:
manias do império,
toucados opressores e verso
espartilhado e de costumes
Mas rainhas a sério:
reinado em feminino e língua nova,
nariz torcido à guerra no saber ancestral
de entranhas próprias,
não me lembro nenhuma
Não há rainhas, não.
Quando se fala em mitos,
é sempre Artur ou D. Sebastião.
O resto: uma Avalon
ameaçando brumas
Ana Luísa Amaral