sexta-feira, outubro 16, 2020
quinta-feira, outubro 15, 2020
segunda-feira, outubro 12, 2020
Os meus olhos acolhem um bando
de reflexos, invisíveis a horas
mais sombrias, na luz aberta
deste fim de Junho. Vêm ao meu
encontro os grandes plátanos do
jardim, ameaçados pelas
prováveis escavações do Metro.
Por ora ainda matizam os rostos
dos passantes e a penumbra das
janelas. No passeio das paragens
de autocarro para Ermesinde,
Areosa e outros debruns urbanos,
o volume dos corpos recorta-se
quadriculado pela luz. Seios e
estômagos transferem-me para
um estranho país de aleitamento e
digestões. Sigo num culpado
exílio a dobrar a esquina e inclino
os passos para o Satélite,
onde
regresso ao aroma navegável
do cimbalino.
sexta-feira, outubro 09, 2020
A TAREFA DE ESCREVER
Encherás as palavras de ti mesmo,
encherás as palavras de palavras,
encherás com as coisas as palavras:
ficam sempre vazias.
esvaziarás as palavras de ti mesmo,
esvaziarás as palavras de palavras,
esvaziarás de coisas as palavras:
fica sempre o vazio.
Onde estarás tu mesmo,
onde as coisas, onde as palavras?
Encherás as palavras de ti mesmo,
encherás as palavras de palavras,
encherás com as coisas as palavras:
ficam sempre vazias.
esvaziarás as palavras de ti mesmo,
esvaziarás as palavras de palavras,
esvaziarás de coisas as palavras:
fica sempre o vazio.
Onde estarás tu mesmo,
onde as coisas, onde as palavras?
Aurora Bernárdez
tradução maria sousa
É tão triste, a casa. Fica como a deixaram,
Afeita ao conforto dos últimos a partir,
Como que para os reaver. Mas, despojada
De gente a quem agradar, vai definhando
Sem alma para esquecer o roubo
E recordar outra vez o que era o princípio,
Um ensaio radioso das coisas como deviam ser,
Há muito malogrado. Bem se vê como foi:
É só olhar para os quadros e talheres.
As músicas no banco do piano. Aquela jarra.
Philip Larkin