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quinta-feira, maio 31, 2007

por trás dos pássaros está um quadro a estalar
e eu sozinha vestida de borboletas
sei que recorto as frases onde abundam
os tons com que escrevo “adeus”

estou aqui para marcar as palavras
da cor de noites sobre noites

e nada mais que uma sombra a atravessar
os fragmentos de um corpo a desfiar-se
na presença de ausentes

fugir num entardecer a copiar manchas
que se abrem de par em par a
palavras como “sempre”


Maria Sousa


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quarta-feira, maio 30, 2007

Hoje é dia de tiques nervosos
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terça-feira, maio 29, 2007

amanhã é dia de tiques nervosos
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A Lulu andava na rua com os olhos de toda a gente pegados às diversas partes do seu corpo fresquíssimo, tão radiante por isso lhe acontecer, que seria uma pena alguém dizer-lhe qualquer coisa de razoável. Ninguém, de resto, pensava nisso, e até as pessoas de maior moralidade perdoavam a provocação pela beleza do espectáculo que oferecia aquela rapariga tão agradável, toda coberta de olhos.
Ela, quando chegava a casa, despegava-os com imenso cuidado e metia-os numa caixinha de cartão, espetados em alfinetes como se estivesse fazendo uma colecção de borboletas.
Correu tudo bem até ao dia em que a Lulu já não sabia o que fazer àquela porção de olhos que na rua se pegavam aos seu corpo fresquíssimo, e o numero de caixas era tal que resolveu ficar em casa para escolher, com paciência, qual seria afinal, daqueles todos, o predilecto. Não foi um trabalho fácil. Ia destapando as caixinhas de cartão e aconchegando os que estavam mal arrumados enquanto comparava com certo comprazimento, os seus entusiasmos e simpatias, até que viu luzir mais apetecivelmente certo olho preto que devia ter pertencido a sobrancelha daquelas aveludada e tudo.
Ficou um tanto comovida e até se tomou dum tal ou qual constrangimento quando deu conta dessa sensação, mas em breve se refez. Arrancou com muito cuidado o alfinete finíssimo que tinha espetado para o guardar e pô-lo em frente de si, um dia inteiro, a mira-la sozinho, cada vez mais fresca.
(…)
O olho preto luzia de tal maneira que se via mesmo que não cabia em si de contente. Como não coubesse em si mesmo e parecesse estar resolvido a aproveitar aquela ocasião para se pegar ao mesmo tempo , a todas as particularidades daquele corpinho extraordinário, o olho preto rebentou. Fê-lo com tanta violência que encheu de nódoas o vestido claro da Lulu fresquíssima, o que foi uma pena.


António Pedro


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sábado, maio 26, 2007

Standing in the way of controlPhoto Sharing and Video Hosting at Photobucket

quinta-feira, maio 24, 2007

Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido


Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita


Lídia Jorge


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quarta-feira, maio 23, 2007

Ninguém muda. Não sou só eu que não mudei. Nin-guém-mu-da, ouviste? Nin-guém. Eu não sabia que gostava de viajar porque nunca tinha viajado, como agora ainda não sei se gosto de outras coisas que nunca fiz. Mas isso não quer dizer que tenha mudado. Somos os mesmos, somos sempre os mesmos.


Dulce Maria Cardoso



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terça-feira, maio 22, 2007

Com os teus restos, com a tua música
faço amor. Eis o poema - o nosso filho.
Assim a matéria se fecunda
uma efusão, um comprimento de onda
a impressão de um polegar numa clavícula -

Raciocino mas nada me conforta
tu não existes e eu não sobrevivo.



