quarta-feira, fevereiro 29, 2012
terça-feira, fevereiro 28, 2012
da noite dizes que a respiração é hábito
uma ruga a imitar a sombra nasce da cor
que se define em ausências
apago o tempo na cama por fazer
soletro-te a riscar manhãs da noite
há que respirar com as janelas abertas de par em par
(cheiram ao verde escuro das arvores)
Maria Sousa
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uma ruga a imitar a sombra nasce da cor
que se define em ausências
apago o tempo na cama por fazer
soletro-te a riscar manhãs da noite
há que respirar com as janelas abertas de par em par
(cheiram ao verde escuro das arvores)
Maria Sousa
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Etiquetas: velharias
sexta-feira, fevereiro 24, 2012
Retrato de mulher
Tem de ser à escolha.
Tem que mudar para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar.
Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, rasos de água sem motivo.
Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo.
Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um.
Ingénua, mas a melhor a aconselhar.
Frágil, mas carregará o fardo.
Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter.
Lê Jaspers e revistas femininas, mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um pardal com a asa partida,
o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e distante,
o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka.
Para onde corre assim, não estará cansada?
De maneira nenhuma, um pouco, muito, não importa.
Ou o ama, ou teima em amá-lo.
Para o bem, para o mal e por amor de Deus.
Wislawa Szymborska
Tem de ser à escolha.
Tem que mudar para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar.
Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, rasos de água sem motivo.
Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo.
Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um.
Ingénua, mas a melhor a aconselhar.
Frágil, mas carregará o fardo.
Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter.
Lê Jaspers e revistas femininas, mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um pardal com a asa partida,
o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e distante,
o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka.
Para onde corre assim, não estará cansada?
De maneira nenhuma, um pouco, muito, não importa.
Ou o ama, ou teima em amá-lo.
Para o bem, para o mal e por amor de Deus.
Wislawa Szymborska
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terça-feira, fevereiro 21, 2012
sábado, fevereiro 18, 2012
não saio antes
que tudo esteja pronto
a loiça a escorrer na cozinha
o aspirador cheio
a varanda lavada pelo dia
o rádio em off
nessa hora em que
a noite se aproxima devagar
do meu rosto
escrevo poema nenhum
falta-me língua
sento-me num banco de jardim
mais próximo
onde (que perfeição)
nada acontece
Miguel-Manso
que tudo esteja pronto
a loiça a escorrer na cozinha
o aspirador cheio
a varanda lavada pelo dia
o rádio em off
nessa hora em que
a noite se aproxima devagar
do meu rosto
escrevo poema nenhum
falta-me língua
sento-me num banco de jardim
mais próximo
onde (que perfeição)
nada acontece
Miguel-Manso
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