Teresa Balté



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sábado, maio 19, 2007

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sexta-feira, maio 18, 2007

apagado o que desta casa eram vozes
desenhei-te com o som dos meus passos no soalho
na parede pintei uma cama

com tudo preparado para o resto dos objectos

ficou a cicatriz duma despedida
um pedaço de noite que me sabe ausente


Maria Sousa


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quarta-feira, maio 16, 2007

Um longínquo adeus


Falámos, melancólicos, às três da madrugada,
tristes, não demasiado bêbedos,
naquele ruidoso bar para noctívagos.
Curiosamente, insistimos no tema da morte,
e recordou-me outras conversas, outro tempo,
embora neste momento, fosse uma morte próxima - muito
pouco literária -
sórdida e tangível como as manchas da toalha.
Na porta ao sair ficámos sérios,
sabíamos que de novo nos separávamos
e fingimos esquecê-lo com uma expressão banal.
Hoje, não sei porquê, voltam essas imagens
e gostaria de reviver aquela noite,
nem melhor nem pior, o que foi, simplesmente.
Reter por um momento, só por um momento,
a humidade dos teus olhos, o rito do teu sorriso,
o que me chega como uma pintura desbotada,
ou como, ao despedir-nos, as gotas de chuva no vidro do carro,
a desenharem um caminho, a resvalarem, a apagarem-se.



Juan Luis Panero



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terça-feira, maio 15, 2007

tenho-te na pele como voz
que ainda não tive tempo de despir

faço uma pausa, escolho um vestido novo
mas mesmo assim fico um adereço imperfeito
no teu esquecimento


Maria Sousa


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sexta-feira, maio 11, 2007

Mãezinha, ganhei um Oscar
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obrigada Abbie
tradução caseira da lebre


Seria agradável estar bêbeda:
infiel à minha língua e mãos,
desistindo de limites
pelo heróico gin.
Bêbeda de morte
é a expressão em que estou a pensar,
insensata,
nem fria nem quente,
Sem cabeça ou pé.
Estar bêbeda é ser íntima de um louco
vou tenta-lo brevemente



Anne Sexton


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quinta-feira, maio 10, 2007

a criança pensa que podia não ser a mesma criança
a criança pensa se eu não tivesse nascido da minha mãe não era eu
imagina os seus olhos a serem outros olhos
a minha boca podia ser muito pequenina
para só comer pétalas de violeta
as violetas são como as amora, deitam nódoas nos vestidos
(...)


Isabel Aguiar Barcelos


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quarta-feira, maio 09, 2007

Uma aragem, leve depois de um dia
de multo calor. Faltei ao emprego,
não fiz os deveres, não olhei para diante
nem para o lado, não fui
ao supermercado, não fiz
nem refiz abandonos.

Fiz de acaso, de imprevisto, não fui
à janela, não olhei o mar,
hoje, fiz todo o dia,
só isto.


Helga Moreira


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terça-feira, maio 08, 2007

aiaiaiaiaiaiaiaia ......

segunda-feira, maio 07, 2007

A quem deixar o meu guarda-roupa oculto
o guarda-roupa fantasma
de todos os vestidos
que tive e que me abandonaram
os vestidos
que nunca tive e que vesti em segredo
O vestido que veio demasiado cedo
e que nunca me caiu bem
o vestido
que chegou já tarde
para ir à festa
quando eu já tinha adormecido

O vestido de criança
tão igual ao vestido
da primeira boneca
O da menina com o corpete já estreito
que apertava os seios doendo-lhe em casulo
O da adolescente que pressentia o homem
ladrão de túnicas na sesta sufocante

O vestido esquecido
da mulher que sob a sombra
do homem eclipse ocultou-se uma noite
e amanheceu como a lua cheia
surpreendida pela luz na metade do céu

O vestido de guerra rasgado
como bandeira
da mãe partida em dois
para sentir-se inteira

O vestido de luto que não levei para os meus
mortos
que ainda vivem

Os vestidos que alguém me emprestou para sonhar

...Quando chegar a morte também será um vestido
que não verei porque estarei a dormir.



Josefina Plá


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sexta-feira, maio 04, 2007

Ando muito completo de vazios.


Manoel de Barros


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quinta-feira, maio 03, 2007

Legenda
para aquela estrela
azul
e fria
que me apontaste
já de madrugada:
amar
é entristecer
sem corrompermos
nada.



Carlos de Oliveira



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